Jessé Souza

Homo infirmus 12 05 2015 974

‘Homo infirmus’ – Jessé Souza* Recebi um texto que veio bem a calhar a respeito de remédios e doenças. Tenho uma grande resistência a tomar medicamentos. Não é qualquer dor que faz me render a pílulas, gotas ou frascos prescritos ou por qualquer indicação. Venho de uma família que era muito ligada aos conhecimentos tradicionais e que mantinha no quintal plantas que serviam de chás ou porções para tratar até mesmo doenças mais agressivas, como a malária ou mesmo pedras nos rins. Aliás, antes de a indústria farmacêutica se apoderar do mundo, as famílias eram obrigadas a apelar para os conhecimentos que vinham de nossos ancestrais. O campo aberto ou a mata fechada era o local para se buscar ervas e chás, até mesmo complemento alimentar a fim de garantir vitaminas essenciais para ajudar a curar o corpo e a mente. Não é a toa que pajés e benzedeiras tinham, e ainda têm, em lugares distantes da cidade, sua importância. Ontem recebi e-mail que faz um alerta sobre a ação da indústria médica e farmacêutica que montou uma máfia mundial com a finalidade de declarar que todas as doenças são crônicas, transformando a venda de remédios em um dos mercados mais lucrativos de todos os tempos. Com isso, nenhuma doença passou a ter cura, todos passando a ser obrigados a aprender a viver com os males do corpo, da alma e da mente doenças, o que significa tomar remédios até o fim da vida prescritos pela sofisticada indústria médica hospitalar e laboratorial. É mais ou menos o que acontece com a “indústria da fé”. Na medida em que vamos envelhecendo, mais remédios são prescritos por geriatras e outros especialistas. Desde cedo começamos a nos entupir de medicamentos para tudo: “hipertensão, diabetes, colesterol (que nem doença é) e que poderiam ser tratadas com simples mudanças de hábitos e com plantas medicinais (orgânicas!)”, conforme o texto que recebi. Até para o sexo. O artigo afirma que os remédios não são mais receitados para tratar as doenças, como no caso de uma simples depressão. Essa pessoa passa a ser refém de remédios caros e que provocam dependência. Eu, por exemplo, quase fui vítima dessa arapuca e, com muita força de vontade e fé, consegui sair quase ileso. Depois de dois meses tomando remédio antidepressivo para “ficar alegre” pela manhã e outra pílula, à noite, para “dormir tranquilo”, percebi que eu estava adquirindo um novo vício, uma nova dependência. Certo dia, cheguei em casa, juntei todas as caixas de remédio, embrulhei nas páginas de jornal velho e toquei fogo. A lição que tirei é que não devemos cair em qualquer decreto de que somos doentes crônicos. Muitos males estão na nossa mente e em nosso comportamento sedentário e cheio de vícios e prazeres atrofiados. Não podemos nos entregar aos engodos e falácias, a não ser que queiramos nos tornar “Homo infirmus” (do latim enfermo, doente). *Jornalista [email protected]