Política com chocolate O caso da faxineira acusada de furtar um chocolate da mesa de um delegado da Polícia Federal ganhou contornos amplos, nas redes sociais, por um simples fato: a corrupção generalizada no Brasil com sua impunidade com os grandes faz parecer “inocente” qualquer erro de um cidadão comum.
Não estamos acostumados a ver punidos os grandes, os engravatados, os políticos, os governantes. Não podemos nos esquecer que, em Roraima, temos um ex-governador cassado duas vezes, pela Justiça Eleitoral, mas que conseguiu não apenas terminar seu mandato, como também saiu ileso, sequer com uma acusação de corrupção eleitoral.
Temos ainda o grande escândalo dos “gafanhotos” cujos principais acusados fazem parte a elite política roraimense, mas todos conseguindo se livrar aqui e acolá das acusações, inclusive os condenados alcançando liminares para que suas vidas políticas sigam como se nada tivesse acontecido.
Essa sensação explícita de impunidade faz com que as pessoas achem que pegar um chocolate, sem autorização, da mesa de alguém, se trata de um ato simplório, algo insignificante. Os que criticam o delegado simplesmente o condenam sumariamente, com todas as suas forças, sem ao menos acrescentar que a funcionária mereceria ao menos uma reprimenda.
Mas, de fato, é revoltante saber que uma mulher paga seu preço por pegar um chocolate da mesa de uma autoridade policial, enquanto os grandes criminosos passam ilesos não apenas nas investigações policiais, mas nas condenações judiciais, nas brechas que as leis permitem e na mídia também.
Excluindo a ação legalista do delegado, que usou as prerrogativas legais para acusar e punir o roubo de um chocolate, é preciso que o país seja passado a limpo para que pequenos e grandes sejam punidos. Não iremos mudar essa política baseada na corrupção quando grandes e pequenos acharem normal pegar o que não lhes pertence ou desviar aquilo que é público.
Um deslize na vida é comum que ocorra, mas precisamos pagar pelos nossos erros desde criança, pois, senão, jamais conseguiremos mudar a realidade do Brasil. É desde pequeno que devemos ensinar nossas crianças, a começar por não pegar o que não lhes pertence na escola ou nos lugares que elas frequentam.
Se nossos filhos começarem a chegar em casa com dinheiro, mesmo que sejam moedas, ou objetos que não demos a eles ou com os quais não foram honestamente presenteados, e não indagarmos ou mandarmos devolvê-los, estaremos apenas reproduzindo esse Brasil do Petrolão, onde políticos e outras autoridades corruptas ficam impunes e faxineira que pega chocolate na mesa de delegado sinta o peso e o rigor da lei.