Jessé Souza
Uma pergunta e os monstros 12 02 2015 619
Uma pergunta e os monstros – Jessé Souza* Como eu já havia afirmado por aqui outras vezes, quando o poder constituído mostra-se perdido e desorganizado, o crime se organiza e monta um poder paralelo. O surgimento de mais um fato demonstrando que criminosos estavam articulando atacar policiais militares e agentes penitenciários representa uma prova de que é necessário prioridade no sistema prisional, que se tornou um quartel general da bandidagem. Mas, como tratar os presídios com a urgência necessária se o governo sequer consegue pagar salário dos servidores em dia? A pergunta não é fácil de ser respondida, uma vez que o Estado vem sendo sucateado ao longo dos anos, o que permitiu também a favelização dos presídios e o sucateamento do sistema prisional. A questão é que os governantes e os demais políticos que dão apoio a estes governantes não se mostraram interessados em dar prioridade ao sistema prisional, que é a origem dos principais crimes que a população enfrenta em Roraima. Não se preocuparam porque eles têm segurança pago pelo contribuinte e a violência que atinge o povo não chega até eles. Assim como não deram atenção ao sistema prisional, também largaram a saúde, a educação e outros setores importantes. Os políticos se preocuparam em montar seus esquemas eleitorais e largaram o Estado ao desmando, criando os monstros que assombram a população, do crime organizado, passando por escolas espedaçadas a hospitais arrasados pela falta de recursos e de estrutura. Enquanto o Estado ficou destruído, políticos construíram mansões, acumularam riquezas, tomaram de assalto terras públicas e bancaram campanhas eleitorais milionárias. As estruturas do governo ficaram sucateadas a ponto de não conseguirem mais proporcionar serviços públicos com o mínimo de eficiência. O sistema prisional é apenas uma das facetas do desmantelamento provocado por esse desmando. Mudar este quadro não é fácil, não apenas pela falta de recurso e pela falta de vontade política de encarar os monstros. Mas também porque a estrutura foi corrompida e a instituição contaminada pelo crime que se organizou. Não é o cidadão nem a imprensa que devem responder ao questionamento de como mudar este quadro. São os políticos e os governantes que elegemos que devem dar esta resposta, pois para isso foram revestidos do poder, por meio do voto, e para isso ganham muito bem, obrigado. O que a sociedade não pode permitir é que os políticos continuem na omissão, fingindo que o problema não é com eles, mantendo uma briga de “oposição e situação”, “do bem contra o mal”. É hora de os “trazedores de recursos” mostrarem que são realmente atuantes – e não apenas para resolver os problemas do sistema prisional, mas todos os demais. *Jornalista [email protected]