Demônio e tecnologiaNão sei qual a pretensão das pessoas em querer enxergar somente o lado negativo sobre o avanço das tecnologias e de suas extraordinárias expansões por toda nossa vida, incluída aí a internet com suas redes sociais. Não consigo enxergar o demônio em querer dar um objeto tecnológico como presente para uma criança, como o repórter insistiu em dizer na entrevista televisa logo pela manhã.
É verdade que minha imaginação trabalhou muito com meus carrinhos feitos de lata de leite Ninho puxado a corda ou da cortante lata de sardinha usada, que virava uma extraordinária caçamba para asfaltar as estradas imaginárias construídas no fundo do quintal. E o perigo era cortar o dedo e pegar o tétano que nossas mães alertavam como se fosse algo apocalíptico.
Mas por que a criança não pode exercer a mesma magia e imaginação com o Minecraft? Parêntese: eu sei que eles já estão em outra, mas deixa-me falar desse game assim mesmo. Por que o Google não pode ajudar na pesquisa escolar? Por que as redes sociais não podem ampliar novos horizontes? Por que ser um yotuber não significa também uma nova possibilidade?
O que não podemos é permitir excessos, sabendo que todo excesso é droga. Até sexo em excesso é droga. Rubem Alves já lembrava que o orgasmo não pode durar mais que alguns segundos, pois se fosse um pouco mais prolongado a alma não resistiria e a gente morreria…
Meu pai permitia que eu saísse para jogar bola na praça, onde estavam também o cheira-cola, o maconheiro, o vagabundo, o malandro e tudo o mais. Mas a permissão era uma liberdade vigiada, com sermão da Montanha, alertas e com hora marcada (algumas mães diziam: “Vou cuspir aqui no chão e quero ver você de volta antes de o cuspe secar”).
No campo de futebol, que é o lugar mais democrático, porém mais permissivo que já conheci da minha vida de criança, eu poderia me tornar malandro ou bandido. Mas eu estava cercado de conselhos e de ensinamentos. Aprendi por lá um monte de palavrão e de “imoralidades”, mas nem por isso me tornei bandido. De vez em quando, quando eu levantava a cabeça, via de soslaio meu pai me vigiando de longe. Eu fingia que não o via para não estragar a campana dele.
Assim é a tecnologia. Ela é o nosso presente e será nosso futuro definitivamente. E por que privar as crianças e os adolescentes, como se fosse um veneno ou algo abominável, que vai exilar, isolar, prejudicar, envenenar e ferir de morte? Crianças e adolescentes precisam de limites e saber que estamos os vigiando de perto ou de longe.
É hora de passarmos de fase e convocar a tecnologia para o nosso lado, e não demonizá-la. A internet é a praça de antigamente. É preciso permitir que se passeie por lá, mas desde que precedido de sermão, de vigília, de conselhos e de campanas… O excesso é onde está a droga… o diacho do demônio…