Jessé Souza

Do lado do avesso 13 11 2014 273

Do lado do avesso Jessé Souza* A situação crítica pela qual passa o Estado de Roraima é resultado de anos de política feita para beneficiar grupos e políticos, e não a sociedade, como se deveria. Tudo é feito para agraciar empreiteiras, empresas de parlamentares, financiadores de campanha, interesses pessoais e para manter o grupo no poder a cada dois anos, quando ocorre eleição. São pouquíssimos os políticos que não enriqueceram ao assumirem mandatos eletivos. A própria evolução dos números na prestação de contas que os candidatos fazem para a Justiça Eleitoral dá para se ter uma ideia do milagre da multiplicação que os políticos fazem ao acumular bens. Toda estrutura de governo é feita para “fazer dinheiro” para alguns poucos, e não para garantir infraestrutura nos municípios e no Estado, atendimento público de qualidade na saúde, educação, segurança pública e outros. A máquina de governo se transforma em máquina caça-níquel, favorecendo esquemas dos mais variados para rapinar os cofres públicos. Vejamos a questão de contratação de mão de obra. Em vez de promover concursos públicos, governo e prefeituras contratam cooperativas e empresas terceirizadas para fornecer trabalhadores aos diversos setores governo, empresas estas que geralmente pertencem a políticos (em nome de testas de ferros), parentes de parlamentares ou aliados. A construção de uma obra, qualquer obra, é decidida não pela importância que ela tem para servir à coletividade, mas a quem vai beneficiar e as porcentagens distribuídas desde a origem da destinação dos recursos, quando grande parte do dinheiro vai parar no bolso de alguém ou de alguns. Quanto maior o valor, mais o esquema se monta em torno de determinada obra. Não há como o Estado de Roraima se manter de pé com tantos achaques aos cofres públicos. O Estado só não faliu, fechou e jogou as chaves fora porque tem o paizão do Governo Federal mantendo, enviando recursos. E é por isso que os políticos se matam para ter a chave dos cofres nas mãos, porque governo significa máquina de fazer dinheiro – dinheiro este que está fazendo falta nas filas de espera dos hospitais públicos e nos presídios que se tornaram depósitos de gente. Enquanto a sociedade sofre com as dívidas do Estado, pagamento de salário atrasado, hospitais sem leitos, sem material e sem remédios, os políticos desonestos vão montando empresas, administrando seus negócios de origem duvidosa, misturando dinheiro público com suas contas particulares, ou seja, usando o Estado como se fosse um bem particular. E a Justiça, um monstrengo lento pela própria natureza, só consegue punir os políticos corruptos quase 20 anos depois, quando eles já se lambuzaram com dinheiro público e fizeram pouco caso das instituições sérias deste país. E outros sequer são atingidos pelas leis, porque eles são a própria lei, se autoproclamando legítimos donos de Roraima, imperadores acima de tudo e de todos, do bem e do mal. *Jornalista [email protected]