Jessé Souza

Sobre o tenue fio 03 10 2014 109

Jessé Souza* Se o Estado não conseguiu se organizar, então os bandidos chegaram e mostraram como fazer. E o crime se organizou, se apoderou dos presídios, a partir de onde montaram seus escritórios.  O Estado finge que manda ao manter estrutura apenas evitar fugas e conter motins. A verdade é que as autoridades só mandam do portão para fora, porque dentro dos presídios as organizações comandadas por bandidos perigosos ditam suas leis e ainda comandam a criminalidade do lado de fora do muro e até mesmo em outros estados. Isso é possível porque os bandidos têm acesso fácil a celular com internet. E ainda conseguem introduzir nos presídios tudo o que eles precisam, como drogas, bebidas e outras regalias que muitas vezes os pais de famílias trabalhadores aqui do lado de fora não conseguem pôr em suas casas. Até então, a bandidagem só atacava o cidadão, o empresário e o pai de família. Mas, depois que a organização criminosa ganhou corpo, os bandidos passaram a atacar os políticos. Sinal de que a situação está fora do controle por parte dos poderes constituídos. Ninguém está mais seguro no Estado onde Ronda no Bairro só consegue enfrentar pequenas demandas. Mas existe ainda outro grande perigo: o de o crime se organizar ainda mais e fazer sociedade com outro crime articulado, o do colarinho branco. Se isto ocorrer, teremos uma situação muito mais tenebrosa do que já estamos vivenciando. Todos sabem que o crime do colarinho branco manda em Roraima há certo tempo, organizando licitações, determinando quem deve ou não receber dinheiro dos governos, comandando a política e a compra de voto em tempo de campanha eleitoral. Quando o crime organizado se une de alguma forma com o crime do colarinho branco, surge um poder paralelo, o qual costuma usar os aparelhos do Estado não apenas para se beneficiarem, mas para tirar do caminho quem os incomoda. Já presenciamos, não faz muito tempo, uma experiência dessa, quando a pistolagem deu ordens e os cemitérios clandestinos surgiram. Estamos caminhando sobre um fio tênue, preste a arrebentar. Ninguém mais se sente seguro em Roraima. Se até uma senadora teve seu escritório arrombado e um deputado a casa invadida e agredido junto com sua família, imagine o que o crime pode fazer com o cidadão comum. O mais impressionante disso tudo é que há um silêncio geral de nossos governantes. É como se nada estivesse acontecendo, mesmo que sua classe, a dos políticos, ter sido alvo da bandidagem de uma forma tão vil. Tal comportamento é um indicativo de que estamos caminhando para uma realidade de mais violência. Se os políticos passaram a ser alvo dos bandidos e persiste um silêncio por parte das autoridades, então que nos preparemos para o pior, caso forem mantidos esses mesmos grupos que estão no poder. Só nos restará suplicar a Deus! *Jornalista [email protected]