Jessé Souza
Do Caburai ao Chui 26 03 2015 785
Do Caburaí ao Chuí – Jessé Souza*
A questão da corrupção no Brasil não está apenas neste ou naquele governo. Esse mal tornou-se endêmico há muito tempo e, se cada cidadão não tomar a atitude de começar a mudança pela sua vida, pela sua casa, pelo seu local de trabalho, a transformação que almejamos nunca irá vingar e a mudança jamais atingirá as altas esferas da sociedade.
Não será possível transformar a realidade do país mudando apenas um governante ou um político apenas. É preciso que se inicie um longo e doloroso processo, com comprometimento da família, da escola, das igrejas, de todos os segmentos da sociedade. A corrupção está enraizada em todos os poderes e setores da sociedade, e não adianta cortar a cabeça de uns, como se fosse um recado austero para os demais.
Leis no Brasil existem aos montes, mas elas não são cumpridas contra aqueles que as fazem, as aprovam e as interpretam. Somos o país com uma das maiores legislações mundiais, porém tudo vira letra morta quando se trata de aplicar a lei contra aqueles que detém o poder. Afinal, o povo vende seu voto e sua consciência na hora de escolher seus representantes, colocando no poder aqueles que vão alimentar os grandes esquemas e se beneficiar deles.
Eleger corruptos significa perpetuar a corrupção em todos os níveis, pois as indicações para órgãos fiscalizadores e até para ocupar os mais altos postos da Justiça brasileira são políticas. É um clico vicioso, patrocinado pelo eleitor. E a bandalheira começa na hora de eleger um vereador, que dá sustentação a um deputado, que por sua vez apoia um senador igualmente corrupto, que por sua vez comanda esquemas no Congresso.
E não custa lembrar que o eleitor que vende seu voto é o mesmo que vive do jeitinho brasileiro. É por isso que a corrupção é endêmica, porque os maus políticos sabem que esse tipo de eleitor é venal e pode ser corrompido a cada pleito. O grande mercado livre de voto nada mais é do que o atestado de corrupção do brasileiro bem retratado no livro Macunaíma, um romance escrito em 1928 por Mário de Andrade.
A situação chegou ao nível tal de descaramento que até gente presa em flagrante por cobrar propina faz lançamento de campanha contra corrupção. Ou quando a cúpula da Justiça decide que magistrados igualmente corruptos são punidos com aposentadoria, passando a receber salário sem trabalhar.
Enfim, nunca nos caiu tão bem a máscara de Macunaíma que, além de indolente, conduz a maioria de seus atos movido pelo prazer terreno, mundano. É “o herói sem nenhum caráter”. Infelizmente, temos de admitir: somos isso mesmo que diz no romance, um anti-herói, que nasceu à margem do Uraricoera, em plena floresta amazônica, e foi parar em São Paulo (ou poderia ser nos tempos de hoje: nasceu no Caburaí e foi para o Chuí).
*Jornalista – [email protected]