Cotidiano

Prédio demolido provoca nova polêmica

Prédio onde funcionou o primeiro cinema de Boa Vista, que não era tombado, foi demolido para dar lugar a novo empreendimento

A demolição de um prédio antigo localizado no cruzamento da Rua Bento Brasil com a Avenida Jaime Brasil, uma das mais antigas e onde estão vários prédios do Berço Histórico de Boa Vista, levantou mais polêmica sobre a preservação do patrimônio histórico. O ponto comercial foi sede do primeiro cinema da Capital e a estrutura do prédio seguia o mesmo padrão dos que foram construídos no período de formação da cidade.

A Prefeitura de Boa Vista se posicionou, por meio de nota enviada à Folha, informando que o prédio é particular e que não é tombado pelo município. Mas, para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a memória de Boa Vista precisa ser mantida e a população deve cobrar da administração municipal um posicionamento diante das constantes demolições de casas e construções antigas.

A Prefeitura sustenta que, como a construção não era tombada, foi concedida ao proprietário a oportunidade de realizar um novo projeto no local. O ponto comercial fica nas proximidades do Casarão da Família Brasil, uma das primeiras famílias a firmar residência em Boa Vista, por isso ruas e avenidas do Centro homenageiam os antigos moradores.

“Inclusive tem uma placa na frente, daquelas que a prefeitura espalhou pela cidade, ‘Caminhos da Memória”, e é incoerente porque tem uma demolição ao lado. É uma coisa bem estranha. A antiga fábrica de gelo foi modificada. Isso acontece todos os dias”, contestou a superintendente do Iphan, Mônica Padilha.

Segundo ela, há uma legislação federal que proíbe destruição de prédios que estão no entorno daqueles que foram tombados como patrimônio histórico e que a área correspondente depende de cada caso, por isso não é possível medir se são 100 metros ou 200 metros.

“Quando um bem é tombado, não é tombado isoladamente, porque os arredores precisam manter uma relação com o tombamento. Quando olhamos a Praça do Centro Cívico, não olhamos só o Monumento ao Garimpeiro, mas o Coreto, o Palácio do Governo, o Parlatório, a Catedral por trás. Imagine se no lugar do parlatório fosse construído um prédio de cinco andares. O cenário seria totalmente modificado. Então, o entorno vem com esse sentido, de não haver modificação na paisagem que envolve todo aquele bem”, destacou a superintendente.

Para o Iphan, falta uma legislação específica por parte do município. “Acredito que é uma falta de conhecimento, por falta de uma legislação específica, regulamentada e que seja executada. Não adianta só fazer a lei. A Lei 718 do Estado [que dispõe sobre a Preservação e Proteção do Patrimônio Cultural de Roraima] está parada desde 2009 e nunca foi regulamentada. E não adianta regulamentar se não há profissionais que tenham essa visão sensível do patrimônio. Tenho certeza que a pessoa que avaliou o projeto que foi encaminhado para construir no lugar do prédio histórico, que era lindo, não tem sensibilidade. Falta educação. O proprietário não tem culpa. O que o empresário quer é o lugar operacional para instalar a loja dele, mas ninguém sugeriu que o prédio não fosse mudado. Não é porque não é tombado que não merece o respeito, o reconhecimento. A proteção vai além de uma legislação”, frisou Mônica Padilha.

PROPRIETÁRIO – A Folha tentou contato com o proprietário do prédio demolido e com o responsável pela nova construção, mas eles não foram localizados ontem.