Jessé Souza
Sem vergonhice generalizada 01 05 2015 935
Sem-vergonhice generalizada – Jessé Souza* Os políticos precisam, sim, ser bem remunerados. Assim como o professor, o médico, o policial militar, o gari e tantos outros profissionais. Na política, é preciso que o parlamentar ganhe bem para que não seja vencido pela corrupção. Mas ganhar bem para que nos represente bem, para que esteja a serviço da sociedade. Porém, o que está ocorrendo na política brasileira é que o ganhar bem inclui a corrupção: o político que frauda recebido, que inventa gastos que não existem, que superfatura, que emprega “fantasmas” para engordar ainda mais… e por aí afora. Mas não se trata apenas do político. Em outras esferas profissionais, a bandalheira está instalada. Não vamos longe para não fugir de nossa realidade: 32 médicos que recebiam sem trabalhar na saúde pública de Roraima, alguns deles que sequer moravam no Estado e estavam de “férias” no Nordeste brasileiro. Há uma epidemia de falta de vergonha que surpreende: quanto mais ganha, mais querem ganhar de forma desonesta. Na política, o cara consegue se eleger comprando votos (corrupção ativa e passiva) e, não demora dois meses, ela já tem uma empreiteira registrada em nome de um testa de ferro para que possa faturar com obras e serviços dos governos. A farra com o dinheiro público não é apenas na Câmara Municipal de Boa Vista, que ficou conhecida nacionalmente como o mais corrupta do Brasil. E não é mais corrupta nem a que ganha mais. Além disso, existem autoridades de outros poderes em Roraima que recebem mais de R$150 mil por mês com diárias e outros benefícios garantidos por lei. Mas quem vai mexer com estes poderosos? Se houver alguém interessado em fazer as contas, vai descobrir fatalmente que a maior fatia do Orçamento do Estado é destinada para pagar salários, mordomias e benefícios pecuniários das mais altas autoridades. Tudo dentro da lei e, ainda assim, muitos usando de artifícios como inventar gastos, viagens, cursos e outras sem-vergonhices. O Estado de Roraima está sendo sugado por uma elite das altas esferas dos poderes constituídos, mas ninguém está ligando por isso, pois ninguém entende mesmo de Plano Plurianual, de Lei de Diretrizes Orçamentárias e muito menos o cidadão comum sabe como funcionam os trâmites de tudo isso nos gabinetes refrigerados. O fato é que não funciona essa pressão de pedir para vereador renunciar verba de gabinete ou de outros benefícios garantidos por lei. Como já disse, político tem que ganhar bem, assim como outras profissões. O que é necessário para mudar este quadro é cobrar o fim da corrupção, não só na Câmara, mas em todos os poderes. E também combater a corrupção passiva na hora de votar. *Jornalista [email protected]