Jessé Souza

A coisa de asa 12 12 14 392

A coisa de asa Jessé Souza* Presenciei pessoas revoltadas com a notícia sobre um representante da Funai (Fundação Nacional do Índio) que sugeriu a derrubada do Monumento ao Garimpeiro. Li protestos austeros e exagerados no Facebook. Depoimentos raivosos enviados ao jornal. E sentimento de ira clamando pela alma de todos os pioneiros, inclusive dos que chegaram um dia desses a Roraima.  Poderia haver sentido e razão em tudo isso, porém, não vi nenhuma voz revoltada quando a prefeita de Boa Vista, em administrações passadas, instalou um “zaralho de asa” exatamente onde Boa Vista e o Estado de Roraima nasceram, no Porto do Cimento. O “zaralho”, ali instalado, destruiu o símbolo do surgimento desta terra, por aonde chegaram não só os primeiros colonizadores, mas também onde estavam os primeiros habitantes destas plagas, os povos indígenas. Mas não houve protestos, ira, mobilizações, gente raivosa querendo o escalpo da prefeita. Todos baixaram a cabeça e abanaram o rabinho. Outros patrimônios históricos foram destruídos ou estão sendo destruídos pela falta de ação de nossos governantes, a exemplo do Teatro Carlos Gomes e Casa da Cultura (residência oficial do primeiro governador), localizados a poucos metros do Monumento ao Garimpeiro, no Centro Histórico de Boa Vista. E ninguém se une em sentimento de protesto contra este descaso público e notório. A Prefeitura de Boa Vista fechou e abriu a primeira rua de Boa Vista, a Floriano Peixoto, em frente à Igreja Matriz, e ninguém deu um pio. Não fossem os empresários ali instalados, que imploraram para que a calçada ali instalada fosse demolida, até hoje a aberração oficial estaria lá. Nem mesmo o prédio da primeira sede municipal, a Intendência, foi reconstruído no local correto. Mas ninguém diz nada. Há um silêncio de fazer vergonha na cara de qualquer pioneiro que conhece a história, e por isso mesmo os piores coniventes não só com o prédio da Intendência, mas também com o “zaralho de asa”, a Orla Taumanan, que poderia ter sido construído, sim, mas respeitando o porto, por onde tudo começou. Mas esse sentimento de revolta pode ser muito bem entendido não só nas entrelinhas, mas no contexto histórico desse Estado Vista. Esta ira é porque o protesto exagerado é simplesmente por se tratar de um representante da Funai, órgão que defende os índios. Fosse um louco de gravata e com mandato eletivo, iriam até ponderar, sem exageros, e considerar apenas como um protesto verbal.   Quero ver esses raivosos bradando contra os políticos que não apenas destroem o patrimônio histórico e cultural de Roraima, mas que saqueiam todas as nossas riquezas, inclusive roubam o caráter de muitas pessoas. Essa eu queria ver. E até ajudaria a queimar pneus em frente ao Palácio do Governo ou ao lado do Monumento do Garimpeiro. *Jornalista [email protected]