Pompeia brasileiraUma cidade inteira foi arrasada pelo terrorismo ambiental, em Minas Gerais. Não houve uma comoção social nas redes sociais. Nem míseras linhas de protesto inundaram a linha do tempo dos internautas brasileiros. Até mesmo uma repórter da Globo, conforme vídeo que circula na internet, fez cara de nojo para a população da cidade de Mariana, que queria expor sua indignação.
Toda tragédia merece reflexão e solidariedade. Mas existe uma onda tipo boiada que foge à lógica: as tragédias que estão longe, muito longe de nós, mas massificada pela mídia internacional, ganham logo indignação coletiva, enquanto nossas tragédias são esquecidas no dia seguinte, sem qualquer ato de solidariedade virtual.
Mas deixemos o “efeito binóculo” de lado. O que nos interesse, neste momento, é discutir com veemência os grandes projetos de desenvolvimento pós Mariana, pois restou comprovado que a mineração, setor apontado como futuro de Roraima, pode significar um terrorismo sem precedentes, como o que ocorreu na cidade mineira.
Ficou bem claro que os “ecochatos” tinham razão em cobrar mais rigor na liberação de autorização para construir aquelas barragens, conforme propôs o Ministério Público Federal daquele Estado. Como a liberação da exploração mineral é defendida com unhas e dentes no Congresso, então é bom que tenhamos a tragédia brasileira em mente a partir de agora.
Isto não significa querer congelar Roraima para a exploração mineral nas áreas indígenas, por exemplo. De forma alguma. Significa que a busca pelo desenvolvimento a qualquer custo pode ter um preço muito caro, para alguns casos impagável, como ocorreu com a cidade mineira.
Não faz muito tempo, surgiu o projeto para a construção da Hidrelétrica do Bem-Querer, quando foi dado o alerta de que a barragem, que por ventura for construída na região, poderá significar a inundação de várias áreas ribeirinhas, inclusive o sumiço das praias do Rio Branco em Boa Vista. Mas logo surgiram aqueles que ironizam os assuntos que mexem com as multinacionais, tachando os ambientalistas dos mais absurdos conceitos.
É preciso que a atenção seja redobrada a partir de agora. Queremos uma matriz energética que nos tire do atraso, queremos uma mineração que signifique emprego, renda e divisas. Mas não queremos pagar o preço nos tornando uma Pompeia, a exemplo de Mariana, ou uma Atlântida ribeirinha.
Queremos progresso, mas garantindo segurança ambiental e uma vida sem tragédias para a população mais pobre. Ou vamos preferir nos indignar apenas com a França ou com o próximo terrorismo em outro país europeu?
*JornalistaAcesse: www.roraimadefato.com/main