Ovo de codornaJá me referi várias vezes, aqui, que somos uma cidade do tamanho de um ovo de codorna. Sendo assim, tudo é muito próximo, e não me refiro apenas à questão de distância geográfica. Quem ainda não se viu, um dia vai ser ver no Parque Anauá, nas praças do complexo Ayrton Senna ou nos shoppings (quem sabe na Feira do Garimpeiro, domingo pela manhã, ou na Feira do Produtor, aos sábados? Ou no Caxambu?).
A política partidária nos atinge em cheio. Lembrando ainda que, a qualquer momento, podemos topar com um parlamentar por aí. As decisões dos governos mexem com nossas vidas (basta atrasar o pagamento dos servidores, por exemplo). Até para falar mal de alguém é arriscado, porque podemos estar diante de um parente, um familiar, um conhecido, um vizinho…
Acabamos agindo como provincianos ou mesmo como conservadores para que possamos transitar dentro dessa sociedade limitada e conservadora (alguns chamam de hipócrita). Quem tenta fugir disso paga seu preço – e nem todos estão querendo pagar esse preço, sabendo que não podemos fugir para “bem longe” por muito tempo, se amanhã teremos que ir ao supermercado ou ao restaurante.
É por isso que uma garota de programa qualquer vira escândalo quando faz “strip” em um show de reggae. E vira até notícia em jornal, com direito a dar entrevista como se tivesse virado celebridade. É o reflexo desse nosso provincianismo.
Porém, sabendo que Boa Vista e o Estado de Roraima são assim, é preciso que as pessoas e as instituições sigam as regras. Pagar prostituta para tirar a roupa em show significa o mesmo que pagar uma puta para tirar a roupa na festa da casa das pessoas. Porque festa pública em Roraima é assim, fica parecendo que está sendo feita no nosso quintal, na nossa praça, na nossa casa.
Não dá para fugir disso. Quem não é hipócrita ou conservador precisa engolir seco, pois nossa sociedade é desta forma e vai continuar assim por longos anos, até se desenvolver de verdade e sair da condição de um bairro de cidade grande.
Quem paga uma garota de programa para tirar a roupa em público deve arcar com suas consequências, pois não dá para fingir que “somos cidade grande e desenvolvida”. Não dá para agarrar nossos filhos e filhas pequenas, tapar seus olhos com as mãos, e arrastá-la de um show direto para casa (sim, o boa-vistense leva seus filhos pequenos para shows. Vai recriminar também?).
Enfim, quem vive em Boa Vista tem obrigação de conviver com o provincianismo, com o conservadorismo e até mesmo com a hipocrisia. Ou se enquadra, ou deveria assumir com suas consequências. O que não se pode é achar que agora, em Roraima, vivemos em uma metrópole só porque chegaram dois shoppings e algumas franquias…
*JornalistaAcesse: www.roraimadefato.com/main