Opinião
Opiniao 03 03 2015 687
Caboco das águas – Walber Aguiar* Conheci um homem encantado, que andava sobre as águas, que falava com os peixes, que amava navegar… Era quase março quando ele se foi. Levou embora o sorriso, o papo longo, o olhar sereno, o desejo de fazer e de cuidar, de sonhar e de ter uma visão holística, integral, ampla do existir. Privou-nos da poesia, do equilíbrio, da luz que irradiava à sua volta, do tempo que nem sentíamos passar quando o assunto era água. Era quase o mês das águas quando o caboco saltou no igarapé divino, no rio da misericórdia, no mar da graça e da bendita esperança. Saltou na direção de Deus, sempre com a alegria escandalosa que carregava consigo. Caboco Dagmar não tinha tempo para a solidão nem vocação para o isolamento. Sua vida era profundamente marcada pela alteridade, pelo desejo de se envolver com o outro. E foi assim que casou com sua prima Sônia e teve muitos filhos; foi assim também que casou com a Rádio Roraima e teve dois programas; foi assim que casou com a vida e teve uma verdadeira legião de amigos. Daí nasceu a amizade do poeta com Dão, Lauriston, Boca, Camiranga, Magno, Wallace, caboco Mororó, Francélio, Clério, Danilo, Chinelão, Barbosinha, Tio Bira, Walter Aprígio, Genésio do trombone, seu Pinheiro, Allan e as meninas da tia Zélia. Isso pra citar apenas o bairro de São Francisco, onde morava o homem da viola e das composições. Ensinou-nos a arte da boemia, cantou canções suas e de outros cantores. viveu como bem entendeu viver, até voltar ao aconchego da comunhão com os irmãos da Assembléia de Deus. Ora, Dagmar era apaixonado pela água. Sua vida girou em torno dela e ela girou em torno dele. Queria aplacar a sede das crianças, adolescentes e adultos quando conversava com eles na Caer, debaixo do velho pé de manga, com aquele porte de mestre, com a elegância de uma maestro, com a simplicidade de um pescador. O caboco das águas queria atingir todo o Estado de Roraima. Filho de ìris Galvão Ramalho, poeta, ex-vereador e amante dessa terra, e de dona Jandira, uma mulher guerreira, o caboco carregava no peito todo o amor que herdou por essa terra. Diferente de muitos que se locupletam, que roubam, que são corruptos e corruptores, o velho Dag queria espirrar a água do amor e o amor da água sobre a cabeça e a consciência de todos. Aspergir, feito batismo, mergulhar milhares de homens e mulheres no doce Rio Branco e seus afluentes. Através da Rádio Roraima ele emocionava e derramava lágrimas. Lia poemas e navegava nas águas literárias da Academia Roraimense de Letras. Dagmar, com sua “Gota Serena” e seu “Voltando pra Casa”, conseguiu sensiblizar, transformar, enriquecer o coração de todos os ouvintes com suas palavras de alegria e esperança. Sim, a penúltima vez que nos vimos, ele estava debaixo da mangueira. Com a camisa amarela da Caer, calça jeans e um chinelo. Aquela imagem vou guardar pra sempre; pois não consigo lembrar dele morto. Adeus, irmão, amigo, confrade, poeta, compositor, pai, filho, parceiro e consorte. Sei que um dia nos encontraremos debaixo das ingaranas celestiais, contaremos longas histórias, conversaremos com banzeiros e nos refrescaremos no rio que passa no meio da cidade santa, a Nova Jerusalém… *Advogado, poeta, historiador, professor de filosofia e membro da Academia Roraimense de Letras. [email protected] tel. 99144-9150 ————————————– Mendigo também é gente – Marlene de Andrade* Todas às vezes que passo, de noite, em frente de certo restaurante do centro de nossa cidade e vejo um mendigo deitado naquela calçada, fico muito triste. Sinto-me no lugar daquele homem e imagino-me naquela situação tão cruel. Os nossos governantes poderiam atuar nesse problema se quisessem, entretanto, como mendigos e andarilhos não votam, o descaso com eles é muito grande. Claro que esse é um conflito de alta complexidade, porém se houvesse boa vontade por parte do Poder Público, muito se poderia fazer por esse segmento da sociedade. Mas esperar o que da maioria dos políticos? Quem não se lembra de certo vereador do PT do B do município de Piraí, em uma sessão ordinária, que teve a coragem de dizer que moradores de rua deveriam virar ração de peixe? Em 1992 passei dois meses em Portugal e fiquei impressionada ao perceber que as pessoas estavam migrando para os grandes centros, visto que a construção civil estava em alta naquele país. Dava pena de ver, no interior daquele referido país, as parreiras cheias de cachos de uvas se perdendo, visto que uma parte da população havia migrado para Lisboa a fim de trabalhar como operário da construção civil. Nada contra, mas já àquela época, eu imaginava que esse êxodo poderia se reverter em grande problema social. Esse fenômeno foi ocorrendo não só em Portugal, mas também aos quatro cantos do mundo e acabou levando as pessoas se atirarem de corpo e alma nos grandes centros sob o pretexto que assim melhorariam de vida. Esse novo modelo de Estado, alicerçado no dualismo do bem-estar e desenvolvimento econômico foi bom por um lado, mas trouxe problemas sociais de alta relevância e um deles é o surgimento de uma população de moradores de rua que cada vez aumenta mais. Ora, se as grandes cidades estão inchando, as oportunidades vão diminuindo e isso tem a ver com matemática. Todavia, não podemos nos esquecer que aqueles que moram na rua sem nenhuma condição básica sanitária e, muitas vezes, em situação de risco, estão protegidos não só pela Carta Magna como também por diversos Instrumentos Internacionais do qual o Brasil é parte. Nesse viés, é bom lembrarmos que a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, em seu artigo XXV estabelece o seguinte: “Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis”. Infelizmente, essas normas não passam de letras frias, sendo assim, andarilhos, moradores de rua e mendigos, estão ficando cada vez mais sem chance de sair do fundo do poço. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor. (Romanos 13:10) *Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT https://www.facebook.com/marlene.de.andrade47 ————————————— Lidar com liberdade – Afonso Rodrigues de Oliveira* “A liberdade para lidar com as pessoas é um produto pelo qual se paga como pelo açúcar ou pelo café. E eu pagarei mais por essa liberdade do que por outra qualquer debaixo do Sol”. (Rockefeller) Como você está se sentindo no seu trabalho? Está treinado a lidar com as pessoas? Se não estiver, procure se preparar para isso. Isso é fundamental para a felicidade profissional. Quando somos livres não nos prendemos a problemas. Eles existem e estão aí. Não há como não se aborrece, vez por outra. O importante é não se deixar levar nem dominar pelo aborrecimento. E uma das medidas mais importantes neste caso é saber lidar com as pessoas. Não podemos, nem devemos, nos aborrecer com alguém porque ele não é igual a nós. Cada um é cada um. Cada um tem seu estilo, e seu comportamento depende do seu estilo, da sua educação. E a educação nem sempre vem do que aprendemos nas escolas. Se você não estiver se sentindo bem no seu ambiente de trabalho, procure outro ambiente. Se não o conseguir no mesmo emprego, procure outro emprego. Isso pode lhe parecer esquisito diante da dificuldade em se encontrar um emprego atualmente. Mas, na verdade não é bem assim. O que está dificultando o emprego atualmente é a falta de preparo para o emprego. Estamos vivendo um momento em que as empresas estão exigindo muito preparo no candidato. E isso vem acontecendo há, mais ou menos, meio século. E durante todo esse tempo não demos muita importância a isso. E por isso estamos pagando um preço muito alto. Uma das maiores dificuldades nas especializações é a dificuldade, ainda encontrada, em entender a importância das Ralações Humanas no Trabalho. Ainda estamos tentando levar as Relações Humanas para o ambiente de trabalho, através de palestras especializadas. Nada contra as palestras, mas o importante nas relações são as relações. E estas estão no comportamento de cada um. E este, nas relações no trabalho, vai depender do aprimoramento profissional. E isso, independentemente do tipo de trabalho. Quando treinamos para a profissão devemos levar em conta que ela vai ser executada no ambiente de trabalho. E é neste ambiente que nos relacionamos com pessoas de fora de nossa convivência familiar. A habilidade para lidar com as outras pessoas, nós a adquirimos na convivência. Não se iluda que o que vão pensar de você vai depender do seu comportamento com as outras pessoas. E só vamos entender isso quando entendermos que somos todos iguais nas diferenças. Então deixemos as diferenças de lado e vamos conviver na igualdade. E só quando nos respeitamos sabemos respeitar. Pense nisso. *Articulista [email protected] 99121-1460 —————————————— ESPAÇO DO LEITOR RESPOSTA 1 Sobre a nota “Consignado”, publicada na edição do fim de semana, o Governo do Estado esclareceu que, no mês de janeiro, a informação repassada foi de que não haveria o cancelamento do serviço de empréstimos em consignação para os servidores do Estado, e não a suspensão como afirma a leitora. A garantia dada pela Secretaria Estadual de Gestão Estratégica (Segad) era de que o serviço não seria cancelado, pois a suspensão já havia ocorrido em várias instituições financeiras. “Esclarecemos ainda, que em fevereiro o Governo do Estado firmou cooperação com a nova empresa, a Consignum, que está trabalhando agora com a migração do sistema”, frisou. RESPOSTA 2 Em relação ao apagão que pegou de surpresa os usuários de telefonia móvel na tarde de sábado, com inúmeros prejuízos ao comercio local, a empresa Oi enviou a seguinte nota: “A Oi informa que um rompimento de fibra ótica causado por ações de terceiros, na Venezuela, e falha de equipamento em Rorainópolis afetaram os serviços de internet e transmissão de dados da operadora em Roraima, no sábado, dia 28/02. Os serviços foram restabelecidos às 17h do mesmo dia”. SELETIVO Sobre a nota “Seletivo 1”, publicada na edição de ontem, o Governo do Estado esclareceu que em nenhum momento foi passada a informação de que a Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) não realizaria processo seletivo, conforme comentou uma internauta, mas que primeiro estavam sendo chamados os professores efetivos do Estado, visando fazer um levantamento da real necessidade de preenchimento de vagas na rede pública de ensino de Roraima. Posteriormente, foi anunciada a criação de uma comissão para a elaboração do edital de seleção dos profissionais, previsto para ser lançado no dia 27, conforme ocorreu. CONCURSO Os leitores continuam reclamando sobre a não realização de concursos públicos pelas prefeituras municipais, relatando que, após o recolhimento das taxas, sempre ocorre uma desculpa e o certame não é concluído. “Nós, que residimos no Cantá, estamos esperando a manifestação da empresa contratada para a realização do concurso para professor. Não existe sequer a previsão da continuidade do concurso. Agora resta entrar na Justiça e solicitar a devolução da taxa de R$ 100,00”, relatou uma leitora.