Jessé Souza

Enxugando gelo 06 01 2015 468

Enxugando gelo Jessé Souza* O programa Ronda nos Bairros, da Polícia Militar, contribuiu para melhorar o policiamento ostensivo na Capital, porém ainda está longe de ser o ideal para uma cidade com uma população pequena. Falta ainda a integração, de fato, com a comunidade para que haja um trabalho preventivo eficiente. O levantamento de informações anunciado na inauguração do programa, se é que isto ocorreu mesmo, parece que não teve utilidade para melhorar o entrosamento da polícia com os cidadãos, principalmente com pequenos comerciantes dos bairros, os quais acabam concentrando muitas informações. As pessoas que chegaram para fazer a implantação do programa anunciaram que seria feito um levantamento da realidade dos bairros juntos aos moradores. Porém, até agora não se viu a continuidade do trabalho nem seus reflexos para melhorar o entrosamento da polícia com a comunidade. Certo dia, um comerciante do bairro São Vicente comentou que o Ronda conseguiu efetivar uma presença constante naquele setor, dando uma sensação de segurança, porém as viaturas nunca pararam em seu estabelecimento para que os policiais conversassem com ele e com os demais pequenos empresários a fim de saber informações que poderiam ajudar no trabalho policial. Pertinente a observação. No bairro onde moro, por exemplo, as viaturas estão presentes na rua, porém não se vê os policiais interagindo com os cidadãos, nem com os pequenos empresários e vendedores ambulantes, que acabam sendo pessoas bem informadas sobre a realidade do local onde trabalham. Seria necessário que houvesse, de fato, um serviço de aproximação com a comunidade, aos moldes do que foi anunciado pelas autoridades assim que o Ronda no Bairro foi implantado. Algo muito próximo do que preconiza a polícia comunitária, que é a principal finalidade do programa. Enquanto não houver esse diálogo, a Polícia Militar continuará presente nas ruas, com viaturas circulando, passando uma sensação de segurança, mas sempre atuando depois de os fatos ocorrerem, em um serviço chamado na gíria policial de “enxugar gelo”. E gastando mais combustível e pagando caro por tecnologias que sequer são utilizadas no combate o crime. Geograficamente e em termos populacionais, Boa Vista pode ser comparada a um bairro de uma cidade grande. Então, se houver vontade política para se fazer um serviço bem feito, é possível combater as causas da criminalidade, em vez de ficar somente atuando nos efeitos. Não se trata de nenhum discurso falacioso. A Divisão de Inteligência e Captura (Dicap) da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) é o exemplo cabal de um serviço que une operacionalidade e trabalho de inteligência que conta com informações da sociedade até pelas redes sociais. E lá é apenas um setor com pessoas dispostas a cumprir com suas obrigações e sem recursos financeiros que uma secretaria tem. Então, vamos agir ou ficaremos sempre “enxugando gelo”? *Jornalista [email protected]