Jessé Souza

Despertar do lodo 15 01 2015 503

Despertar do lodo Jessé Souza* O que tem de positivo neste atual governo é que os órgãos fiscalizadores e parlamentares de alto coturno foram tomados por um surto cumpridor de suas obrigações fiscalizadoras em defesa dos interesses coletivos. Não podemos achar ruim que aqueles que são bem pagos para trabalhar em favor da sociedade cumpram com suas obrigações. Porém, a sociedade não pode esquecer os anos que as autoridades legislativas e fiscalizadoras levaram para acordar desse sono profundo, o qual permitiu que muitas bandalheiras fossem praticadas pelo governo, esvaziando os cofres públicos, beneficiando grupos, familiares e agregados por meio de esquemas. O Estado de Roraima só chegou ao fundo do poço graças à ineficácia e às vistas grossas de muitas autoridades. Houve um verdadeiro butim durante seguidos governos, incentivado pela impunidade, falta de fiscalização e corpo mole de parlamentares que não apenas fecharam os olhos, mas também se beneficiaram. Mas que bom que houve um despertar, ainda que tardio. A sociedade roraimense exige que os chamados “fiscais do povo” tirem seus traseiros gordos das confortáveis poltronas e trabalhem para evitar que o Estado continue no lodo fétido do poço fundo a que foi lançado. Porém, o povo não pode esquecer que alguns destes “fiscais”, que despertaram do coma, estão de olho tão somente nas eleições que estão por vir, seja a de 2016, para a Prefeitura de Boa Vista, ou a de 2018, para o Governo do Estado. Afinal, o futuro político deles depende exclusivamente do fracasso do atual governo, que somente hoje chegou a duas semanas no poder. É por isso que o cidadão que paga seus impostos precisa separar o que é politicalha e o que é ação fiscalizadora. O que se vê é que, a partir de agora, iniciou uma grande mobilização política para tentar convencer que o povo roraimense errou ao exigir mudanças, ao cobrar que os grupos que saquearam este Estado fossem execrados nas eleições passadas. A tática é antiga, pois foi usada por anos a fio para manter o Estado como estava, para conservar no poder os mesmos grupos que esvaziaram os cofres públicos. O povo foi submetido a uma ostensiva lavagem cerebral para que temesse mudanças e continuasse a manter os mesmos políticos, por pior que eles parecessem ser, pois a lógica implantada era a do “ruim com eles, pior sem eles”. Queremos, sim, que o governo passe por rigorosas fiscalizações. Mas não há como entender por que essa rigorosidade não foi colocada em prática há mais tempo, uma vez que clamor popular e enxurrada de denúncias de corrupção não faltaram ao longo dos últimos governos. Então, que o cidadão roraimense fique de olho, pois o que pode parecer ações cercadas de boas intenções em favor da coletividade pode não passar de uma estratégia eleitoral antecipada. O momento é de união para tirar Roraima do buraco e do lodo, e não de disputa eleitoral que sequer deveria ser cogitada. *Jornalista [email protected]