Opinião

Opiniao 01 12 2014 338

Toda imbecilidade é ingrata – Tom Zé Albuquerque* A cidade de Boa Vista está passando por uma mudança brutal em termos comerciais. O varejo está, a partir de 2014, de cara nova. A presença de shopping center dará uma nova destinação àqueles que negociam e, sobremaneira, àqueles que consomem. Diante desse quadro, e nesse mesmo tempo, as redes sociais são ambientes férteis para deboches atinentes ao comportamento de parte da população ante essa novidade. Como é sabido, quase a metade da população que reside em Roraima é proveniente de outros Estados, principalmente pessoas oriundas do nordeste do país. Destas, quase a totalidade é composta por pessoas que passavam dificuldades em seus locais de origem, ou não conseguiam oportunidades de crescimento profissional; famílias que deixaram suas raízes, sua cultura, sua árvore genealógica para desbravar um promissor, novel e acolhedor Estado. Muitos empresários vindos dos mais ermos locais deste Brasil obtêm sucesso em Roraima; alguns deles antes medíocres e esfomeados em sua terra natal, mas no setentrional brasileiro Estado acumulam patrimônio digno de marajás. Pessoas com baixa escolaridade, sem experiência ou sem tirocínio para liderança, empatia ou expertise compatível ocupam postos estratégicos em importantes núcleos públicos. Galgam cargos, atingem níveis de posição hierárquica nunca imagináveis caso tentassem crescer em seus locais de nascença. Pessoas ingressam em órgãos públicos, por concurso ou por camaradagem, que jamais conseguiriam atingir tal posto em outras Unidades da Federação. No Estado de Roraima há paradoxo em tudo, a ostentação é explícita, típico de pobre quando ascende economicamente. Chega a ser risível em muitos casos. E parte dos “ricos” ou aqueles antes resíduos da pobreza de sua terra – agora em Roraima – vão para as redes sociais publicar imagens e vídeos com gafes das pessoas de baixa renda, encurraladas pela novidade do shopping center. Ridicularizam o fato de algumas pessoas não saberem se portar, por exemplo, numa escada rolante. E muitos dos que riem chegaram aqui já adultos sem nunca ter entrado numa aeronave, tomado água mineral, com passagem comprada com cota da família ou endividamento de parentes. Boa parte das pessoas que se regozijam com a falta de acesso da população pobre a ambientes diferentes, são as mesmas que viajam para o exterior guardando sabonetes de hotéis para lembrança da viagem, ou se dispõem a pagar pratos caros em restaurantes famosos sem sequer saber usar os talheres. A sociedade pseudo-elitizada que se vangloria de ter posses usando a carência de outra classe é doente, porque para se erguer precisa compartilhar o declínio de outra ala. A ingratidão é um dos principais defeitos da humanidade; a soberba fere mais a quem pratica que quem é vitimada, porque reside na fragilidade humana, na camuflagem da enfermidade da alma. E ao contrário do se prega, ridicularizar a população carente de Roraima não vem de pessoas do sul (virou moda o apartheid politicamente encenado entre nordeste e sul), o desprezo está no extremo norte. Não tenho paciência em conversar com imbecis que cospem no prato que comem ou apedrejam o teto que os protegem. Por isso, em vez de gargalhar de pessoas com dificuldade para descer uma escada, prefiro exaltar aqueles que, naquele momento, se prontificaram em ajudá-las (o que poucas pessoas prestaram atenção nisso). Todos os dias, em minhas orações, agradeço a Deus por Roraima ter-me acolhido, por meus filhos terem nascido aqui, nesta terra abençoada. *Administrador —————————————————— Manual para usar Dezembro – Por Marli Gonçalves Terceiro Milênio, Século 21, eu e você, e um monte de nós, marmanjos e sambados, ainda acreditando que o simples fato do numerozinho virar, de uma hora para outra (não esqueça de contar o horário de verão), a coisa toda vai melhorar, mudar, acontecer. Que vamos cumprir o que prometemos a nós mesmos. No máximo poderemos comemorar que já passou o Carnaval, a Páscoa, a Copa, as eleições. O resto, não precisa nem ler previsões: tudo vai aumentar, a Dilma vai rebolar para governar, e a corrupção continuará pulando e jorrando mais que petróleo, fora que o ano só deve começar lá por março, abril. Mas agora nosso problema é já. Esse mês. Espero ajudar com conselhinhos que dou de graça porque estou sem troco. Avise logo para todo mundo que não vai dar presentes para que depois não acusem você, nem digam, que você os decepcionou. O problema é que também aí não vai ganhar, mas talvez seja até melhor. Ou, tire um dia, pegue uma sacolinha e vá lá na 25 de Março, ou Saara, ou qualquer coisa parecida, comprar um monte de bugigangas para depois distribuir – “é só uma lembrancinha”. No caso, treine no espelho a cara lambida. Atenção: nem pense em dar o que recebeu o ano passado e não gostou. Conheço gente que deu justamente para quem deu – afinal nossa memória não é tão boa, e um ano é muito tempo para lembrar. Evite. Prevenir é melhor que remediar. Evitar acidentes é dever de todos. Prepare-se para tudo quanto é mordida que aparece, além do 13 º salário que tem de pagar e só se você for uma pessoa de sorte talvez até também ganhe. Se enfiarem envelopes debaixo da sua porta, rasgue imediatamente, nem abra. Assim não terá o sentimento de culpa. Esqueça a ideia de cestas de Natal. Estão pela hora da morte, e ninguém vai querer ganhar biscoitos amanteigados e panetone seco. Muito menos espumantes, lambruscos ou outros borbulhantes vagabundos. Mantenha sua dignidade. Prepare-se para aceitar a boa vontade, os sorrisos amigos, e até os elogios, que aparecem de repente de todos os lados, principalmente vindos de porteiros, carteiros, entregadores de jornal (com aqueles cartões irritantes pedindo sua colaboração). Aproveita que está disfarçando e começa a reparar de esgueira na criatividade das “caixinhas” artesanais que aparecem – ficam ali, largadas “naturalmente” nos caixas, esperando que você olhe para elas e sensibilizado contribua com algum. Treine. Não fique sem graça, nem diga que o fará depois. Apenas aparente não ter visto. Uma versão mais “perigosa” seria a de tentar aproveitar e levá-la embora junto com algum pacote. Temo apenas que andem meio magrinhas e não valha esse risco. Óculos escuros. Muito bom usar nessa época. Ajuda (perucas e outros acessórios também podem ser úteis). Para passar batido em alguns lugares. Ou, ainda, para seus olhos não serem ofuscados por tantas roupas brancas nas vitrines, que os lojistas aproveitam para desmamar nessa época a preços escorchantes. Lembre-se: o comércio está tenso. Basta reparar a pobreza franciscana dos enfeites de Natal nas vitrines. Estão impressionantemente “criativos”; e nem sempre isso é bom. Tive outra ideia se você pretende ou gostaria de virar invisível! Configure logo o seu e-mail para mandar resposta automática: “Obrigada por sua mensagem, mas não poderei responder. Estou fora, em viagem (ou fui para Guiné como voluntário na luta contra o ebola) (a trabalho) até (meados, para ficar mais impreciso e já ter passado o Dia de Reis, data tradicionalmente limite para se dar presentes) de 2015. Pode ser mais radical, tipo “Esse e-mail mudou” e esquecer para sempre de dar o alternativo. Se conseguir, se não for viciado, afaste-se por um período das redes sociais. Saia reclamando. Diga que não aguenta mais ler tantas bobagens, ver fotos fofas, que odeia o Zuckerberg, as novas normas, o controle e invasão de privacidade, que o passarinho do Twitter é feio. Se não resistir, e botar a cara por lá de novo, não terá problemas. Afinal, todo dia eu mesma leio gente se mandando das “redes sociais” e, no dia seguinte, lá estão elas! Compromissos. Do jeito que está todo mundo pobre, creio que festas, encontros e assemelhados serão raros. Mas sempre tem uma “confraternização” (forma de oferecer menos, uma coisa zapzum) de firma… Aí, pelo menos em uma você vai ter de dar as caras. Comporte-se, apenas isso. Não faça nada de que se arrependerá no minuto seguinte (e você já conhece a lista de proibidos, não preciso me alongar aqui). Quanto ao amigo secreto, bem, rezar para ele continuar secreto, tão secreto que você não saiba dele e não tenha de dar nem bom dia ao cavalo, porque em geral a gente pega quem a gente não gosta no tal sorteio do papelzinho. Família, encontros familiares, tensões sociais e político-partidárias serão quase inevitáveis e você deve lembrar bem de como foi no período eleitoral. Não ande armado. Cuidado com as cores que usa nas festas – evite o vermelho e o azul. Não puxe esse assunto. Mas, se ele aparecer, lembre-se de ir ao banheiro, pegar um copo de água, sair para tomar um ar, simular um desmaio. Comidas. Comece já a se preparar para aquele peru, para aquele tender comprado quase pronto com aquele termômetro enfiado. Se gosta de beber, nem espere o peru, comece antes que isso ajuda a aquilo tudo descer pela goela. Nozes, castanhas, tâmaras, passas – palavras que serão mais raras nas mesas esse ano. Andei também vendo preços. Invente boas desculpas – aproveite logo agora o começo do mês porque aí ficará mais realista – como um regime; ou ordens médicas (peça atestado se achar necessário, porque sogras, mães em geral, por exemplo, não gostam nadica que não comam a comida que preparam com tanto carinho). Alternativa saudável: você convida e você cozinha, ou, senão, como já orientei acima, suma. O pessoal vai entender a repentina saudade do primo do interior que você, puxa, não vê há tanto tempo! Essas dicas são só as básicas. Precisaria de muito espaço para abranger tudo o que esse mês nos apresenta, bem além da esperança, do otimismo, quilos e aporrinhações a mais, resto de contas para pagar o ano que vem. Então, está preparado? São Paulo, dezembro, 2014, o ano que precisa terminar logo * Jornalista —————————————————— Perdidos sem espaço – Afonso Rodrigues de Oliveira “O homem que é firme, paciente, simples, natural e tranquilo, está perto da virtude”. (Confúcio) Sempre que se aproxima o fim de ano, acontece um monte de eventos ligados ao cristianismo. É festa por todos os lados. Sábado à noite corri para assistir a dois eventos em escolas de dois dos meus netos. Foi uma correria. Os eventos foram, praticamente, no mesmo horário e em locais distantes um do outro. Legal pra dedéu. Durante o primeiro evento fiquei o tempo todo voando pela minha infância. Quase me cansei porque minha infância está longe, pacas. Sempre que quero ir até ela caminho por décadas e décadas, numa correria infernal. E uma das coisas que mexem com meu pensamento, é a luta do ser humano pela igualdade. Coisa que sempre me encucou, desde minha infância. Minha mãe costumava dizer que eu era um ET que caíra na família dela. Ela falava isso brincando, mas eu acho que era o que ela pensava. Ela era uma religiosa que brigava muito com os padres. Meu pai era meio desligado da religião. E eu era o único filho que, talvez por isso, ela fazia questão de me levar às missas aos domingos. Eu ficava uma arara. Você sabe o que é um cocorote, no linguajar antigo do nordestino? É aquela martelada que a mãe dava, na cabeça do filho, com a junta do dedo médio, dobrado. Dói pra dedéu. Um dia minha mãe me deu um cocorote dentro da igreja, durante a missa e, acredite, dói até hoje. Tenho certeza de que já lhe contei esse episódio. Eu era um garotinho, na década de quarenta. Era uma quarta-feira de cinzas. A missa era com o padre Suassuna. Era conhecido por beber todo o vinho da igreja. Era briguento e ranzinza. A igreja estava lotada e o padre atrasado. Quando ele chegou postou-se, não deu sinal de presença, benzeu-se, virou-se para o público, levantou os braços e falou sério: – Com pandeiro ou sem pandeiro, hoje não dou cinza. Todo mundo pra casa. Juro, isso não é mentira nem piada. O padre retirou-se e eu dei uma tremenda risada, mas não maior do que o cocorote que minha mãe deu em minha cabe, que acreditem, ainda dói sempre que me lembro. Voltamos para casa sem a cruz de cinzas na testa. Mas naquela época ninguém tinha coragem de protestar contra a igreja. Ficou tudo por isso mesmo. E eu com a cabeça doendo. Lembrei-me de tudo isso durante o evento do meu neto. Você pode achar que é falta de respeito, mas não é. O desprendimento do padre neste evento, a descontração com o público mostrou o quanto progredimos, mas mesmo assim ainda temos muito que caminhar para o equilíbrio racional. Por que não se unirem as religiões? Pense nisso. [email protected]     99121-1460         ———————————————————- ESPAÇO DO LEITOR ENERGIA 1 Uma internauta, identificada apenas como Lyara, escreveu para Redação da Folha para comentar sobre a dificuldade que está ocorrendo na interligação de Roraima ao SIN (Sistema Integrado Nacional) de energia, por meio do linhão de Tucuruí, vindo do estado do Pará. “Ouvir as tribos todo mundo quer, agora ouvir a população de Roraima, que é a única prejudicada ninguém quer. Além de tudo, quando a energia passar, os tuxauas tratam logo de energizar as aldeias. Está na hora de tratar todo brasileiro, inclusive as tribos, da mesma forma”, criticou. ENERGIA 2 O internauta Josué Ribeiro Júnior também comenta sobre o assunto: “Isso é o que os militantes e as raposas políticas querem, que Roraima continue dependente dos bolivarianos e dos corruptos. E isso é uma prova de que setores do judiciário estão aparelhados para que essas obras sejam barradas, pois não ouvem quem deve ser ouvido, que é o povo de Roraima. Aliás, se o povo de Roraima fosse mesmo ouvido, muita coisa boa já teria sido feita aqui, mas teimam em ouvir apenas o ‘lado mais fraco’. E o nosso povo continua mais isolado do que a tal ‘nova tribo”, reclamou. ESTADO 1 Sobre as altas despesas do Governo do Estado, um internauta, identificado apenas como Santos P, comenta: “Vamos esperar que o povo tenha acertado no voto e que coisas como as altas despesas com aluguéis de imóveis, e as terceirizações, supostamente apadrinhadas por políticos de todos os escalões, deixem de aparecer. Afinal de contas a situação fiscal do estado é lastimável e a continuidade dessas práticas nos levará a falência total”, observou. ESTADO 2 Sobre a situação do Estado de Roraima, o internauta Natal Altair também comenta: “Espero que o novo Governo além de tomar medidas conforme prometidas para melhorar a Saúde, Educação e Segurança Pública, atue firme na questão fundiária, reavendo para o Estado doações de terra para ‘chegados’ do governo expurgado nas urnas”, comentou.