Nariz virado para cimaDepois de gastar R$2 milhões, a Prefeitura de Boa Vista reinaugurou a Orla Taumanan com festa e rojões, na sexta-feira passada. Mas haveria motivo para tanta festa assim? Particularmente, para quem ganhou dinheiro para fazer aquela obra, tinha motivos de sobra para soltar fogos de artifício. Porém, não para o povo, que bancou a obra e a festa, nem tanto.
Como tenho um site que incentiva o turismo receptivo (www.roraimadefato.com/main), e a Orla é um dos locais turísticos principais do Estado, então decidi ir por lá neste fim de semana para checar a nova estrutura. Nada de extraordinário, nada de espetacular, a não ser o que era esperado: a reforma geral do piso e a reconstruções dos quiosques.
Porém, um grande problema logo se apresenta para quem vai aos quiosques. E não precisa ser engenheiro, arquiteto ou babalorixá para prevê que as coberturas feitas para abrigar o público daqueles quiosques não resistirão à mínima chuva de verão, muito menos a um inverno ainda que seja menos rigoroso. Ali é dinheiro jogado fora e um deboche com o contribuinte.
Em formato de guarda-chuva invertido, o grande autor da ideia achou que bastava inverter o teto para as águas da chuva serem canalizadas direto das plataformas para o rio. Como esses “guarda-chuvas invertidos” não são unidos, ficam brechas entre as coberturas. Até parece que seria um piada com os roraimenses, quem os mais espertos acham que têm o buraco do nariz virado para cima, para se afogar na primeira chuva.
Esses “guarda-chuvas invertidos significam o mesmo que construir um teto que já vem “furado”, com imensas “goteiras”, o que irá obrigar as pessoas a saírem correndo da Orla a qualquer chuva, pois não há outro local coberto perto para as pessoas a se abrigarem. Como chuva em beira de rio vem sempre com um vento mais forte, então vai ser aquela correria ao menor chuvisco.
Fica parecendo que aquela cobertura foi projetada por alguém que morou onde chuva é uma raridade ou por quem acabou de chegar aqui e ainda não presenciou um inverno roraimense de verdade – não este que acabamos de vivenciar, sem chuvas.
Não era precisa ter ido longe ou fazer muitas pesquisas para fazer o correto. O empresário que antes detinha a concessão dos quiosques da plataforma superior havia construído, com recursos próprios, coberturas mais apropriadas para abrigar os clientes da chuva. E funcionava razoavelmente, pois as chuvas com um vento mais forte incomodavam, mas havia onde o público se abrigar.
É nisto que dá construir obras sem ouvir o público, sem conhecer a realidade local, sem frequentar os locais aonde o povo vai. Não irá demorar, quando as chuvas caírem, para a Prefeitura anunciar nova licitação para instalar novas coberturas. Creio que antes mesmo do inverno, pois tudo indica que o vento sempre presente na Orla vai tratar de arrancar aquelas coberturas a ironizar a cara do contribuinte… Uma pena!
*JornalistaAcesse: www.roraimadefato.com/main