Jessé Souza
Sem mea culpa 702
Jessé Souza* Eu andava pelo Twitter, mas decidi congelar minha conta por lá quando bateu o cansaço de ver tanta gente reclamando como se o mundo obrigasse a gente a se ajoelhar em caroços de milho toda manhã. Fui para o Facebook, onde havia um pouco mais de felicidade, mas por lá os negativistas também chegaram. Só espero que não contaminem o Instagram. O fato é que não adianta fugir desta carga negativa virtual, pois essa gente que só enxerga o mundo em 50 tons de negatividade está por todos os lados. Toda vez que vou à escola do Sesc pegar meus filhos, vejo um pouco do lado negativo do Twitter e do Facebook ao vivo, na vida real. Ali, no horário de meio-dia, se torna uma foto 3×4 de como as pessoas tornam a vida ruim, porém elas vão para as redes sociais (ou para o boteco ou para o salão de beleza) destilar acusações aos outros, ao político, ao padre, ao pastor, ao governo, ao vizinho e ao outro pelos erros e fracassos. Nunca uma mea culpa. Ninguém quer estacionar seu carro um pouco mais longe por alguns minutos, caminhar até a porta da escola e pegar seus filhos. E não é só no Sesc. Isso ocorre na maioria das escolas, principalmente no Centro. Todos querem se afunilar em buzinaços, sem sair do carro, sem baixar o vidro, fazendo fila dupla, sem se incomodar que ele próprio está contribuindo para o caos, para uma vida mais cinza em um de seus tons desagradáveis. O trânsito, de uma forma geral, é desta mesma forma: todo mundo querendo sair 10 minutos de sua casa para deixar o filho na escola ou chegar ao local de trabalho no horário. E ninguém quer buscar rotas alternativas, sair minutos mais cedo ou dirigir por alguns metros a mais para aliviar o tráfego pesado no horário de pico. Os próprios condutores, que não querem se programar, depois vão para as redes sociais reclamar do “engarrafamento”, da “demora”, do “caos”, do “absurdo no trânsito”. Se todos saem em cima da hora para o trabalho, é óbvio que as vias de Boa Vista, largadas pelo poder público à falta de sinalização e de engenharia, não vão suportar. Ninguém quer dar sua parcela de contribuição para humanizar o trânsito. Acham que somente a engenharia de trânsito vai resolver o engarrafamento, os acidentes, as mortes, os transtornos. Do jeito que está, sem que o cidadão dê sua parcela de contribuição, se a Prefeitura encher a cidade de semáforos, de viadutos e de passarelas, quase nada adiantará, pois as mortes vão continuar ocorrendo, as portas das escolas continuarão um caos e os pontos onde nunca havia registro de problemas vão começar a tê-los. Então, o correto é deixar de ser “crítico” nas redes sociais e passar a enxergar que a vida coletiva só vai melhorar quando cada um der sua parcela de contribuição. A começar na hora de pegar o filho na escola. *Jornalista [email protected]