Opinião
Opiniao 05 02 2015 587
Repetir palavras nem sempre é sinal de pobreza de vocabulário – Antonio de Souza Matos* Aprendemos, desde as primeiras letras, que é errado repetir palavras em um texto. No entanto, a repetição, às vezes, é necessária para dar clareza ao enunciado, enfatizar uma ideia, entre outras finalidades estilísticas. No livro “Lutar com palavras: coesão e coerência” (2005), Irandé Antunes, doutora em Linguística pela Universidade de Lisboa, nos mostra que a repetição é um dos procedimentos da reiteração – tipo de relação textual que consiste em retomar um segmento do texto para manter a coesão e a coerência. Segundo a autora, a repetição pode se dar pelos seguintes recursos: paráfrase, paralelismo e repetição propriamente dita. A paráfrase é “uma operação de reformulação, de dizer o mesmo de outro jeito”. É empregada para esclarecer um conceito, uma informação, uma ideia. Aparece geralmente após expressões como: “isto é”, “ou seja”, “em outras palavras”. O paralelismo é “um recurso muito ligado à coordenação de segmentos que apresentam valores sintáticos idênticos”. Em outras palavras, é o emprego de uma estrutura gramatical similar com o propósito de manter uma simetria ou harmonia entre segmentos textuais (note que usei a paráfrase para explicar o paralelismo). No período composto “É conveniente chegares a tempo e trazeres o relatório pronto”, vê-se o paralelismo, uma vez que, na última oração, o verbo trazer aparece também no infinitivo pessoal, a exemplo do que ocorre na segunda oração – ambas exercem a mesma função sintática, de sujeito da primeira. Haveria a quebra de paralelismo se a frase fosse escrita assim: “É necessário chegares a tempo e que tragas o relatório pronto”. A última oração, como se pode observar, quebra o paralelismo, pois vem introduzida pela conjunção “que”, e o verbo aparece no presente do subjuntivo: “tragas”. É comum a quebra do paralelismo em segmentos como este: “Temos de pagar imposto, quer queiramos, quer não”. De um modo geral, escrevemos: “Temos de pagar imposto, quer queiramos ou não”. A quebra, neste caso, se deve à substituição da conjunção coordenativa alternativa “quer” pela conjunção coordenativa alternativa “ou”. É comum também a quebra do paralelismo em segmentos semelhantes a este: “papel desempenhado pelo homem e mulher”. Para mantê-lo, teríamos de escrever: “papel desempenhado pelo homem e pela mulher”. Já a repetição propriamente dita consiste em retomar uma unidade usada anteriormente – uma palavra, uma sequência de palavras ou até mesmo uma frase inteira. Ela é um recurso do qual não podemos prescindir, pois desempenha algumas funções coesivas relevantes, tais como: marcar a ênfase que se pretende atribuir a um determinado segmento, marcar o contraste entre segmentos, servir como gancho para uma correção e marcar a continuação do tema em foco, conforme se pode ver nos exemplos abaixo: “Ninguém deve comprar imóvel sem antes fazer pesquisa. Ninguém.” (Repetição do pronome “ninguém” para dar ênfase à informação da frase anterior). “O problema não está no estudante; o problema está no sistema.” (Repetição do substantivo “problema” para marcar o contraste entre estudante e sistema). “[…] A organização estava a cargo dos diplomatas, mas Rafael Grecca assumiu-a para promover uma festa popular. Popular?” (Repetição do adjetivo “popular” para corrigir a informação da unidade anterior – todo o período). “Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor […]” (fragmento extraído do poema “História de Flor”, de Carlos Drummond de Andrade). Nesse poema, o autor repete a palavra “flor” cinco vezes, para dar sequência ao tema sobre o qual discorre. Quem ousaria reprová-lo? Além dos exemplos dados, que tratam da funcionalidade da repetição, diz Irandé, deparamos com uma série de situações em que se torna praticamente impossível não repetir uma palavra. Por exemplo, não é fácil conseguir um substituto para palavras como cooperativismo, comunismo, democracia, pecuária. A autora esclarece que o número de ocorrências das palavras repetidas varia de acordo com uma série de fatores, tais como gênero, intenções e tema. Convém ressaltar que a repetição não é um recurso retórico restrito ao texto publicitário ou poético, como alguns pensam. Ela aparece com frequência em vários tipos de texto não literários: editoriais, artigos, relatórios, reportagens, entre outros. Assim, não precisamos ficar com essa paranoia na cabeça de não querer repetir palavras, achando que vamos cometer um crime de lesa-pátria. Mas é bom lembrar que esse recurso só tem valor quando torna o texto mais funcional e mais expressivo. *Professor e revisor de textos. E-mail:matoseluiza@yah ————————————- O que fiz, o que faço, o que farei – Afonso Rodrigues de Oliveira* “A descoberta de uma nova existência tirou o ser o ente do abismo solidão”. (Rosilene Santos) A solidão é, realmente, um abismo. Geralmente caímos nele, mesmo quando vivemos a euforia. E é aí que a onça bebe água. No histrionismo da inconsequência nem mesmo percebemos que estamos na roda gigante da solidão. É quando pensamos que estamos sendo espertos. Que sabemos que a vida é curta e temos que viver como achamos que devemos viver. Questão de escolha. O pior nisso tudo é que nem sempre sabemos fazer a escolha adequada e certa para viver a vida. A Rosilene e eu conversávamos muito. E ela nunca me disse como descobrira uma nova existência. Mas ela sabia. Era uma garota inteligente e muito sagaz. É quando descobrimos a nova existência que vivemos intensamente a existência presente. Pois sabemos que a nova só virá depois da atual. As duas não se misturam. Está cada vez mais comum falar-se na nova volta. Mas, na verdade, nem todos sabem o que ela realmente significa. E é aí que, de acordo com nossa tendência à crença induzida, começamos a acreditar que seja uma questão religiosa. O que não tem nada a ver. A verdade é que somos todos da mesma origem. Chegamos aqui todos juntos e com os mesmos propósitos. Deformamo-nos e nos reabilitamos, mas num processo tremendamente lento. E nesse vai e vem, aconteceram, e sabe-se lá quantos, dilúvios que já houve, para que voltemos sempre sem saber por que nem pra quê. Mas fique frio. Não necessitamos de nenhum dilúvio para retornar. O importante é que saibamos nos preparar para a nova existência. Porque a vida não é curta como imaginamos. Apenas ainda não aprendemos, cientificamente, como preparar nossas novas embalagens para que não vivamos na ilusão de que morreremos. Porque não morremos. Apenas trocamosde embalagem e voltamos para completar nossa evolução. E isso requer responsabilidade no que fazemos em cada existência, sobre a Terra. Portanto, não perca seu tempo com momentos que não tragam aprimoramento para sua nova existência. As verdadeiras verdades sobre a vida só as descobrimos, (quando descobrimos), depois que desperdiçamos boa parte da nossa existência. Nem imaginamos que começamos a envelhecer no momento em que nascemos. Daí para frente a contagem é regressiva. O que nos leva a descobrir que a única certeza que o ser humano tem da vida, é a morte. E quando nos conscientizamos disso, aprendemos a viver para a nova existência. É quando realmente começamos a ser feliz, maduramente. Seja feliz fazendo sempre o melhor que você poder, e deve fazer. Você pode. Pense nisso. *Articulista [email protected] 99121-1460 ———————————— ESPAÇO DO LEITOR VIVO O internauta, David Robson, enviou o seguinte e-mail: “Desde a segunda-feira o sistema de internet dos telefones da operadora Vivo estão inoperantes. Nem a linha 4G, que é disponibilizada pelo modem, estava funcionando. O engraçado é que no final do mês são cobrados os valores normais, como se o sistema estivesse funcionando durante todo o mês. Apesar de ser um assunto que estamos repercutindo toda semana, nenhuma solução foi apresentada pela empresa”. PREÇOS A dona de casa, Raquel Lima, comentou que já era esperado o reajuste no valor de alguns itens da cesta básica, por conta do aumento do preço dos combustíveis, que seria imediatamente repassado ao consumidor. “Mas causou estranheza, pois um dia após o aumento alguns preços reajustados já eram visíveis nas prateleiras de alguns supermercados e nas feiras-livres, principalmente frutas e hortaliças. Até concordo com itens que sejam importados de outros locais, mas os produtos regionais deveriam aguardar um pouco mais”, frisou. CONCURSOS O leitor, Ângelo Alves, comentou sobre a divulgação de editais de concursos públicos, previstos para acontecer ainda na primeira quinzena deste ano. “O interessante é que os candidatos investem em cursinhos preparatórios, dedicam boa parte de seu tempo aos estudos e, em alguns casos, após a realização do certame, não existe a garantia de que iremos assumir o cargo, pois existe a interferência jurídica, quando o processo das fases previstas no edital, ficam paralisadas. E o prejuízo acaba sendo do candidato”, escreveu. RESPOSTA Em relação ao comentário feito por uma leitora, referente ao lote na região do Roxinho, no Município de Mucajaí, a Secretaria de Comunicação do Governo do Estado afirmou que o Iteraima “preza pela total imparcialidade nos procedimentos seguidos pelo órgão e que a prioridade é o desenvolvimento de ações que garantam celeridade e transparência, na tramitação dos processos”. Sobre a invasão do prédio do órgão, afirmou que todas as medidas administrativas e jurídicas estão sendo tomadas pelo Iteraima, além de medidas para aumentar a segurança do prédio.