Curupira ou Mapinguari – Jessé Souza*
Por ser um admirador da natureza e praticante de remadas de caiaque, tenho andado um pouco pelo Rio Branco e seus afluentes, principalmente na área urbana, onde é possível sentir a mão forte e agressora do homem ao ecossistema. E um fato que chama muita atenção é o lixo deixado por pescadores, profissionais ou não, nas margens de rios e igarapés.
Muitos largam o lixo lá mesmo onde os produtos foram consumidos ou nos locais de acampamentos. Outros ainda colocam o lixo dentro de sacolas plásticas e as pendura em árvores, como se existisse um serviço público em canoas que fosse coletar essas sacolas ao longo do rio. Ou se alguém, talvez o Curupira ou Mapinguari, fosse lá recolher o lixo em alguma ação para salvar o Planeta.
Essa realidade significa que deveria haver uma preocupação das autoridades que lidam com os pescadores para que conscientizassem essa categoria sobre a destinação do lixo que eles produzem e a importância de eles serem guardiões da natureza, uma vez que o lixo é responsável também pelo sumiço dos peixes, fonte econômica deles.
Quem anda por essas margens de rio pode notar que os acampamentos feitos por pescadores ou por pessoas que vão apenas buscar aventura e lazer se tornam locais de poluição. Não há uma mínima preocupação em acondicionar o lixo e levar de volta em sacolas plásticas para que seja dada a destinação correta. É como se andar com o lixo de volta para casa fosse uma desonra qualquer, maior que o crime ambiental e falta de consciência ecológica.
Pendurar a sacola de lixo nas árvores não tem sentido, uma vez que os rios enchem e a forte correnteza acaba arrastando tudo o que for deixando nesses locais de acampamentos, praias, igapós e mata ciliar. Logo, as pessoas que se beneficiam do lazer e da pescaria às margens do Rio Branco são responsáveis por boa parte da poluição que ameaça nossos mananciais de água potável e também fonte de renda e de alimento de muitas famílias.
Muitas vezes, muitos não conseguem entender quando chegam a um local de mata fechada e se deparam com carcaças de geladeira ou frízer. Mas a explicação é fácil: esse material geralmente é levado por pescadores, que utilizam a carcaça desses tipos de eletrodomésticos como reservatório para guardar e conservar o pescado com gelo durante a pescaria.
Então, em vez de se preocuparem somente em distribuir seguro defeso, que é importante, as autoridades também deveriam ter um trabalho de conscientização dos pescadores sobre a produção de lixo e sua correta destinação. Não dá mais apenas para assistir o meio ambiente ser agredido e não tomar providências, principalmente por aqueles que sobrevivem do rio.
*Jornalista – [email protected]
