Opinião

Opiniao 05 05 2015 946

O velho Arão – Walber Aguiar* Quero trazer à memória o que me pode dar esperança                                                        Lamentações  3:23 De repente lembrei o velho e insubstituível Arão, o anjo das pernas tortas, o homem com cara de moleque, o motorista número um de Josué da Rocha Araújo.  Uma lembrança boa, fruto de um surto nostálgico, de uma vontade incontrolável de estar lá, na geografia santa de um lugar inesquecível. “Cadê o porco Zé?“, era a senha da molecagem, dos pés descalços no barro do velho campinho, da devocionalidade simples e cheia de um desejo de que aqueles dias nunca mais acabassem. De que o culto da fogueira nos reaquecesse a alma, sempre. Eram dias de banho no igarapé de águas profundas, de afundar panelão no poção das cobras, de procurar a dentadura do Manel, de enfrentar os medos com saltos loucos e intrepidamente desafiadores. Carioca estava lá, cheio de  marra e marcas da queda, Agostinho também trazia no rosto as marcas da inocência que só os índios podem ter. Jessé, Júnior e Emerson ainda eram projetos de gente, com seus corpos “sarados”, na expectativa de que os músculos surgissem. O velho Arão, embora vivesse brincando, armava-se de enorme reverência no momento em que fazíamos fila para nos alimentarmos da palavra de Deus. Sério, sóbrio, circunspecto era o anjo das pernas tortas. Menos quando estava debaixo da “xambeca”,  o carro que fez  de Josué Araújo um mecânico teimoso e autêntico. Ali Arão era um mestre, um santo sujo de graxa, como no episódio em que tentou ligar um motor a noite inteira, quase sem sucesso. Isso porque contou com a ajuda de seu Hélio e Josué, na escuridão do Maranata. Sempre lembro o grande e insubstituível Arão, com suas pernas de Garrincha, suas molecagens, seus improvisos, sua vontade de viver. Isso porque, mergulho de madrugada, sozinho, nas águas geladas do igarapé mais encantador e misterioso de que se tem notícia. Isso porque, salto na direção de Deus e da amizade, da fé simples e do desejo de me embrenhar na mata,  naqueles dias de amizade e contemplação da verdadeira vida. Irmão João concordando com tudo, até em vender a igreja presbiteriana e mudar o culto para depois do fantástico, era uma das principais diversões do velho Arão. Depois a gozação com Fernando, o hino a lameque, a teimosia com Zé “bichin”, a construção das gandes fogueiras na última noite de retiro. De repente lembrei o anjo das pernas tortas. De uma das pessoas mais lindas em autenticidade que já conheci. Chorei de madrugada, pois acordei do sonho mais fascinante que já tive. O de mergulhar no peito de Deus e sentir a cruviana gostosa da sua bondade, de um prazer que não pensei estar disponível aos mortais… ainda assim, ri com o velho Arão, Moisés, Samuel Dadá, velho Eugênio e chamei o “Hilário”… *Poeta, advogado, historiador, professor de filosofia e membro da Academia Roraimense de Letras [email protected] ———————————– Vivendo de aparências – Marlene de Andrade* Um dia desses me disseram que eu usava roupas muito “barrelas” e que, como médica, deveria me vestir melhor. Pelo fato de sermos profissionais liberais, nada nos faz mais valorosos do que qualquer pessoa deste planeta. Ter 3º grau ou ser PhD não nos transforma em super stars. Todos vamos virar pó e não é um curso superior que nos faz diferentes de um gari, o qual é tão importante para a sociedade, quanto qualquer ser humano mais “estiloso”,  graduado, ou muito douto. É verdade que cada ocasião exige indumentárias diferentes e não há o que se discutir a esse respeito. Não podemos ir a um casamento calçando sandálias Havaianas, ou um juiz realizar uma audiência de bermuda só porque residimos em um país tropical. Também é inconcebível alguém entrar em um órgão público em trajes de praia. Andar de salto alto, engravatado ou usar grife nada tem de errado, contudo o uso de roupas de marcas desconhecidas também são muitas vezes elegantes e podem vestir muito bem as pessoas e elas em nada depreciam quem quer que seja. Devemos colocar na cabeça que somos todos iguais, pois hoje alguém, por exemplo, que exerça a função de deputado, amanhã pode se tornar tão somente um cidadão comum. Nesse caso o que mudou nele não foi a sua essência e sim a sua referida função dentro da sociedade. Não devemos julgar as pessoas apenas pela sua aparência, porém é evidente que não podemos andar de qualquer jeito, ou seja, maltrapilhos ou extravagantemente vestidos à moda esfarrapada, sujos e mal cheirosos. Usar roupas e acessórios de bom gosto faz parte das nossas vidas e é de bom tom, mas não é preciso usar grifes famosas para sermos reconhecidos na Sociedade. Dentro desse foco de discussão, é interessante perceber que grande parte das pessoas, principalmente as das classes sociais mais baixas, gostam de imitar pessoas de maior representação social. Geralmente, as sociedades humanas criam padrões, que tendem a ser seguidos pelas pessoas, contudo muitas vezes esses padrões não passam de consumismo supérfluo. É comum algumas pessoas escolherem um corte de cabelo, ou  roupas imitando artistas famosos e por si só, nada disso é errado. O que não podemos é criar paradigmas em cima desses estereótipos que de nada valem na nossa vida tão passageira. Sendo assim e depois desta reflexão, pergunto a mim mesma: o que é usar roupas “barrelas”? É não estar usando marcas internacionais? “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas somente a que for boa para promover edificação.” (Efésios 4:29). *Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT https://www.facebook.com/marlene.de.andrade47 ————————————— Descubra seu poder – Afonso Rodrigues de Oliveira* “Habitualmente as pessoas usam apenas uma pequena parte dos poderes que possuem e que poderiam usar em circunstâncias adequadas”. (William James) O último feriadão me fez refletir sobre coisas já refletidas. Mas os absurdos, quando são observados e aproveitados, nos levam a novas reflexões. É nesses feriadões que sou obrigado a viver a desgastante ociosidade, e assistir aos desgastantes programas televisivos. Cara, haja paciência. E é aí que caio nas reflexões. Será que o mundo vai mudar se nós não mudarmos? Claro que não. E o pior é que não mudamos. E ficamos sabendo dos desastres que sempre aconteceram mundo afora, e que os vemos como castigos de Deus. E haja castigo. Nesse redemoinho de despreparos, vamos navegando no navio da farra, guiado pelo Comandante que não dá atenção à importância do trabalho do cabo “Sivirino”, no farol.    Ficamos o tempo todo reclamando da má qualidade no atendimento público, na negligência na saúde pública, e por aí afora. Mas não nos tocamos que é nossa ignorância “cidadã” que nos mantém nesse curral de elefantes de circo. Quando será que iremos reconhecer o poder que temos para resolver tais problemas? Só quando nos conscientizarmos de que somos nós os responsáveis pelos desmandos; porque não somos capazes de usar a força que temos para corrigir os erros sem a força bruta usada pelos incompetentes. Ainda não aprendemos que nunca vamos eliminar a violência com violência. Que só há uma arma poderosa que pode resolver tudo, sem o uso da arma. E essa se chama Educação. Coisa que ainda não nos foi passada pelos responsáveis pela desordem que deveríamos ordenar. Quer mesmo fazer sua parte na solução desse  problema? Procure fazer o que a política deveria fazer. Mas nunca farão porque isso não lhes interessa. Cobram impostos altos e nós reclamamos. Numa ignorância que é nossa, não deles. O erro não está no valor do imposto que pagamos; está no mau gerenciamento do poder público, no imposto que pagamos. O imposto que pagamos nos dá direito a um bom atendimento gratuito em hospitais públicos de boa qualidade; a um transporte público gratuito e de boa qualidade. E por aí afora. Você já tinha pensado nisso? Então pense. Mas não alardeie senão os governantes vão botar você no hospital de péssima qualidade, alegando que você é maluco. No dia em que você, de classe média alta, se tocar e começar a usar o serviço público de saúde, aí, sim, a coisa vai mudar. Porque você vai reclamar da qualidade no que você está pagando e que não lhe é passada. Aí você estará contribuindo para acabar com essa bagunça política. Pense nisso. *Articulista [email protected]     99121-1460   ——————————— ESPAÇO DO LEITOR TERRAS A leitora Raquel Fernandes fez o seguinte comentário sobre a Lei de Terras: “A questão fundiária do Estado precisa urgentemente de uma solução para o bem e tranquilidade de muitas famílias. Profissionais competentes na área jurídica com experiência e afinco em resolver o problema nós temos. Resta o empenho de todos para que este impasse seja solucionado o quanto antes e, desta forma, resolver esta questão que se arrasta por vários anos, principalmente dando garantia às famílias que são proprietárias legítimas de seu lote”. BANCO A internauta Letícia Ramos relatou que o final de semana foi de caos para os clientes do Banco do Brasil que necessitavam sacar algum valor em todas as agências. “Simplesmente faltou manutenção nos caixas eletrônicos e os mesmos ficaram inoperantes durante o sábado e domingo. Muitos na manhã de ontem ainda não estavam funcionando. Isto ocorre em todos os feriados”, protestou. CALÇADAS O leitor Lindomar Neves comentou que o inverno está chegando e, como acontece todos os anos, as vias de acesso ao bairro Nova Cidade (Avenidas Brilho do Sol e Sol Nascente) ficam intransitáveis, principalmente para os pedestres e ciclistas, devido à falta de calçadas e ciclovias, além da quantidade de buracos no asfalto que precisa de uma recapagem completa e não somente da operação “tapa buracos”. “Também falta um sistema de escoamento para água das chuvas. Somente isso já evitaria muitos transtornos e salvaria vidas. Quando o poder público vai olhar por essa gente?”, questionou. UIRAMUTÃ Servidores públicos que residem em Uiramutã relataram o seguinte fato: “Todos os meses, quando recebemos nosso pagamento, é um verdadeiro transtorno em razão do município não dispor de um banco credenciado para a realização do saque. Na vila só existem dois estabelecimentos comerciais que estão autorizados a realizar este pagamento, e quase sempre o sistema está fora do ar. Nas vilas distantes, como Água Fria, a situação ainda é pior, pois os servidores chegam à sede e o sistema sempre está fora do ar”.