Jessé Souza
Um Natal feliz 24 12 2014 434
Um Natal feliz Jessé Souza* Muitas pessoas são ágeis em criticar os governos por seus programas assistencialistas, porém, na mesma moeda, a cada fim de ano, acham que distribuir presentes e comida alivia o aperto social por quais passam as famílias mais pobres, nada mais do que reforçando o que eles mesmos criticam nas ações governamentais com seus vales. E mais servindo como conforto pessoal. É fato que um presente a uma criança pobre e uma ceia um pouco mais farta ajudam famílias pobres a sentirem-se um pouco melhores nessa sociedade que manda consumir para que as pessoas se achem integradas, de alguma forma, à sociedade que preza por presentes e por mesa farta. Mas a sociedade poderia fazer muito mais pelos pobres a partir de seus posicionamentos diários. Poderíamos ser mais vigilantes com os desmandos de nossos governos e governantes, para que cumpram com as obrigações constitucionais de investir na educação, saúde e segurança, três setores mais atingidos pela corrupção. Os parlamentares são os primeiros a não fiscalizarem, pois eles não costumam cumprir com suas obrigações, em sua maioria, que é também fiscalizar as aplicações de recursos. Na conivência e no conluio, muitos políticos apenas servem ao poderio político que oprime os mais pobres e desviam a maior fatia de recursos públicos para alimentar os esquemas já conhecidos de todos, seja para caixinhas de campanha eleitoral, enriquecimento de políticos e favorecimento de empreiteiras que mantém relações incestuosas com políticos. Os órgãos fiscalizadores poderiam fazer muito mais, impedindo os desmandos antes que eles fossem concretizados, mas costumam a agir somente quando o cadeado dos cofres públicos já foram quebrados e quando os corruptos já se fartaram com a grande fatia de recursos públicos que deixaram de beneficiar a sociedade lá na ponta. As ouvidorias não funcionam, os conselhos ficam nas mãos dos mesmos operadores de esquemas, as entidades de classe fingem que não enxergam, as lideranças comunitárias se entregam ao joguete de apoios partidários e os cidadãos que deveriam ter mais consciência política acham que não têm nenhum papel a cumprir. E assim vamos deixando os maus políticos manterem seus esquemas, os quais fingem que estão agindo e, em vez disso, alimentam os programas assistencialistas, pois eles sabem que a sociedade ficou dependente desta forma de fazer política. E, ainda por cima, viemos nós, a cada fim de ano, com nossas doações, acreditando que estamos apenas “fazendo o bem sem olhar a quem”. Precisamos de mudanças bruscas de atitudes da sociedade para que possamos fazer um Natal melhor para os que mais precisam. Não adianta apenas entregar nossas fatias de comida e os brilhos do papel de presente dos brinquedos. O Natal exige mais espírito de mudança social e de reencontro com aquele a quem deveria ser homenageado, o menino Jesus. Apesar de tudo isso e não perdendo as esperanças, desejo que tenhamos um verdadeiro Natal e que nossos espíritos sejam tocados por aquele que veio pregar justiça e paz na Terra. *Jornalista [email protected]