Parabólica

Parabolica 07 10 2014 117

Bom dia, “A concentração de poder nas mesmas mãos é precisamente a definição de governo despótico. Não será nenhum alívio que estes poderes sejam exercidos por uma pluralidade de mãos e não por uma única” – Thomas Jefferson As eleições em Roraima seguiram a tradição de ser atípica em vários aspectos. Os reflexos da Lei Ficha limpa, por exemplo, em que alguns candidatos tiveram seus registros de candidatura indeferidos, fazendo com que eles recorressem, foram responsáveis para que o resultado oficial do pleito fosse o mais demorado do país, ficando o anúncio dos eleitos para esta segunda-feira. O Estado foi comentário nas análises políticas de grandes emissoras em nível nacional por causa dos “fichas sujas” e notícia por causa da liminar judicial que limitou o valor de saque nas agências bancárias, impedindo movimentação acima de R$10 mil. Embora tenha se repetido a cena de famílias inteiras acampadas durante a noite e madrugada para tentar vender seus votos, que mostra explicitamente o comércio eleitoral, foram 262 mil eleitores indo às urnas exercer o dever de escolher nossos novos representantes. E os números falaram por si só. Para presidente da República, apesar de Aécio Neves (PSDB) ter obtido 43% dos votos, a presidente Dilma Rousseff (PT) demonstrou sua força nos municípios, ao ficar com 33%, contra 18% de Marina Silva (18%). Na disputa ao Governo de Roraima, o eleitor mostrou que quer mudanças. A oposição obteve 55,25% dos votos válidos: Sueli Campos (PP) obteve 38,51%, Chico Rodrigues (PSB) 34,93% e Ângela Portela (PT) 16,74%. E o grupo oposicionista mostrou que vai seguir unida no segundo turno. A disputa para o Senado revelou mais abertamente esse anseio por mudança e o temor que se forme uma oligarquia política, dizendo não a candidatos que estão há anos enraizado no poder e que foram responsáveis por um dos piores governos dos últimos tempos, com o Estado atolado em dívidas e alvo de denúncias de desvios de recursos ou de irregularidades na saúde, educação, segurança, questão fundiária e infraestrutura. Foi este quadro desolador que possibilitou que o ex-vereador Telmário Mota (PDT) conseguisse a única vaga para o Senado, com 41,24% dos votos (96.888), contra 21,33% do deputado federal Luciano Castro (PR) e 20,56% do ex-governador Anchieta Júnior (PSDB). O segundo turno começou a se desenhar ontem, quando a oposição anunciou que seguirá unida na disputa. Isso significa que teremos uma das disputas mais acirradas de todos os tempos, com possibilidade de mais cenas atípicas. Então, que o eleitor se prepare para o que está por vir nestas três semanas antes da nova votação. DECISÃO Um dos fatos visíveis nas eleições deste ano, em Roraima, é que muitos eleitores ainda estavam decidindo o seu voto até o último momento, na fila da seção eleitoral. Houve gente que mudou de candidato ao governo na última hora e muitos que nem sabiam em quem votar para deputado federal. Conversas entre eleitores durante a fila de espera ajudou a decidir muito voto no apagar das luzes. TECNOLOGIA Os esquemas de compra de votos não funcionaram como o planejado por muitos candidatos endinheirados. Com a tecnologia à mão dos eleitores, os mercadores de voto se inibiram em fazer negociações abertamente, como ocorreram em anos anteriores. Aliado a uma ação mais efetiva da Polícia Federal, isso fez muita diferença na reta final do pleito, impedindo um derramamento maior de dinheiro para comprar votos. CONTABILIDADE Na manhã de domingo, nas rodadas de bate-papo nas esquinas das seções eleitorais e onde havia aglomeração prevaleceu uma contabilidade informal sobre a boca de urna. Uns diziam abertamente como conseguiram ganhar de R$100,00 a R$500,00 de candidatos. Outros lamentavam por não terem conseguido nada. E alguns falavam na cara de pau que não votaram neste ou naquele candidato porque o pagamento não ocorreu. Havia até quem cobrasse dinheiro não pago ainda do pleito passado. É mole? CENA Um dos vídeos que mais foi compartilhado nestes dois últimos dias foi o de um bate-boca entre o senador Romero Jucá (PMDB) e a juíza eleitoral Patrícia Oliveira dos Reis, no dia da votação. O parlamentar, em tom áspero, desafiou não só a magistrada de usar de força policial para retirar placas da campanha eleitoral do seu grupo ou impedir que membros da sua coligação entrassem nas seções eleitorais, como também afirmou que, se a Polícia Federal fosse chamada, teria que passar por cima dele. A cena foi gravada por várias testemunhas e o vídeo está circulando via WhatsApp. DESESPERO Quem assistiu às imagens pôde sentir o desespero do senador diante do que já se desenhava no domingo, quando as pessoas estavam se expressando nas urnas. Ele insistia que a Justiça Eleitoral não tinha mandado tirar as propagandas do ex-governador Neudo Campos (PP), cujo nome foi substituído pelo da esposa, Suely Campos. E bateu no peito pelo menos duas vezes para tentar mostrar seu poder ao desafiar a ação da PF e para questionar a magistrada.   ESTRUTURA A instalação de seções eleitorais nas escolas públicas estaduais e municipais serviu para mostrar a falta de estrutura das unidades escolares. Em várias delas, o ar-condicionado não funcionava ou os ventiladores não davam conta de amenizar o calor durante a votação. Bebedouros quebrados, forro com buracos e outros problemas foram constatados pelos voluntários da Justiça Eleitoral.