Uma sentençaA situação chegou a um nível que, em Roraima, já foi ultrapassada a barreira do “sabe com quem você está falando?”. Agora, com os últimos acontecimentos, a lógica é outra: “Saiba com quem você está falando”, ou seja, “aprenda a falar com quem é superior a você”. Não se pergunta mais. Agora afirma-se como se fosse uma sentença (em alguns casos, de morte, como foi o triplo homicídio praticado por um policial militar).
A impunidade é apenas um desses gatilhos que dispara o sentimento de superioridade e arrogância. Como os erros são negligenciados, isso é um passo para os crimes serem cometidos no exercício da função pública. E não me refiro somente a policiais, e sim a autoridades de uma forma geral.
Há um descaramento para privilegiar os que se acham eleitos ou os que se colocam como parte integrante do poder – e o poder como extensão de sua casa e de seus negócios. Assim como a corrupção permite que as pessoas misturem dinheiro público com suas contas particulares, o privilegiamento (existe essa palavra?!) permite que qualquer um, no exercício de suas funções públicas, se ache o próprio Estado opressor ou a própria lei.
A Justiça também contribui para este papel, concordando com brechas para permitir os que erram a continuarem intocáveis ou mesmo em casos de policiais reprovados em exames psicotécnicos ou em investigações sociais (ou até mesmo reprovados em notas) que ganham na Justiça o direito de serem integrados a cargos para os quais jamais deveriam.
O fato é que estamos em um Estado permissivo, aonde um funcionário público com influência e com desaforos vai conseguindo avançar com seus “jeitinhos”, suas trapaças, seus desvios de comportamento e violências muitas vezes ocultadas na delegacia, na corregedoria ou mesmo no local de trabalho.
Assim como não há tolerância zero para a corrupção, não existe tolerância zero para desvios de comportamento. Como tudo é tratado na permissividade dos privilégios, de corporativismos ou mesmo na base do coleguismo, não tardará para um desvio de comportamento tornar-se um crime com lastro na prepotência de um cidadão que se acha superior a tudo e a tudo.
Nas redes sociais, o que mais se vê é gente pregando esse discurso do agir com as próprias mãos, da alopração fora da lei, do pega-e-esfola, do agir prejulgando e com condenação no tribunal de Talião. O que o policial militar homicida fez nada mais foi do que a concretização desse comportamento de ter na paranoia a forma de agir fora das leis e do espaço democrático.
É preciso repensar o que estão pregando nas redes sociais, por meio da paranoia coletiva. Porque a permissividade e os privilégios concedidos aos “eleitos” fazem surgir uma sociedade fascista, cujas vítimas passam a ser quem quer agir dentro da lei, da democracia e dos princípios da honestidade.
*JornalistaAcesse: www.roraimadefato.com/main