Opinião

Opiniao 22 06 2015 1115

Futebol e lam – Tom Zé Albuquerque* Por décadas o futebol brasileiro fora tido como um esporte popular. Algo acessível a toda classe, algo pra se divertir, pra se extravasar; o estádio era o local próprio para rir e gritar, dizer palavrões sem pudor. O brasileiro construiu essa imagem, de leveza, liberdade, vencedor, de altivo. A qualidade e as glórias do futebol brasileiro eram, até alguns anos atrás, inquestionáveis.

Algumas situações têm contribuído sensivelmente com o declínio do futebol brasileiro, mas algo o golpeou de forma brutal: a interferência política. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) passou a ser um antro político, portanto, com todas as mazelas típicas do submundo criminoso da corrupção, da propinagem, dos jogos de interesses. O presidente anterior desta relevante instituição está preso; o seu antecessor está vagando por países sempre temendo ser detido. O atual é investigado pelas polícias federaisbrasileira e americana.

Embora a rede globo conteste, a seleção brasileira não é mais favorita a nada, não imprime respeito a ninguém, e seu histórico está, dia após dia, sendo transformado numa comédia pastelão, de vexames bisonhos. As categorias de base, obviamente por estarem alicerçadas de interesses vários, não conseguem emplacar, só apanham, até mesmo para países como Sérvia, que sequer sabíamos que futebol lá era praticado. Os jogadores convocados para seleção brasileira principal, em boa parte, nunca sequer jogaram um campeonato brasileiro; são nomes desconhecidos sem identidade com o povo brasileiro. Surgem do nada, e mais parecem uns robôs, programados para determinado fim e proibidos de pensar.

O principal jogador hoje é um moleque mimado, que não se acostumou a ser contrariado. Egocêntrico ao extremo, de coadjuvante em seu clube foi alçado para a condição de protagonista na seleção brasileira, mas não sabe lidar com as normalidades, de tão artificial que é. O pai, que deveria servir de exemplo, é atolado em denúncias de falcatruas, e, diferentemente do que ocorre no Brasil, terá que prestar contas com a justiça espanhola. O filho, por consequência, age com desonestidade, simula faltas e forja situações dentro e fora de campo para após, sem humildade ou pudor algum, transferir suas responsabilidades pelas omissões ou extravagâncias para os árbitros ou imprensa. Este é o capitão do time do Brasil, o retrato do futebol brasileiro, o retrato do País.

O Brasil futebolístico não ganhará mais nada, exceto quando mudar radicalmente sua estrutura, suas normas, as pessoas que estão nele enraizadas há décadas, prostituindo este esporte, que não é mais do povão. Os estádios sumiram, agora são “arenas”, elefantes brancos inacessíveis para a maioria do povo brasileiro. A seleção não é do povo brasileiro, é da politicagem, é da CBF. *Administrador——————————Não se renda nunca – Afonso Rodrigues de Oliveira* “O maior respeito que você pode ter por um adversário, é fazer de tudo para ganhar dele”. (Oscar Schmidt) “A felicidade está onde a pomos, e nós nunca a pomos onde estamos”. Quando sabemos onde a estamos pondo, nunca nos aborrecemos com a infelicidade. Nada no mundo tem o poder de nos fazer infelizes quando sabemos usar a felicidade. E ela está em cada um de nós. O importante é que saibamos ser feliz, independentemente da situação em que nos encontramos. O nosso Oscar Schmidt está nos dando uma lição sobre como lidar com a doença. Além do Oscar, temos um elenco de grandes exemplos de superação. De grande superação. Há um rosário enorme de histórias de pessoas que souberam superar os maus momentos e tornarem-se grandes, independentemente da monstruosidade do inimigo. É quando sabemos o que estamos fazendo, que fazemos dos nossos inimigos meros adversários. E o adversário nós vencemos quando somos superiores a ele.

Você conhece a ELA – (Esclerose Lateral Amiotrófica)? Se não a conhece, não faz mal. Pergunte a seu médico e ele lhe dirá. É uma doença assintomática e que não permite que o paciente viva mais de três anos, depois de afetado. Alexandre Magno Rodrigues de Oliveira contraiu a ELA em 1997. No diagnóstico ele foi informado de que só viveria até o ano 2001. Mas ele não se entregou. Em junho de 2002, sentamo-nos à mesa para o café da manhã e ele me falou:

– Pai… Acordei mais cedo e tomei uma decisão: se essa doença não me matou até agora, não vai se ela que vai me matar. Tá decidido e fim de papo.

No final do mesmo ano ele prestou vestibular para a USP de São Paulo e em 2008 formou-se em Letras, pela USP. Mesmo com os órgãos superiores, mãos e braços, bastante inabilitados, em outubro de 2012 ele participou do campeonato sul-americano de parataekwondo em Sucre, na Bolívia, e trouxe a medalha de ouro para o Brasil. Em novembro do mesmo ano trouxe a medalha de bronze do campeonato internacional em Aruba, no Caribe.

Selecionado, ele deveria estar indo hoje para a Suíça, participar do campeonato internacional. Mas não está indo, não impedido pela doença, mas porque não conseguiu patrocínio. O que para mim, é, pelo menos, o inexplicável. Falei com ele e não o senti abatido. É mais uma luta da qual, com certeza, ele vai sair vencedor, mesmo não estando no tatame. Porque os grandes vencedores são assim; nunca perdem, seja qual for o adversário. Eles nos ensinam que os fracos são os únicos animais racionais que sabem rir, mas não riem; nascem chorando, vivem chorando e morrem chorando. Nunca põem a felicidade onde estão. Pense nisso. *[email protected]———————————APOSTA CERTA – Ruy Martins Altenfelder Silva* Aos poucos, a situação foi mudando. De início, menores eram cooptados para a prática de delitos, como apoio à ação dos criminosos. Por exemplo, invadiam residências passando por estreitos vãos de janelas ou agiam para desviar a atenção das vítimas, tranquilizadas por sua aparente inocência. Mais recentemente, já como integrantes de bandos ou quadrilhas, assumiam a responsabilidade por atos gravíssimos, livrando os comparsas adultos dos rigores da lei. Hoje, os “de menor” se unem em bandos próprios e multiplicam-se os casos de adolescentes, até mesmo aos 13 anos, comandam quadrilhas violentas e protagonizam latrocínios e outros tipos de homicídios.

Com a transmissão, por grandes redes de TV e pela internet, de cenas que retratam a frieza com que menores praticam crimes atrozes, cresce a percepção da sociedade para o potencial de violência dessa faixa etária. Diante disso, ganha corpo o coro dos que reivindicam a redução de maioridade penal, como forma de eliminar o que consideram um tipo de impunidade para crimes praticados por jovens de até 18 anos que, por força do artigo 228 da Constituição Federal, são penalmente inimputáveis, sujeitos às normas da legislação especial. São submetidos ao Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê a pena máxima de 3 anos de internamento em instituições específicas para medidas socioeducativas.

No quesito segurança pública, a redução da maioridade penal é uma das questões que vêm adquirindo vulto, gerando um embate entre os que querem manter o status quo e aqueles que defendem punições equivalentes às dos adultos. Mas uma visão mais serena indica que a solução mais equilibrada e eficaz seria combinar as duas propostas. Ou seja, o recolhimento dos menores de 18 anos seria expandido para prazos acima de três anos, de acordo com a gravidade do delito. O primeiro efeito dessa iniciativa seria eliminar um dos mais revoltantes aspectos da atual legislação, pelo menos para familiares e amigos das vítimas, pois, pelo fato de estar próximo de completar 18 anos, o agressor escapa da punição, submetido apenas a dois ou três meses de recolhimento.   

Entretanto, nem a raiva nem a revolta são boas conselheiras na elaboração das leis. Mas também cair no extremo oposto – tratando com excessiva leniência e aceitação passiva os crimes violentos de menores infratores ou, por força da lei, concordar que infrações leves e gravíssimas sejam julgadas com a mesma balança – é outra forma de injustiça clamorosa. Problema universal, a criminalidade de adolescentes é apenada de maneira diferente, conforme a geografia. Vários países aceitam a responsabilização criminal para crimes graves a partir dos 16 anos e, às vezes, de idades menores, como 10 (Estados Unidos), 12 ou 14 anos (China) – limites sempre questionados. Outros escalonam as faixas etárias até 21 anos para efeito da pena e, finalmente, alguns consideram inimputáveis menores de 16 ou 18 anos.

Nem por essas ou qualquer outra razão, entretanto, o caminho para conter a violência juvenil deve passar ao largo de um olhar para as condições que podem contribuir para a correta análise desse grave problema. Pesquisas indicam que aumenta o contingente de jovens “nem-nem-nem”, que são aqueles que não estudam, não trabalham e nem procuram emprego. Vivendo em situação de vulnerabilidade, especialmente nas periferias das grandes cidades, boa parte deles, ao contrário da opinião dominante, reage positivamente quando lhes são oferecidas oportunidades de acesso à educação e ao trabalho, como comprovam os resultados dos programas de estágio e aprendizagem administrados pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). Números da ordem de 13 milhões de jovens encaminhados ao mercado de trabalho, com taxa de efetivação acima de 60% –sempre com concessão de bolsas-auxílio e outros benefícios –, sinalizam o rumo a tomar para a efetiva recuperação de menores infratores, hoje recolhidos em centros especializados, vários dos quais funcionam como verdadeiras escolas do crime, segundo autoridades no tema.

A atuação do CIEE vai mais longe, pois compreende a manutenção de uma rede assistencial de serviços gratuitos, voltados não apenas para a qualificação profissional, mas também à formação cidadã e desenvolvimento pessoal dos estagiários, aprendizes, estudantes em geral e seus familiares. São serviços sociais de qualidade, que abrangem cursos gratuitos (presenciais e à distância) pré-vestibular, de informática, de desenvolvimento profissional e estudantil, ações de prevenção ao uso de drogas e estímulo ao voluntariado, apoio de uma equipe de assistência social, entre outros. Por toda a experiência que registra em seus 50 anos de atividades, o CIEE está cada vez mais convicto de que a melhor aposta para o futuro das novas gerações é exatamente a valorização da educação e do trabalho.  *Presidente do Conselho Diretor do CIEE Nacional e da Academia Paulista de Letras Jurídicas———————————–O BARCO ESTÁ AFUNDANDO – Rubens Marchioni*A necessidade de garantir a sobrevivência biológica tem a força de um furacão. É bem mais forte do que combustível de avião.  Daí, para se dispor a entrar num barco sem destino, em busca de um rumo incerto, é um pulinho. A vida grita. Pede movimento. É preferível morrer tentando. Isso é mais digno do que ficar parado, feito poste, pesando sobre todos e esperando por um milagre. Comodismo é pecado. Mortal.  

Assim tem acontecido com tantos indigentes que vivem em países castigados pela guerra e massacrados pela fome e miséria, cujas causas são conhecidas. Com olhos pregados na velha Europa, eles se põem em marcha, enfrentando toda sorte de azar e perigo – inclusive aqueles causados pela ganância de quem têm um pouco mais – e morrendo aos milhares. No mais das vezes, os que conseguem realizar a viagem vão para fábricas, onde trabalham como escravos brancos, com um débito eterno de gratidão ao empregador.

Mas agora, o problema está saindo do controle. Se, por negligência, as chamadas autoridades competentes não se emprenharem em trabalhar questões como justiça e paz, a fim de evitar que estes e outros problemas sociais se avolumem, teremos a inevitável instauração do caos, um crime com propósito de matar.

A grande vilã chamada desigualdade precisa deixar de atuar na grande trama da nossa vida. A justiça tem de roubar a cena, em grande estilo. Encantar auditórios e movimentar nações: as pobres, para que reivindiquem; as ricas, para que dividam.

Só isso vai provocar o clima de confiança no poder, necessário à governabilidade, e nas possibilidades humanas de uma convivência pacífica, viabilizando a realização de projetos pessoais e globais. Qualquer outro comportamento vai resultar em fracasso inevitável, traduzido em tragédias e convulsão social. E nesse caso não adianta chorar os barcos afundados. Nem as vidas perdidas.*Publicitário, jornalista e escritor. [email protected]://rubensmarchioni.wordpress.com