Jessé Souza
Historia e histeria 13 03 2015 731
História e histeria
Jessé Souza*
Pululam nas redes sociais argumentos dos mais variados tipos para apoiar que o Exército novamente aplique um golpe na democracia com o argumento de sanear o Brasil para depois devolvê-lo para os civis. A quem defende essa ideia no mínimo esdrúxula, afirmo que é possível buscar na História os mais diversos documentos que comprovam que a antiga máxima de que “a pior democracia é melhor do que qualquer ditadura”.
Até mesmo a família Marinho reconheceu seu erro e lançou, no ano passado, o site “Memória O Globo”, onde reconhece que apoio editorial ao golpe militar de 1964 foi um erro. Esta iniciativa faz parte da discussão da cultura da empresa iniciada ainda nos anos 90 (para que fique bem claro que não se trata de um fato novo).
É preciso que a sociedade consiga separar o que é História do que é histeria de internet. Muitas pessoas estão sendo levadas pela superficialidade das redes sociais e não buscam conhecimentos para entender esse momento pelo qual o Brasil passa, resultado das eleições gerais que dividiram o país ao meio em uma disputa mais apertada de todos os tempos.
O que está em jogo, neste momento, é a garantia da liberdade de expressão, uma antiga batalha dos jornais brasileiros, mas que diz respeito a toda sociedade brasileira. O Brasil não vai bem, mas não podemos retroceder nas garantias conquistadas, como o direito ao voto, a liberdade de ir e vir, os direitos humanos, a liberdade de imprensa e de expressão, a pluralidade de pensamento.
Voltar ao militarismo seria um retrocesso sem precedentes, pois o Brasil tem condições de resolver seus problemas por meio da democracia, no que pese todas as condições adversas, com os poderes corrompidos, porém com pessoas que nunca se entregaram à corrupção e que cumprem com os seus deveres constitucionais.
A imprensa é um do sustentáculo da democracia, pois ela é um canal de informação e conhecimento do mundo, e por isso mesmo sempre deve estar amparada pelo princípio constitucional da liberdade de expressão, uma vez que as “personalidades públicas” (políticos, artistas, juristas, magistrados e tantos outros) constroem suas reputações em parte por exporem suas vidas na mídia permanentemente (Sérgio Vilas-Boas).
É por isso que, quando uma ditadura se instala, a primeira vítima é a liberdade de expressão e de imprensa, com o empastelamento de jornais e censura prévia a qualquer veículo que ouse a publicar o que não agrada os ditadores. Governos corruptos são igualmente avessos à imprensa justamente por isso.
É preciso que a sociedade brasileira analise direito esses discursos extremistas que não se sustentam à luz do esclarecimento. Deixemos os militares fazendo o que eles sabem fazer muito bem (e são treinados para isso), que é defender nossas fronteiras e manter nossa soberania. A gente tem condições de fazer essa faxina pelas vias democráticas.
*Jornalista