Jessé Souza

Adubo dos laranjais 21 04 2015 890

Adubo dos laranjais – Jessé Souza* Já disse o então presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Jaime Chamello, em 2003, que “Roraima é uma terra fértil para a corrupção”, frase esta que supostamente escandalizou os políticos locais que comandavam o Estado sob o chicote da demagogia, do assistencialismo e da alimentação do anti-indigenismo na sociedade local. Os anos se passaram, a legislação de combate a corrupção avançou e os grandes escândalos chegaram às manchetes dos jornalões brasileiros a partir do escândalo do mensalão e, mais recentemente, do  caso do Petrolão.  Em Roraima, os escândalos também emergiram, chegando à punição inclusive de magistrados roraimenses envolvidos nos esquemas políticos. Porém, parece que os efeitos de novos tempos insistem em congelar o desmascaramento dos grandes esquemas, impedindo punições aos que adubaram as sementes da corrupção em Roraima e colheram os frutos da grande árvore da roubalheira que permitiu o Estado enfrentar uma de suas piores crises de todos os tempos, com o sucateamento da saúde, educação, segurança pública e sistema prisional. Assim como a ciência comprova que toda regra tem exceção, na ciência política roraimense essa exceção é raríssima quando se trata de envolvimento nos grandes desmandos. Poucos escapam desse caldeirão de irregularidades permitidas na terra fértil para corrupção. Inclusive, a grana que alimentou o Petrolão, no escândalo nacional, também serviu para regrar algumas plantações de laranjais por aqui e a fazer colheitas que ajudaram a esvaziar os cofres públicos. Só não enxerga quem não quer, pois todas as pedras do Monte Roraima sabem dos grandes esquemas alimentados no Estado. Muitos enriqueceram de forma desonesta do dia para a noite, inclusive gente que andava puxando a cachorrinha comprou mansão em poucos anos na política, além de casos não menos ostensivos: postos de gasolina, supermercados, empreiteiras, restaurantes, franquias, mansões em área nobre e outros empreendimentos que saltam aos olhos. Somos um Estado sem indústrias e sem outra fonte de renda que não os cofres públicos, mas temos uma grande concentração de dinheiro nas mãos de poucos, enquanto os governos estão caindo aos pedaços sem recursos públicos para manter os setores mais urgentes. Não há outra saída senão desratizar, fazer uma assepsia geral para que os cofres públicos possam ser poupados. Os sinais de enriquecimento ilícitos estão por toda a parte, na ostentação que sorri da cara daqueles que penam na fila dos hospitais ou das crianças sem merenda escolar. Se a Globo quer mesmo perguntar “Cadê o dinheiro que estava aqui”, não vai faltar assunto para um ano. Ou vai querer mesmo só indagar a Câmara de Vereadores? *Jornalista [email protected]