Largados na casa nova
O que está acontecendo no Residencial Vila Jardim, no bairro Cidade Satélite, para onde se mudaram quase três mil famílias, nada mais é do que eu comentei aqui, no ano passado: o governo entrega as unidades habitacionais e depois larga as pessoas sem acompanhamento social e assistência em todos os sentidos.
Por ser o maior conjunto habitacional do Estado, obviamente os problemas por lá são maiores. Porém, esta situação se repete em todos os demais conjuntos entregues à população, a qual fica à mercê da insegurança, da mínima organização em relação a condomínio e assistência por parte do poder público.
Por fora, visivelmente parece que tudo está bem bonito e arrumado. Mas, por dentro, estão os graves problemas, a começar pela nova vida a que estas pessoas terão que se adaptar, ao serem obrigadas a adotar regras de convivência e a regulação por meio de condomínio.
Como nada disso foi planejado, com determinação política para conscientizar, orientar e auxiliar, então os novos moradores ficam largados à desorganização completa. Então, começaram a surgir problemas em seus cotidianos: criação de animais domésticos a que sempre estas pessoas estavam acostumadas, nova vida em apartamentos sem quintal e convivência com pessoas que até então eram completamente estranhas.
E esse é menor dos problemas. Tem a insegurança, porque a polícia não pode ficar à disposição 24 horas para atender somente um residencial, busca por vagas na escola para os filhos, transporte público deficiente, aumento de demanda nas unidades de saúde e outras situações.
Além de tudo, os desempregados e as crianças e adolescentes ociosos precisam de atenção especial. Ter uma casa nova para morar, pagando um preço muito braço pela mensalidade, não significa mudança de vida por si só. Então, os serviços sociais e programas governamentais deveriam chegar junto com os moradores, para que eles tivessem acompanhamento de perto.
Mas nada disso é pensado. Para os políticos, o importante é entregar a casa e achar que ali um voto por gratidão eterna já está garantido de cada morador. Então os problemas começam a pipocar, e os moradores passam a perceber que estão abandonados e isolados em um setor da cidade aonde as autoridades e a polícia não chegam.
Mediante este quadro, é um passo para o aumento da violência, da desassistência, dos conflitos pessoais e familiares, das dificuldades para se adequar à nova vida em um lugar sem ordem, além de problemas sociais ocasionados pela falta de planejamento dos governos. Ou seja, o sonho da casa própria passa a ser um pesadelo.
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