Opinião
Opiniao 20 02 2015 644
Uma herança nada distante – Breno Rosostolato* Algo de muito triste está acontecendo no mundo. É como um forte pressentimento de colapso da humanidade. A tragédia, mais do que anunciada, porém, inevitável. Estamos vivendo em absurdos, já há algum tempo. Mas tudo bem, a humanidade se sustenta neles. Somos inundados com a violência do dia a dia e ela vem em todas as formas imagináveis. Acontece que — seja ela social, emocional, na família, no trabalho, ou mesmo pela corrupção — intolerância, preconceito, discriminação, ressentimento e segregações não são ‘modismo’. Fruto de um passado manchado por barbáries, toda violência é resultado de equívocos, distorções e ignorância. Em construções sociais, a violência reverbera, ecoa. Ainda que possua suas oscilações, ora rústica e embrutecida, como uma briga de torcida, ora mais elaborada, como numa guerra, que conta com uma boa estratégia e planejamento estruturado. Não importa: trata-se de uma tradução do momento histórico e da natureza do ser humano em sua faceta bestial. No dia 5 de janeiro, houve uma passeata que contou com a participação de aproximadamente 15 mil manifestantes, na cidade de Dresden, contra a suposta ‘islamização’ da Europa. O grupo que organizou o encontro intitula-se como Pegida, sigla alemã para ‘Europeus Patriotas contra a islamização do Ocidente’, em tradução livre. Desde dezembro do ano passado, as manifestações acontecem regularmente, às segundas-feiras, e vêm ganhando cada vez mais seguidores. O Pegida não é um partido, mas um movimento populista sustentado pela xenofobia. Engloba ira e descontentamento contra cidadãos islâmicos, generalizando a ideia de que o terrorismo é típico de todos os muçulmanos que imigram para a União Europeia. O que mais assusta é que, o movimento, embora não tenha amparo político, alimenta-se de mentalidades, ideias e opiniões bastante preconceituosas e segregadoras. Com um forte aumento de intolerância social, países europeus se veem envoltos em movimentos radicais de alguns partidos. Assim é, por exemplo, o comportamento da francesa Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, que defende a saída da França da União Europeia e, consequentemente, da zona do Euro. Além disso, endossa os protestos do Pegida. Os austríacos, por sua vez, possuem o FPO – Partido Libertário da Áustria, cuja ideologia se sustenta no liberalismo e no nacionalismo. No Reino Unido, o UKIP – Partido da Independência – é de direita populista e eurocéptico e, assim como o FN, luta para se retirar do bloco socioeconômico. Já na Suíça, a União Democrática do Centro (SVP), aderente ao conservadorismo nacional, prega a redução da imigração e critica, severamente, o islã. O surgimento do Pegida é concomitante ao retorno dos movimentos e partidos políticos neofascistas e neonazistas, bem como inflamam o discurso de ódio e o etnocentrismo. Simpatizantes do nazismo crescem cada vez mais na Grécia e na Hungria. O antissemitismo aumenta na Holanda e na própria Alemanha. O partido grego neofascista, Aurora Dourada, em um de seus manifestos deixa claro sua preocupação pelo controle estatal, sobre a economia e toda a propriedade privada. Leia-se: “O Estado deveria ter controle sob a propriedade privada, de forma que ela não seja perigosa para a sobrevivência do povo ou possa manipulá-lo. A economia deveria ser planificada, de forma que sirva à política nacional e assegure a máxima autossuficiência, sem dependência do mercado internacional e controle de qualquer companhia multinacional”. Nas linhas acima, enfatiza-se uma política nacional que controla a economia e se critica uma subordinação ao mercado internacional. Isso nos remete a um nacional socialismo, tal qual Hitler e Mussolini pregavam. Inclusive, os seguidores do Aurora Dourada saúdam o ditador alemão como seu mentor. A música Horst Wessel – hino adotado pelo partido nazista – foi igualmente cantada, em alto e bom tom, do lado de fora do parlamento, em Atenas. O livro Mein Kampf, de Hitler, tornou-se um bestseller na Turquia em 2005. Seja o fascismo de Benito ou o nazismo de Adolf, as ideologias amparadas no etnocentrismo determinam uma maneira particular de reacender este sentimento. A concepção de pertencimento a uma sociedade baseia-se numa imposição à coletividade, na qual todos devem pensar da mesma maneira, por fazer parte de um grupo. A Aurora Dourada, assim como outros partidos europeus, é mais do que resquício, é a herança de uma ideologia inflamada, fonte para um cenário de segregação, ódio e violência. *Professor de Psicologia da Faculdade Santa Marcelina – FASM. ——————————————– Terminou o carnaval, não terminou? – Afonso Rodrigues de Oliveira* “A política tornou-se uma simples especialidade parlamentar. Não é mais a arte de governar um Estado, mas a de ser eleito deputado ou ministro”. (A. Capus) Vamos lavar e guardar as fantasias, e vestir a fantasia do carnaval cívico. Sem brincadeira. Vamos conversar sério. Porque já passou do ridículo e está ficando cansativo esse assunto da falta de água. Ele é o reflexo mais notável, nada notado, da incompetência política. E, novamente, vamos esclarecer: estou me referindo aos maus políticos que, infelizmente, tornaram-se maioria na nossa política. Mas nada de briguinhas comadrescas. Estou sem tempo para procurar no arquivo, e não me lembro de quem é o autor da frase: “A ciência e a religião sempre andaram de mãos dadas. A religião, quando descobre alguma coisa e não consegue provar, fantasia. A ciência quando descobre e não consegue provar, engaveta”. É por isso que, atualmente, a ciência está sempre descobrindo coisas. Mas ainda não descobriu como não deixar faltar água numa região com o maior aquífero do mundo. Talvez porque os grandes cientistas antediluvianos não tinham descoberto. E se não descobriram, afundaram nos oceanos e não nos deixaram dados. Mas ainda não estamos conscientes de como evoluímos sobre este planeta, parte de uma parte do universo,e que ainda continua despreparado para o progresso. Nada de alarmismo nem pessimismo, mas procure ver como será nossa sociedade daqui a cinquenta anos. A população continuará a crescer desordenadamente, e não nos preparamos para o desenvolvimento. Cada governador que assume o poder continua acusando seu antecessor pela desordem administrativa. Sempre que dou uma caminhada pelas ruas de Boa Vista, volto pra casa pensando nisso.Pensei nisso dando uma passada pelos corredores do Hospital Coronel Mota. Você sabe em que ano ele foi construído? Acho que foi na década de setenta. O estado de decomposição das janelas no corredor do hospital nos dá uma perfeita ideia do descaso com a coisa pública. Simplesmente degradante. E por aí vemos que ninguém está vendo o Estado crescer, a população aumentando assustadoramente e sem ver preparo para ser atendida pelo poder público. Quando será que os administradores vão perceber que o Hospital Coronel Mota, assim como muitos outros órgãos públicos no Estado, não tem mais condição de atender satisfatoriamente? Sei lá. Preparar-se para a política não significa preparar-se para ser eleito. É necessário muita responsabilidade e respeito pelo eleitor, que ainda é obrigado a votar, pensando que vive numa democracia. Pense nisso. *Articulista [email protected] 99121-1460 ——————————— ESPAÇO DO LEITOR INCÊNDIOS O leitor Francisco Silva enviou e-mail relatando que no feriado de Carnaval, ao retornar do Município de Pacaraima com a esposa, eles identificaram vários focos de incêndios ao longo da BR-174. “O que mais nos chamou a atenção foi que a cada 10 metros encontrávamos bem próximo à estrada a mesma incidência dos focos. A impressão é que se tratava de algo intencional. Repudiamos este ato por se tratar de uma questão de extrema fragilidade pela qual passa o Estado de Roraima em relação à forte estiagem que atinge os municípios da região norte”, comentou. ESCOLAS A internauta Aparecida Lins comentou: “Estou apreensiva quanto ao início das aulas na próxima segunda, 23, devido ao fato algumas escolas não estarem com a reforma concluída, a exemplo da Escola Ayrton Senna, que apresenta tanto algumas deficiências estruturais quanto humanas, como falta de coordenadores, assistentes de aluno e professores. Esperamos realmente que seja cumprido o calendário escolar para que os alunos não sejam prejudicados, já que terão que suprir, aos sábados, a reposição das aulas”. TRÂNSITO O leitor Carlos Calheiros comentou sobre a criação, pelo Ministério Público de Roraima, da Promotoria Especializada de Trânsito. Ele disse que é de extrema importância, tendo em vista que os órgãos responsáveis pela política de trânsito não conseguem implementá-la dentro de uma ordem técnica e planejada. “Foi realizado um grande trabalho técnico por engenheiros de trânsito, em 2011, sobre a realidade do trânsito de Boa Vista, porém, ficou jogado nas gavetas dos gestores”, afirmou. DEMOLIÇÃO A demolição de um dos primeiros hospitais da Capital motivou inúmeros comentários de leitores indignados com a falta de preservação do patrimônio histórico. “O descaso com nossa memória arquitetônica é visível, a ponto de chegar a demolir prédios históricos. Mas, como roraimense, percebo que esta situação não é de hoje. Na realidade, os governantes não dão a mínima importância para o resgate histórico. Nossa geração não tem o registro de um dos primeiros estádios de futebol, que foi o João Mineiro, e outros lugares de igual importância. Quando não colocam abaixo, descaracterizam a obra original”, protestou a servidora pública Alzira Menezes.