Jessé Souza

Mais do mesmo 25 02 2015 660

Mais do mesmo – Jessé Souza* A carnificina registrada na noite de segunda-feira, na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, já era esperada, uma vez que a estrutura física precária e a falta de controle efetivo do Estado do portão do presídio para dentro não permitem se fazer muito, a não ser administrar tentativas de fugas, brigas internas e rebeliões. Em governos passados, acuadas pela falência do poder público no sistema prisional, às autoridades só restavam fazer acordos com chefes de alas: “Damos regalias a vocês e, em troca, vocês seguram a panela de pressão para não explodir”. E, então, aquele presídio se tornou uma “colônia de férias”, com o surgimento de uma elite de presos que passaram a ter o comando, inclusive com o surgimento de comércios lá dentro. As regalias eram tantas que permitiu o surgimento de um poder paralelo no presídio, o que significou um passo para que o crime se organizasse não apenas lá dentro, mas também aqui fora, comandando crimes contra adversários criminosos e contra a sociedade, principalmente assaltos a comércios, a cidadãos que faziam saques no banco ou que possuíam algum veículo que pudesse render grana para alimentar o sistema criminoso. Com o mínimo de organização mediante um Estado falido, foi fácil para as facções criminosas se instalarem, uma vez que Roraima é um ponto estratégico para o crime, por fazer fronteira com a Guiana, a Leste, e a Venezuela, ao Norte. Se os políticos não conseguiram efetivar o Estado como corredor de exportação comercial para o Caribe, ficando só no gogó, os bandidos mostraram competência. O resto da história todos sabem. O Estado perdeu o controle, ficando refém de regalias para que a panela de pressão não explodisse. E qualquer ação para endurecer o sistema era respondida com tentativas de fuga em massa, rebelião e ameaças aos servidores civis e militares. Hoje o presídio não tem estrutura para manter facções criminosas separadas. Nem para combater o crime organizado lá dentro. Foram anos de omissão não só do governo, mas de todos os poderes constituídos que levaram o problema com a barriga. O discurso do atual do governo está pronto, porque é óbvio que governos anteriores (inclusive do mesmo grupo quando no poder esteve) relegaram o sistema ao descaso. Mas a situação está ficando cada vez insustentável, uma vez que quase a totalidade da criminalidade em Roraima parte do sistema prisional, sob comando de facções. E ficam as perguntas repetidas a cada cena violenta dentro dos presídios: as autoridades vão parar de discurso e encarar o problema em busca de soluções definitivas? Ou ficarão no paliativo de sempre, recorrendo à concessão de regalias a presos porque simplesmente o Estado perdeu o controle do portão para dentro da Penitenciária? *Jornalista [email protected]