De volta ao tema
Por um erro de diagramação, o artigo de ontem, intitulado “Cenário de horror”, saiu indevidamente na Folha impressa como se fosse de autoria de Vera Sábio. Ao pedir desculpa pelo equívoco, retomo o mesmo assunto devido à importância do tema e pela discussão que se abriu na internet.
Um dos comentários pertinentes a respeito do fogo que destrói o Estado partiu do agrônomo Joaci Luz. Ele afirmou: “É lamentável o cenário e ainda mais lamentável que as mesmas pessoas fazem seu foguinho sorrateiramente e nós todos fechamos os olhos e pagamos a conta com nossa indignação, e a natureza paga com a morte”.
Ele continuou: “Temos muitas formas de ajudar a prevenir, a produzir e a acabar com esse modelo de desenvolvimento a base de fogo, mas quase nunca tem dinheiro para essas atividades. Sinto falta dessas propostas que preservam os mananciais, as florestas e a vida, com simples projetos sustentáveis. Mesmo com todo esse apelo e essa situação de calamidade, essa discussão não entra em pauta do Estado ou dos municípios”.
Dias atrás, comentei a respeito desse assunto e, de fato, poucos têm realmente interesse em colocar o tema em debate, principalmente porque vem ganhando corpo uma ideia idiotizante de achar que quem defende o meio ambiente é “comunista”, “desocupado” ou algo desse tipo.
Vem sendo alimentado um discurso de combater ferozmente a defesa da natureza. Esse discurso ganha corpo porque ele é enfeitado como se fosse um pensamento ultramoderno e intelectualizado, enquanto os defensores dos recursos naturais são colocados como “contra o desenvolvimento”, “retardados intelectualmente”, “agentes da internacionalização da Amazônia”.
A paranoia da internacionalização deixou muita gente sequelada, envergonhada de se posicionar a favor do meio ambiente e de temas que defendam minorias ou que combatam o discurso do “desenvolver a qualquer custo”.
Enquanto isso, as autoridades e órgãos ambientais vão levando os problemas da estiagem e da seca como se fosse um assunto sem importância, impondo um sofrimento às populações mais vulneráveis das cidades do interior, o pequeno agricultor e as comunidades indígenas.
Quando se trata de governos, a estiagem e as queimadas sempre ficam em último plano, sem um programa efetivo e sério visando à prevenção, educação e até a repressão, sempre sem recursos financeiros e humano necessários para se antecipar às tragédias.
E não custa lembrar que as grandes civilizações da Humanidade desapareceram porque não souberam administrar os recursos naturais. As tecnologias avançaram, o conhecimento está ao alcance de todos, mas parece que o ser humano não aprendeu a lição com o passado. Estamos cavando nosso próprio buraco…
*JornalistaAcesse: www.roraimadefato.com/main