Jessé Souza

Relendo a realidade 25 03 2015 778

Relendo a realidade  –  Jessé Souza*
A frase é de Victor Hugo: “Quem abre escolas, fecha presídios”. Não poderia existir uma máxima que retratasse fielmente a realidade que estamos vivenciando em Roraima. Porém, por aqui, os governantes nem investem na escola muito menos em presídios. Tanto um como o outro estão em situação crítica. 
Como as autoridades não deram prioridade para a educação, a criminalidade avançou, os presídios incharam e hoje o Estado enfrenta um momento conturbado, com latrocínios comandados por adolescentes, execução de jovens por dívida com o tráfico de drogas e ressurgimento das galeras, que nada mais são do que grupos de jovens e adolescentes que se agrupam motivados pela violência e a droga. 
Na maioria dos casos, os crimes cometidos na Capital são comandados por bandidos que lideram facções de dentro da prisão ou cometidos por foragidos, presos albergados ou que cumprem o semi-aberto, bem como ex-presidiários que, ao voltarem ao convívio da sociedade, se tornaram mais bandidos após cumprirem suas breves penas.
As escolas estão cada vez mais distantes da nova realidade que se desenha, seja pela tecnologia distante ou pela sociedade em conflito consigo mesma. Enquanto os professores lutam para sobreviver, os políticos enxergam o setor educacional como um lugar de ganhar dinheiro, seja por meio de licitações fraudulentas ou de um comércio liderado por empresas geralmente comandadas por testas de ferro. 
No período de campanha eleitoral, a educação passa de um grande negócio financeiro a um imenso comitê eleitoral, em que diretores de escolas se transformam em coordenadores de campanha e professores ou outros servidores comissionados em cabos eleitorais. E tudo isso aceito não só por quem concorda com o jogo, mas também por quem deveria fiscalizar, a exemplo dos próprios deputados que igualmente ajudam a sangrar os cofres do setor educacional. 
Obviamente que a escola não vai suportar tamanho desmando. Então, as unidades escolares não conseguem ter estrutura mínima em sala de aula, muito menos bibliotecas (alguém ainda lê na escola?!) ou salas de informática, bem como merenda de qualidade, transporte escolar eficiente e outros investimentos necessários para formar uma nova geração pensante. 
Os governantes e os políticos de uma forma geral não estão interessados em uma escola de qualidade, seja porque sabem que alunos bem instruídos e bem informados são um perigo para esse sistema falido, seja porque eles enxergam na educação apenas cifras e votos.
Se a escolha falha, será preciso construir mais presídios. Porém, nem presídios para isolar bandidos do convício da sociedade de bem os governantes construíram, muito menos mantiveram os que aí estão, permitindo que cadeia se transformasse em universidade do crime. 
E quando os bandidos passaram a fazer escola e onde educação nunca foi prioridade, enfrentamos esta realidade atual, que pode ser lida novamente no início desse artigo. E ler novamente este texto assemelha-se a manter nesse ciclo vicioso que os governos estão nos mantendo. 
*Jornalista  –  [email protected]