Jessé Souza

Cabeca de burro 09 12 2014 372

Cabeça de burro Jessé Souza* Já ouvi algumas teorias apocalípticas a respeito da inauguração dos dois shoppings, entre elas a previsão de morte de comércios e de praças públicas como a do complexo poliesportivo Ayrton Senna. Obviamente que toda novidade é cercada de discussões e teorias que nem sempre se confirmam. Pelas quase quatro décadas e meia de vida, tenho algumas credenciais que me habilitam a entrar nesta discussão. Os shoppings não vieram para ser um divisor de águas. Eles chegaram para ser mais um passo ao desenvolvimento do Estado, assim como ocorreram com a vinda de franquias que se estabeleceram no Estado. Porém, antes de tudo, temos de considerar que Roraima tem uma realidade atípica das demais localidades brasileiras. Vejamos na questão da imprensa. Enquanto nos demais estados os jornais impressos têm no domingo o maior número de leitores, aqui, no Estado, é o dia de deserto em se tratando de número de leitores. Logo, em qualquer análise de comportamento local é preciso levar em consideração nossas peculiaridades. Os shoppings podem até decretar a morte de alguns comércios, mas daqueles que não investirem em atendimento, em preços não abusivos e estrutura de seus empreendimentos para dar conforto à clientela. Mas não porque todos vão correr para o shopping e abandonar as demais lojas e centros comerciais. O mesmo irá ocorrer com o nosso principal local de lazer e encontro, o complexo Ayrton Senna. Esse espaço público continuará sendo o principal atrativo para quem quer caminhar e levar suas crianças para ter um espaço amplo. Além disso, é um dos nossos principais cartões postais por conter ali um local ao ar livre em pleno Centro de uma Capital, algo raro de ser ver nas cidades tomadas por carros e camelôs. O Ayrton Senna é um de nossos diferenciais de uma Capital com um Centro ainda planejado, com ruas largas, bem iluminado, no que pese a insegurança que ronda toda a cidade. Porém, dentro dos limites de nossas polícias, ali ainda é um lugar seguro para se passear com a família ou mesmo praticar esporte. É fato que o nosso único cinema pode ser golpeado de morte, pois esse público é mais identificado com um ambiente de shopping, que irá abrigar uma das melhores salas de projeção. Mas, mesmo que isto ocorra, ainda demandará um certo tempo, pois o roraimense é um público muito conservador e assim tudo processa de forma mais lenta. Enfim, os shoppings vieram para somar, para possibilitar mais opções a quem gosta não só de exercitar o espírito consumista em lugar refrigerado e seguro, onde pode-se encontrar de tudo em um mesmo local (ou, pelo menos, quase tudo). Esse aspecto de cidade pequena, cujo todo Estado tem apenas meio milhão de habitantes, ainda vai demorar muito para se transformar e ganhar ares de metrópole. E os empreendedores que não estiverem atentos a esses novos tempos, sem deixar de observar nossas peculiaridades, vão achar que enterraram uma cabeça de burro no terreno onde seus negócios foram construídos. *Jornalista [email protected]