Galinha e mansão – Jessé Souza*O corte do fornecimento da energia dos prédios públicos do Governo do Estado revela uma face que todos conhecemos, mas que fica parecendo estar oculto por ter se tornado um procedimento corriqueiro: a falta de zelo e de responsabilidade com o bem público. As dívidas vieram sendo acumuladas porque os gestores acham que tudo pode ser empurrado com a barriga em um Estado onde o desmando tornou-se comum.
Homens e mulheres públicos passaram a não mais temer o julgamento popular, porque eles sabem que podem comprar o voto; não se importam com fiscalização, porque ninguém fiscaliza mesmo; e não se preocupam em punição, porque a impunidade é uma instituição forte no Brasil do mensalão e do petrolão.
Foi assim que as escolas públicas estaduais chegaram ao nível de desmantelamento, com forro desabando em cima de alunos, instalação elétrica com curto-circuito e centrais de ar-condicionado nunca instaladas sob a desculpa esfarrapadas que atravessaram ao menos duas administrações.
Os prédios públicos também ficaram caindo aos pedaços por falta de manutenção básica, mas não somente por incompetência pura e simples, e sim porque alugar prédios privados para abrigar órgãos públicos também é uma indústria de fazer dinheiro, assim como o sucateamento de frota de veículos serve a esse antigo esquema de locação.
Em administrações onde não há zelo com o patrimônio nem com os recursos públicos, os bens e serviços vão se desmantelando sem que haja vontade política de consertar e evitar que o sucateamento avance. Afinal, os olhares dos administradores estão voltados para outras prioridades, que não é a de manter o bem público para favorecer o cidadão.
Seria como pais de famílias não consertassem aquilo que fosse quebrando em sua casa, nem ligando para o equilíbrio do orçamento familiar, o que fatalmente iria resultar em um lar destroçado fisicamente e financeiramente, fazendo desandar tudo aquilo que as pessoas precisam manter para o bem comum e o bem-estar coletivo.
A administração pública não passa disso: uma casa onde os administradores não a tratam como um lar, e sim como um local de onde se serve e não se cuida, pois pode ficar tudo destroçado e vandalizado, porque os cofres públicos logo estarão cheios de novo, a cada mês, com repasse de recursos federais e recolhimento de impostos do cidadão.
Nem como “galinha dos ovos de ouro” o bem público é tratado, pois se fosse como tal, a galinha já teria morrido há tempos. A estrutura do Estado é como se fosse uma mansão sem dono, na qual o que interessa é apenas o cofre. O resto é que se dane.