Jessé Souza

O enlatado e luva 18 03 2015 747

O enlatado e luva   –   Jessé Souza* Dias desses, estive conversando com uma professora sobre coisas da vida e de escola. E o que chamou muito a minha atenção foi o desabafo dela em relação à metodologia de ensino a qual as crianças estão sendo submetidas, especialmente nas escolas municipais. Conforme a interlocutora, os professores estão sendo obrigados a seguir uma metodologia que não privilegia a escrita e a leitura. Estão servindo nas escolas um produto enlatado, engessando o educador e, como consequência, emburrecendo o sistema e tornando as crianças reféns de um educação que não está interessada em formar pensadores, capazes de escreverem não apenas uma redação digna de vestibular, mas de serem leitores capazes de enxergar a vida. Não iremos construir uma nova geração para um Brasil que protesta na rua cobrando melhores condições de vida se as crianças não aprenderem a escrever e a ler. Não se forja uma nova geração melhor se as crianças não souberem ler. E ler não significa apenas decodificar a escrita ou satisfazer uma apresentação oral na frente da turma, mas ir mais além, que é pensar por si mesmo, que é ter um senso crítico capaz de não se deixar manipular no primeiro gogó demagogo ou qualquer propaganda bonita. Uma geração que não saiba ler e escrever não será capaz de ser dona do seu próprio destino. A metodologia enlatada que estão servindo na escola deveria ser uma preocupação de quem cuida da educação, pois geralmente um produto desse custa caro para os cofres públicos, e as cartilhas servidas geralmente estão distante da realidade das crianças. Há governantes pagando campanhas milionárias na mídia se enaltecendo por manterem quase 100% das crianças na escola. Porém, de nada adianta estar na escola com um modelo pedagógico que não ensina a pensar e agir, o que significa uma escola reprodutora de seres que cabem como uma luva nas mãos de maus políticos. É preocupante o que a professora relatou, pois os órgãos fiscalizadores mal estão mais preocupados se o prédio está passando por manutenção, se falta material escolar, se o transporte escolar está funcionando, se tem professor ou não. Mas nunca têm olhos para a metodologia de ensino e o que tem dentro da lata do sistema educacional literalmente comprado por milhões e “vendido” como algo inovador para professores. Muitos pais sequer têm noção do que está acontecendo, pois sequer eles têm tempo para cuidar de suas vidas na labuta diária como trabalhador assalariado. E, quando os pais falham, a sociedade é que deveria em agir no lugar deles. Mas quem se dispõe? No mais, o que se espera da escola pode ser resumida no pensamento de Jean Piaget: “A principal meta da educação é criar homens [e mulheres] que sejam capazes de fazer coisas novas, criadores, inventores, descobridores, formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar, e não aceitar tudo que a elas se propõe”. *Jornalista    –   [email protected]