Jessé Souza
Areia Neuber 24 01 2015 540
Areia, Neuber! Jessé Souza* Nesta sexta-feira, 23 de janeiro, foi aniversário do cantor e compositor Neuber Uchoa. Estive lá, com ele, para desejar os parabéns pessoalmente e partilhar o momento com seus inúmeros amigos e fãs que se habituaram a festejar todas as quintas-feiras no bairro onde cresci, o São Vicente. Mas creio que ele merece mais. Ele merece uma homenagem por ser o ícone da persistência e do profissionalismo no trato com a música roraimense, aquela que nós – gente de todas as tribos e os que aqui escolheram para viver – podemos dizer de peito inflado que é nossa e que representa nossos sentimentos, anseios e cultura. Neuber é a cara da cultura roraimense. Ele é o cara que toca nossa alma a cada composição que sai dessa brilhante mente que foi esmerilada nos muitos “nãos” e nos muitos narizes torcidos para a cultura local. É um sobrevivente entre muitas árvores tombadas e cerrados cortados na foice da ignorância, do preconceito e da falta de valorização por parte de quem deveria apoiar. Mas hoje ele está aí, aqui e acolá, sendo referência, sendo cantado até na hora do recreio das escolas públicas por adolescentes orgulhosos de serem “de Roraima”, de declarem que também dançam o Parixara, que cantam de pulmão cheio como se fossem cunhãs e curumins pedindo mais areia para movimentar esse motor da cultura Macuxi. A Casa do Neuber, estabelecida por noites seguidas de esperança e trabalho árduo junto com sua família, hoje é a morada daqueles que acreditam que Roraima tem jeito, mediante os seguidos butins oficiais, e que o fortalecimento de nossa cultura é um dos meios de superar os obstáculos impostos por aqueles que não se acordaram para esta realidade. Não foi fácil. Eu lembro que, nos shows em lugares públicos, sobravam ironias, piadas e até vaias. Nas apresentações nas noites roraimenses, havia quem gritasse: “Toca forró!”. Até um nocaute técnico Neuber pegou só porque se negou a tocar uma música que estava sendo insistentemente por uma dessas pobres almas que surgem nas noites. Hoje, tudo isso é motivo de piadas que compõem o extenso livro não escrito de causos daqueles que lutaram pelo regionalismo, por suas próprias composições e não se renderam ao lugar comum. Afinal, a música regional ganhou o seu destaque e até virou Pop na voz e batida de Neuber. Então, parabéns de novo, Neuber Uchoa! Continuamos a fazer parte dessa mesma teia. E queremos que esta casinha de abelha possa continuar produzir mel de fertilidade de nossa cultura e que seu exemplo de dedicação e persistência seja perpetuado pelas gerações na Terra de Makunaima e levado pela Cruviana além de todas as fronteiras. *Jornalista [email protected]