Jessé Souza
Acougue nao mais 18 12 2014 415
Açougue não mais Jessé Souza* Eu sou cliente do Sistema Único de Saúde (SUS) e conheço muito bem os corredores destes hospitais, desde o tempo em que o Pronto Socorro era um anexo do Hospital Coronel Mota, à época a unidade de referência do Estado. E cada pai de família de baixa renda conhece o que é ficar na fila de espera de qualquer uma das unidades de saúde, seja estadual ou municipal. A situação da única maternidade pública do Estado, o Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, também conheço desde o início da minha carreira profissional, quando ainda eu era repórter e descobri que diariamente estavam morrendo recém-nascidos por infecção hospitalar. Era outubro de 1996. A maternidade foi comparada a um matadouro por causa da falta de estrutura e de limpeza. Relatórios de inspeção constataram que os profissionais sequer lavavam as mãos na hora de iniciar o expediente no berçário. O resultado disso é que, nos primeiros 21 dias daquele mês, morreram 22 bebês. Foi um escândalo nacional e, a partir dali, o Brasil descobriu que, em quase todos os brasileiros, também morriam crianças nas maternidades públicas. Anos se passaram e, ao que tudo indica, a situação está querendo se repetir. Mães estão relatando que estão penando na mesma maternidade, igualmente sucateada, e perdendo seus bebês, desta vez porque estaria havendo também negligência por parte dos profissionais que lá trabalham. Parece que não aprendemos a lição e as coisas não melhoraram. Neste governo que se despede, o sucateamento é uma realidade e a desassistência um fato explícito, que é mostrado por um vídeo que mostra uma jovem indígena agonizando em uma maca, sem qualquer assistência, e pondo para fora um bebê que não deu tempo de ver a luz. Embora o governo seja o principal culpado, por sucatear a saúde pública e deixar os profissionais sem estrutura, há também culpa de servidores que se brutalizaram com esse cenário de açougue no qual se tornou não apenas a maternidade, mas outros hospitais. O governo que está entrando não pode falhar mais, uma vez que era o mesmo grupo que estava no comando em 1996, quando ocorreram as mortes nos berçários. Os recursos públicos precisam ser aplicados corretamente para o bem-estar coletivo, principalmente no setor que trabalha com a vida das pessoas, a saúde pública. Já pagamos uma conta muito cara por este governo que se encerra no dia 31 de dezembro, herdado do mesmo grupo político que vem sucateando o Estado desde dezembro de 2007. Pessoas inocentes não podem mais pagar com a vida pela corrupção que se instalou no Estado. *Jornalista [email protected]