Jessé Souza
Infancia sem prioridade 21 05 2015 1015
Infância sem prioridade – Jessé Souza* A semana é destinada ao combate à exploração sexual contra crianças e adolescentes. Durante os eventos, as autoridades prometeram defender a infância, discursaram contra os crimes e anunciaram medidas para combater os abusos. Porém, tais promessas não são novas. A cada ano elas se repetem e a cada novo governo mais promessas. O poder público tem negligenciado a questão historicamente a partir do atendimento primário, na delegacia, até o exame no Instituto Médico Legal (IML). Se na delegacia não há sequer estrutura adequada para os servidores trabalharem, logo se imagina que inexiste atendimento adequado a crianças e adolescentes vítimas de abusos. Depois de passar por constrangimento na delegacia, onde a vítima tem que relatar todo o sofrimento que passou nas mãos do abusador, em um local inadequado, junto com o movimento policial e do público, a criança é remetida ao IML, onde é submetida a mais constrangimentos por ficar exposta à movimentação em um lugar inapropriado, à espera de atendimento junto até mesmo com presos que aguardam por exames de corpo de delito. Só neste cenário dá para perceber como a exploração e o abuso sexual contra a infância e adolescência são tratadas pelo poder público, que por incompetência e falta de vontade política não consegue proporcionar o acolhimento necessário às vítimas desses tipos de crimes. Não é fácil combater esse grande mal, pois os crimes geralmente são cometidos dentro das residências e por alguém que deveria proteger as crianças. Porém, os governantes têm a obrigação de fazer a sua parte por meio de políticas que priorize as vítimas, as aliviando dos traumas que vão marcar por toda a vida. Se não consegue dar dignidade no atendimento às vítimas de crimes sexuais, evidente que não será eficiente nas demais ações de combate e conscientização, as quais são tão necessárias quanto acolher a infância vitimizada. Como os governos só conseguem trabalhar quando são monitorados, torna-se necessário que os órgãos fiscalizadores ajam com mais rigor para cobrar ações governamentais não só nas datas comemorativas, mas cotidianamente. Sabe-se, por exemplo, que recursos que deveriam ser aplicados na construção e equipamentos para delegacias, inclusive a de proteção à infância, foram devolvidos para o Governo Federal porque não foram aplicados. A partir deste quadro, é possível avaliar a falta de compromisso dos governantes com a infância. É necessário sair do campo das promessas, feitas em eventos, para executar aquilo que é obrigação do poder público. Se não cuidarmos da infância, é óbvio que não podemos esperar uma sociedade melhor. Criança desprotegida significa adultos com problemas em futuro bem próximo. *Jornalista [email protected]