Opinião

Opiniao 18 12 2014 416

Procura-se eu mesmo – Marli Gonçalves* Não sei se é a água da torneira, do chuveiro, o ar, algum momento astral, o tempero da comida. Só sei que de uma hora para a outra tenho encontrado vários amigos que estão dando uma pirada, no bom sentido, “se procurando”. Onde é que a gente se perde? Nós nos perdemos de nós mesmos. Como se a gente se esquecesse em algum canto, igual esquecemos e perdemos guarda-chuvas, isqueiros, canetas, papeizinhos com telefones importantes anotados (os desimportantes achamos), e não soubesse nem lembrasse onde, tivesse largado em algum lugar. Não há GPS ou Waze para essa situação, nem um satélite pode resolver. A agonia também parece a mesma de quando a gente está sozinho e perde os óculos de grau e tem de sair tateando até encontrar, justamente porque não enxerga nem um palmo na frente do nariz. De repente acontece, creio que seja assim porque pelo menos os casos que tenho visto tiveram mínimo aviso prévio, só pequenos sinais como angústias existenciais. Já percebi também que há dois tipos de perdidos: os que conseguem falar sobre isso e os que não conseguem se expressar nem por reza brava. Aparentam apenas, como naquele dito popular, que estão procurando elefante em cabeça de alfinete, uma medida que sempre me pareceu muito exata. Mas o camelo que passa no buraco da agulha pode ser uma baita depressão. Sei como é, nem conto quantas vezes passo por isso – mesmo que de forma leve – até por dia. Também sinto vontade de sair me procurando, para ver se não acho uma melhor, mais resolvida, com sucesso, considerada. Acostumei. Mas no meu caso, leva só alguns minutos, porque ai já não me encontro mesmo, e logo esqueço até o que estava procurando, vejo e me distraio com outra coisa, dou uma gargalhada. Ou a realidade aparece tão real, dura e cristalina que eu não tenho dúvidas de que estou ali, eu original, embora o que adoraria é justamente é “dar um perdido”. Deve ser uma forma que achei, sim, mas de não perder muito tempo, já que é tudo tão abstrato nesse campo que deve ser objeto de amplos estudos por psicólogos, psiquiatras e afins. A gente vai vivendo no atropelo dia após dia. Tantas coisas e sofrimentos ao redor, assim como desafios a vencer, que quando vemos – surpresa! – acabou o dia, a semana, o mês, o ano, chegou dezembro. Conversando outro dia me veio uma clara imagem, a de que corremos todos em modernas esteiras malucas, onde não somos nós que controlamos os comandos, e sim uma força superior (ou inferior?) para a qual cada um de nos dá um nome; força, com um dedinho que se compraz em fazer a esteira correr mais veloz – de nos fazer por os bofes para fora – e, de repente, recua, tão lenta que o caminhar se equipara à tartaruga se movimentando. Talvez a tal força esteja só se divertindo com algo como um controle remoto em suas mãos, um joystick. Quando a gente se procura, para tudo, procura uma outra pessoa que poderíamos ser e viver, o que pode ser o centro de tantos diagnósticos de dupla personalidade que têm vindo à tona com maior intensidade – tais como esses jovens que eram conhecidos como calmos e calados estarem sendo presos porque são serial killers sanguinários e psicopatas. Mães amorosas esganando filhos. Casais que se amavam, mesmo que serenamente, se largando. Qualquer mudança é difícil. Já complica quando sentimos a necessidade dela, e talvez daí a vontade de “se achar”. Algumas crises se dão na frente do espelho, onde às vezes não conseguimos nos ver refletidos, o que assusta. Temos muitas formas de acompanhar o tempo, mas é preciso estar atento aos detalhes. Veja que pelos, esses danados, sim, os pelos, por exemplo, podem ser parâmetro: crescem o tempo inteiro, em horas já despontam do mesmo poro onde os arrancamos, giletamos, depilamos, cortamos. Pensar nisso me faz ter várias dúvidas. Mulheres pintam, cortam cabelos, cortam pedaços, colocam recheios para se encontrarem? E esse tanto de barbados, alguns até meio Maomé que tenho avistado pelas ruas? Será que pensam que assim viraram outras pessoas? Será que é para começarmos todos a nos preocupar porque daqui a pouco se a coisa piorar realmente não nos reconheceremos mais nem uns aos outros? *Jornalista —————————————————- O timão – Afonso Rodrigues de Oliveira* “Se o mestre for realmente sábio, ele não o levará a entrar na casa da sabedoria dele, mas sim, o guiará para os limites de sua própria mente”. (Gibran Khalil Gibran) Não sei se você sabe, mas adoro bater esse papo com você. Você aí na sua e eu aqui falando pra dedéu. E não me sinto bem quando falto ao nosso encontro. E ontem faltei. E você nem sabe o que tem acontecido comigo ultimamente. Ontem pela manhã, quando vi, um grupo de invasores invadiu minha casa. Eram seis ou sete pessoas. Pedreiros, eletricistas e sei lá o que mais. E a primeira coisa que o eletricista fez foi desligar a energia. Fiquei o dia todo sem computador, sem televisão e às escuras. Mas sei que você me desculpou. Estou de volta. Papo furado, mas vou papear. Abri o livro, casualmente, e dei de cara com esse pensamento extraordinário, do Gibran Khalil. Vez por outra falo sobre isso com minhas noras. Mesmo sabendo que devo tomar cuidado para não me tornar mais chato do que já sou. Mas sei que elas entendem que não tenho nenhuma intenção de me intrometer no seu modo de orientar meus netos. E sabe por que não falo com os maridos delas? Porque santo de casa não faz milagre. Falo sério. Uma das coisas que mais me preocuparam vida afora é a maneira como os pais tentam orientar os filhos. Na verdade, a maioria deles não tenta orientar, mas dirigir. E orientar e dirigir são coisas distintas. Todo pai, ou mãe, é um mestre. E todo mestre só é mestre se for sábio. E um sábio não dirige, orienta. O mestre não diz como você deve fazer a coisa, mas como a coisa deve ser feita. Segui-lo ou não é problema de cada um. Do mesmo jeito que ele não fica melindrado se você não seguir as orientações que ele lhe deu. Você já viu um mestre se aborrecer? Claro que não. Nem eu. E isso já é um dos maiores exemplos que ele nos dá na orientação que nos dá. Se você tentar dirigir seu filho, estará, no mínimo, tirando dele o direito que ele tem de seguir sua própria vida, no momento em que se sentir em liberdade para viver sua própria vida. E ele nunca se sentirá em liberdade se for forçado a seguir as veredas que você construiu para ele. E aí vem outro pensamento do Gibran: “Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Eles vêm através de vós, e não de vós. Embora vivam convosco, não vos pertencem”. Alguém também já disse: “Quando você se preocupa porque sua filha saiu à noite com as colegas dela, é porque você não confia na educação que lhe deu”. Quando sabemos orientar não necessitamos dirigir. Respeitar a personalidade de cada um é mestria. Pense nisso. *Articulista [email protected]     99121-1460 ———————————————- ESPAÇO DO LEITOR FISCAIS 1 Uma leitora, que pediu para não ser identificada, denunciou o não pagamento dos fiscais que trabalharam na aplicação do vestibular da Universidade Federal de Roraima (UFRR), em novembro deste ano. “Até o momento, os fiscais externos (não servidores da universidade) não receberam o pagamento pelos serviços prestados. Em contato com a Ajuri, fomos informados que o pagamento será efetuado somente em 2015, sendo que os servidores da casa já receberam”, afirmou. FISCAIS 2 “Trabalhamos responsavelmente realizando todos os serviços solicitados pela Universidade, chegamos aos locais de prova por volta das 06 horas da manhã e trabalhamos até mais de 13 horas. Realizamos os serviços que eles pediam, cumprimos as exigências deles e agora somos informados que somente em 2015 receberemos nosso pagamento. Aguardamos uma providência urgente, pois quando é necessário nos dispomos a trabalhar, ajudando na realização do certame, e o mínimo que merecemos é nosso pagamento em tempo hábil”, comentou a denunciante. GALHADAS “Cortei os pés de mangueira do meu quintal e solicitei da Prefeitura de Boa Vista o recolhimento das galhadas. Paguei uma taxa no início do mês, no dia 4, e me deram o prazo de dez dias para o serviço. Já se passaram 14 dias, e nada. Voltei à Prefeitura e me informaram que não tem previsão para o serviço ser feito, pois não tem caçamba”, relatou o leitor Odílio Rocha, morador do bairro Cauamé, ao frisar que teme que vândalos ateiem fogo nas galhadas, o que pode provocar incêndio em residências próximas. IDENTIDADE Em relação à nota “Rematrícula”, publicada ontem, que trata da exigência da Carteira de Identidade para fazer a rematrícula na Escola Estadual Carlos Drummond de Andrade, a gestão informou que desde novembro a Auditoria da Secretaria Estadual de Educação e Desportos (SEED) exige, para estudantes migrantes do 8º ao 9º ano do Ensino Fundamental II e do 9º ano para o 1º ano do Ensino Médio, que a renovação ocorra mediante a apresentação do Registro Geral (RG) da Cédula de Identidade. “Estamos apenas cumprindo o que determina a Auditoria da própria Seed, mas isso não significa que o aluno perderá a vaga”, afirma a nota.