Jessé Souza
Remendo a cuspe 14 01 2015 500
Remendo a cuspe Jessé Souza* As informações que estão vindo à tona nestas primeiras semanas do novo governo não chegam a ser nenhuma novidade. Porém, elas acabam surpreendendo pelo fato de a administração anterior ter feito de tudo para ocultar aquilo que já estava caindo aos pedaços, alimentando a opinião pública com propagandas mentirosas, que não se sustentavam à realidade. Todos os setores de governo vieram sofrendo abandono desde a campanha eleitoral de 2010, quando os governantes deixaram de cumprir com suas obrigações com o único propósito de se manterem no poder por meio da compra de votos, da enganação política e da concentração de esforços em liminares judiciais para escapar das seguidas cassações determinadas pela Justiça Eleitoral. A consequência disso é o que podemos ver hoje, um governo que parece ter sido corroído por cupins políticos e setores essenciais remendados com cuspe. A realidade assemelha-se a ação de um furacão que por aqui passou, deixando uma terra arrasada para ser reconstruída a custa do sofrimento do povo, uma vez que a corda só arrebenta mesmo no lado mais fraco. Poucos desses políticos que estão no poder, principalmente nos Legislativos, têm qualquer respaldo moral e político para criticar os governadores cassados, pois a grande maioria não apenas foi conivente com o que ocorreu como também se beneficiou com os esquemas montados que terminaram por falir os cofres públicos. A leitura dessa realidade pode ser vista também no crescimento da cidade. Mesmo sem indústrias, com o Estado sobrevivendo da economia do contracheque, é possível ver o surgimento de duas cidades: a da zona Oeste, com casas humildes e o avanço sem planejamento urbano; e a da zona Leste, onde estão os bairros nobres, com construção de mansões como se não fosse o Estado Roraima acossado pela crise. Não se trata de ser contra ricos nem contra aqueles que constroem suas mansões. Trata-se da concentração da riqueza desonesta nas mãos daqueles que ajudaram a afundar o Estado e que não se incomodam de externar suas riquezas conquistadas de forma desonesta, a custa do sofrimento do povo. Os setores públicos estão definhando, enquanto um setor privilegiado da cidade ostenta prosperidade. É uma cena difícil de ser explicada por economistas, mais ainda de ser notada pelo Fisco, que não costuma a enxergar esses sinais exteriores de riqueza que não condizem com salários que os cofres públicos pagam para servidores públicos e políticos com mandato. Sabemos que o remédio amargo será administrado ao povo, que paga a conta no final. Porém, queremos saber se esta nova administração vai não apenas apontar os estragos deixados pelas administrações passadas, mas também dar nome aos bois e entregá-los para que a Justiça faça sua parte (se é que haja algum interesse por parte deste poder). *Jornalista [email protected]