Jessé Souza

Assunto para desocupados 1934

Assunto para desocupados

A grave questão do Aterro Sanitário de Boa Vista, que há tempos se transformou em um imenso lixão a céu aberto, é tão somente um dos exemplos dos problemas ambientais que nos cerca diante os olhos cegos e ouvidos moucos do poder público em todos os níveis. É mais ou menos assim: os governos esperam os problemas surgirem para somente depois, quando a situação se agrava, começarem a pensar em encontrar uma solução.

O aterro vem dando sinais de alerta há muito tempo, mas não houve sequer um vereador preocupado com a questão, pois eles estavam (ou estão) mais interessados em resolver questão de pagamento de diárias, aluguéis de carros, aumento de verba de gabinete e outros assuntos de interesses particulares ou inconfessáveis.

Agora estamos com um lixão contaminando o subsolo, lançando lama tóxica no igarapé Wai Grande e expelindo uma fumaça igualmente tóxica no meio ambiente por causa da queima de plásticos e outros materiais. No entanto, o problema não comove ninguém, porque meio ambiente é tratado como se fosse “coisa de comunista” ou “assunto de desocupados”, a não ser quando ocorre uma tragédia anunciada, como foi o caso de Mariana, em Minas.

Esgotos lançados em igarapés urbanos são outra questão gravíssima, negligenciada pelas autoridades. Não precisa de muito esforço para notar o problema. Basta passar pela Avenida Ville Roy, no bairro Caçari, para sentir a fedentina que exala no trecho entre o igarapé Mirandinha até o Conjunto Monte Roraima, área nobre.

O mesmo foco de fedentina pode ser constantemente sentido ao longo do igarapé Caxangá, em uma área não tão nobre assim, o qual passa pelas avenidas Glaycon de Paiva (perto da Unimed), Ville Roy, Benjamin Constant, Getúlio Vargas, Sebastião Diniz, todos no bairro São Vicente, e em outras vias menores no bairro Calungá, na região do Beiral, onde deságua no Rio Branco.

Isso significa que, embora possa significar a existência de esgoto clandestino, não há interesse prioritário das autoridades para combater o problema e punir quem esteja cometendo o crime ambiental. Há uma completa omissão do poder público que não identifica, não coíbe nem pune os responsáveis. Esses esgotos vão direto para o Rio Branco, nosso principal manancial de água potável e fonte de vida de muitas famílias em vários municípios.

Como podemos notar, o lixão e os esgotos lançados nos igarapés urbanos são problemas que estão flagrantemente à vista e ao olfato de todos, mas não há interesse em eliminá-los, a fim de livrar a sociedade dos grandes riscos ambientais que representam um passivo muito alto. Todos de bico calado, pois, afinal, meio ambiente é “assunto para histéricos” e política é apenas para se locupletar e se dar bem na vida.

*JornalistaAcesse: www.roraimadefato.com/main