Jessé Souza

A segunda praga 30 01 2015 563

A segunda praga Jessé Souza* O sucateamento do Estado, que está sendo evidenciado pela massiva divulgação da atual administração como recurso político, não é resultado tão somente do desvio de recursos públicos (a forma de corrupção mais conhecida) ou da incompetência administrativa. Vai mais longe que isso. O Estado de Roraima chegou a esta situação devido à forma como a política partidária conduz a política de governo, incluindo aí o toma-lá-dá-cá permitido nesse jogo político. Toda a estrutura do Estado é construída a partir da eleição que se passou e, depois, já pensando na eleição que está por vir. Em tempo de eleição, abre-se uma temporada de permissividade no governo, quando policiais, professores, secretários, jornalistas, profissionais de saúde e outros servidores públicos tiram seus crachás de agentes do Estado e vestem a roupa de agentes partidários, tornando-se não apenas cabos eleitorais, mas também em agentes cumpridores de crimes eleitorais. Não há como o Estado resistir administrativamente e financeiramente quando a polícia é transformada em polícia partidária e política. Impensável achar que a saúde pública vai funcionar quando profissionais que deveriam estar salvando vidas vão pedir votos para seus grupos. Nem a educação resistirá quando escolas se transformam em comitês eleitorais. Agindo desta forma, não há governo que resista a todo corpo de profissionais e secretarias que, em vez de estar trabalhando em benefício da sociedade, fica mobilizado para eleger políticos ou reeleger governos. A estrutura não suporta o joguete, porque a lei da física já diz que um corpo não pode estar em dois locais ao mesmo tempo, ou seja, ou eles pedem e compram voto, ou eles trabalham para o bem do serviço público. E é desta forma que o Estado vem sendo quebrado ao longo dos últimos pleitos, passando pela segunda praga, a do cupim (a primeira todos já sabem, a do gafanhoto). Terminado o pleito, é difícil tudo voltar à normalidade e consertar os rombos, pois aos derrotados só resta abandonar o mínimo que vinha sendo feito no serviço público. Aos vitoriosos do pleito, começa o momento de pensar como vão fazer a nova divisão do despojo, ou seja, como vão se acomodar na nova administração, como os cargos serão partilhados entre os que se transformaram em cabos eleitorais. Se esta forma de conduzir o bem público não for mudado, incluindo aí o estancamento da corrupção em todos os níveis, não haverá como o Estado de Roraima sair dessa condição de terra arrasada. O que esperamos é que esta administração que aí está conserte o que está errado. E que os erros que levaram o Estado a chegar a esta condição de penúria não voltem a ser cometidos. Afinal, uma nova eleição já se aproxima, a de 2016. *Jornalista [email protected]