Jessé Souza
O crime que se organiza 28 01 2015 553
O crime que se organiza Jessé Souza* Embora as autoridades insistam em negar a existência de um crime minimamente organizado em Roraima, os assassinatos com sinais claros de execução têm ocorrido com mais frequência nesses primeiros dias de janeiro. Se não for acerto de conta com o tráfico, os casos podem ser queima de arquivo. Na outra ponta, a propaganda tem sido outra arma dos criminosos, que já incendiaram ônibus e veículos públicos para chamar a atenção da imprensa e afrontar as autoridades constituídas. E, por último, foi divulgado um vídeo em que claramente faz apologia ao crime organizado. O fato é que, se o Estado está desorganizado, entregue ao descaso, obviamente que os criminosos se sentirão fortalecidos, pois os criminosos naturalmente já mantêm uma estrutura mínima de organização, independente da existência ou não de facções criminosas. Como os bandidos dominam os presídios – apesar do esforço dos profissionais que lá estão, atuando sem estrutura – e as polícias não conseguem fazer frente ao avanço das drogas, assaltos e outros crimes que alimentam a estrutura do crime, então é natural que os criminosos sintam-se à vontade para agir, inclusive afrontando os poderes constituídos. Não podemos esquecer que Roraima faz fronteira com dois países, Guiana (a Leste) e Venezuela (ao Norte), o que significa uma ação mais forte do narcotráfico e suas ramificações, além de outros crimes que comumente existem em áreas fronteiriças. Isso significa que a obrigação de encarar as organizações criminosas que por ventura atuem no Estado não é apenas das autoridades estaduais. É também do Governo Federal, que até hoje não mostrou atuação eficiente nas fronteiras nem muito menos para tomar conta dos presos federais. E, desta forma, tudo acaba caindo nas costas do combalido Estado, afundado pela incompetência de governantes e as corrupções que minaram as forças para combater os crimes. Pode-se pensar que os bandidos poderiam estar fazendo uma “faxina” entre eles. E o povo costuma comemorar morte de bandidos como se execução de pessoas resolvesse a questão da bandidagem. Não resolve, pois os bandidos primeiro começam a fazer queima de arquivo e, sentindo-se com poderes absoluto, começam a praticar crimes contra o cidadão de bem, constituindo um poder paralelo. O povo já paga caro pela ação dos criminosos, seja na hora que perde uma moto ou um carro para um assaltante, que troca o veículo por droga ou o utiliza para praticar mais assaltos, seja na hora que tem sua residência ou seu estabelecimento comercial assaltado por bandidos que precisam de recursos para sustentar suas ações criminosas. O momento é delicado. Pelo que se vê, as autoridades estão desarticuladas e sem uma política de governo para enfrentar essa realidade. E o Governo Federal assiste a tudo isso como se o problema não fosse com ele também. Enquanto isso, qualquer um de nós pode ser vítima de um assaltante qualquer ou de uma ação mais ousada de criminosos minimamente organizados. *Jornalista [email protected]