Jessé Souza

De gravata e de chinelo 20 03 2015 761

De gravata e de chinelo   –  Jessé Souza*
A invasão e a grilagem de terras precisam ser freadas em Roraima. Lá em cima, autoridades de todos os naipes e matizes assaltam as terras públicas que a União repassou para o Estado. Aqui em baixo, oportunistas de toda ordem fomentam e executam invasões urbanas e rurais, sejam em áreas públicas ou privadas.
Este caso segue aquela máxima: “Se os de cima perdem o respeito, os de baixo perdem a vergonha”. Então, no desavergonhamento geral, o Estado de Roraima tornou-se o paraíso de grileiros de gravata e invasores de bermuda. 
No caso das autoridades, todo mundo está seguindo impune mediante o maior assalto a terras públicas que o Estado já registrou.  Em se tratando dos invasores de chinelo, os ocupantes e especuladores são tratados como cidadãos de primeira classe, recebidos como se fossem heróis da resistência na Câmara de Vereadores, na Assembleia Legislativa e nos órgãos governamentais.
Para dar um ar de movimento social, alguns poucos que realmente precisam de um lugar para morar são usados como bucha em atos públicos. As mesmas caras de invasores se repetem a cada frente de invasão, tanto na rural quanto na zona urbana. Mudam apenas as faces daquelas famílias que são utilizadas como escudo.
Já no caso da grilagem oficial, as autoridades de todos os níveis usam seus testas de ferros, laranjas para todos os gostos, que vão se apossando das melhores áreas produtivas, conseguindo documentos fraudulentos, expulsando pessoas humildes que não têm o documento da área que ocupam por longos anos ou simplesmente se apossando na cara dura.
Houve um dia em que a Polícia Federal chegou a investigar o bando engravatado. Mas, depois, tudo foi silenciado, as frentes de apuração recolhidas e o processo parado em alguma gaveta possivelmente por ordens supremas. Nem o órgão fundiário do Estado, o Iteraima, consegue resistir ao achaque, hoje sem diretor porque invasores foram para a Assembleia Legislativa pedir a cabeça da pessoa indicada, os quais foram atendidos pelos nobres deputados, conforme foi dito pelo líder do bloco. 
Aqui em baixo, a polícia e as autoridades fiscalizadoras até tentam agir, retirando os invasores, mas logo chegam vereadores, deputados, advogados e as mais autoridades com a finalidade de blindá-los e reafirmar que vão regularizar as áreas ocupadas por eles. O negócio é tão descarado que o Estado doou uma área privada, no bairro Cidade Satélite, para invasores.
Ou o Estado coloca em ordem a questão fundiária, ou ninguém mais terá segurança para investir em Roraima. E a indústria da invasão e da grilagem vai render frutos que irão tornar esta terra impossível de se viver dignamente. 
*Jornalista    –   [email protected]