Jessé Souza

Dos ecochatos a uma politica seria 09 03 2015 713

Dos ‘ecochatos’ a uma política séria
Jessé Souza*
A crise enfrentada em São Paulo pela falta de água tem despertado para uma real necessidade de se discutir a questão de nossos mananciais em todo o Brasil. Porém, os espaços na sociedade para se discutir o abastecimento e a qualidade da água ainda são muitos pequenos, isso sem contar que as pessoas que querem tratar da questão do meio ambiente ainda são rotuladas de “ecochatas”.
Está comprovado, agora, que as forças da natureza podem surpreender pela falta ou pelo excesso, principalmente quando o poder público não tratou de se preparar para os períodos de seca e também para os períodos de cheia, como ocorre na Amazônia. Em Roraima, os ciclos são bem definidos, porém as autoridades sempre ficam “correndo atrás do prejuízo”.
Na questão dos mananciais, os igarapés têm sido relegados ao completo descaso, principalmente aqueles que existem na área urbana. O Mirandinha, o Caxangá e o Pricumã, por exemplo, foram sepultados em caixotes de cimentos, chamados pelos governos de “canalização”. 
As autoridades acharam que passar concreto no leito dos igarapés seria mais fácil e mais barato do que destinar recursos para mantê-los saudáveis, servindo para manter a natureza equilibrada, uma vez que todos esses cursos d’água desembocam no Rio Branco, o nosso principal manancial de água potável.
Outros igarapés localizados ao longo do trecho sul da BR-174, na saída para Manaus (AM), foram contaminados graças à ação também do poder público, que não planejou bem no passado, quando instalou o lixão próximo ao igarapé Grande; depois, na atualidade, o aterro sanitário foi construído também perto de outro igarapé, o Wai-Grande, contaminando o lençol freático e lançando detritos contaminados (chorume) para o leito do igarapé.
A falta de interesse dos governantes em preservar os mananciais pode ser sentida por meio das campanhas feitas pelas escolas públicas em favor da preservação de igarapés e suas matas ciliares, as quais nunca despertaram o interesse das autoridades. Sem apoio, as campanhas educativas morrem a cada ano letivo. 
Nem mesmo a proteção dos afluentes do Rio Branco (Cauamé e Caçari, por exemplo) desperta o interesse do poder público, que se limita a campanhas esporádicas nas praias públicas. Em um passado bem recente, até mesmo a Companhia de Água e Esgoto de Roraima (Caer) era (ou é) responsável por lançar dejetos nos igarapés que deságuam no rio.
É preciso que a crise da água enfrentada pelas grandes cidades desperte a sociedade para a necessidade de uma política de governo para pensar em soluções a fim de que os mananciais sejam preservados e na criação de programas de monitoramento da qualidade da água e de preservação dos mananciais. A realidade de São Paulo mostra que não se pode mais ficar omisso, pois o preço a pagar no futuro bem próximo será muito caro.
*Jornalista