Opinião

Opiniao 22 02 2016 2066

O eco da lucidez de Eco – Tom Zé Albuquerque* Depois da perda de um ente querido, o maior luto que há é quando vai a óbito um ser inteligente. Foi-se para o oriente eterno na última sexta-feira, aos 84 anos, vitimado por agressivo câncer, o filósofo, escritor, expoente em semiótica, linguista e bibliofilo italiano de repercussão internacional, Umberto Eco.

Era ele pulverizador das linhas filosóficas de Locke e Kant, sobremaneira nos estudos do entendimento humano e da moral, se embrenhando na defesa da importância do senso crítico, mesmo que fosse acoplado às massas. Num mundo de superficialidade e de crise literária, onde os grandes escritores de hoje perpassam (pelo menos no Brasil…) pelo conteúdo banal de Paulo Coelho e pela linha bibliográfica de atores globais e suas traquinagens sexuais, ver extinguir a inteligência de um escritor do nível de Eco é angustiante.

O jornalista e doutor em ciência política pela USP, Leonardo Sakamoto, definiu bem a perda: “Creio que Umberto Eco não morreu. Ele simplesmente se cansou e se foi. Este mundo de possibilidades infinitas que vão se desdobrando à nossa frente também guarda uma série de desgostos para alguém que confiava no papel central do conhecimento, e não da opinião sem fundamento, no desenvolvimento da humanidade. Conhecimento que nunca foi tão importante e, ao mesmo tempo, tão desprezado”.

Tanto é assim, que o excepcional filósofo disparou contra as informações enlatadas, em entrevista ao jornalLa Stampa: “As redes sociais dão o direito de falar a uma legião de idiotas que antes só falavam em um bar depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a humanidade. Então, eram rapidamente silenciados, mas, agora, têm o mesmo direito de falar que um prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis”. Por isso defendia os livros (cada vez menos lidos), quando proferiu: “Os livros não são feitos para alguém acredite neles, mas para serem submetidos à investigação. Quando consideramos um livro, não devemos perguntar o que diz, mas o que significa”.

Moisés de Lemos Martins, professor de Semiótica na Universidade do Minho, em Portugal, menciona que numa altura em que os debates eram marcados por visões ‘leitura única’, Eco veio dizer algo que foi revolucionário, que apesar de haver um código por detrás de uma obra, existe nela a possibilidade de inúmeras leituras, pois, há uma intencionalidade na obra, mas o leitor interpele-a.

E, adrede, Eco defendia que: “Nem todas as verdades são para todos os ouvidos”.

Por conseguinte, seu último romance, Número Zero, serviu como paródia ao jornalismo, sendo crítico voraz do mercantilismo dos intelectuais à cata de reconhecimento e valorização, engendrando suas obras às causas políticas e culturais, independentemente de retorno pecuniário, disparando: “Não são as notícias que fazem o jornal, mas o jornal é que faz as notícias, e saber juntar quatro notícias diferentes significa propor ao leitor uma quinta notícia”.

Umberto Eco era uma das mais relevantes figuras da cultura europeia, cuja morte tem causado comoção mundo afora. Choremos pela falta de perspectiva de alguém à altura e em face da lama literária que estamos afundados, mas cabe consolo em mais um ensinamento deste magnífico amante do saber: “Rir do mal é não estar disposto a combatê-lo. Rir do bem é desconhecer a força com o qual o bem difunde-se a si próprio”. *Administrador

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Totó – Valdir Fachini*

Era uma linda manhã primaveril, os pássaros cantavam alegremente no florido jardim, borboletas sobrevoavam suavemente entre as flores misturando com elas seu voar colorido, nas praças a petizada corria serelepe de um lado para o outro, sorrindo e brincando num sonho pueril. (obs. isso não é um conto de fadas eu só estou enchendo linguiça) agora vamos voltar a realidade. Já era quase onze horas de um domingo de outubro, eu tava com a cabeça doendo pra cacete, numa ressaca depois de um porre que eu tomei no sábado, quando um tonto bateu palmas lá no portão, a mulher tinha ido na missa e eu tive que levantar pra atender.

Cinco minutos pra espreguiçar, cinco esfregando o olho, cinco pra achar o chinelo e mais cinco pra ir ao banheiro e fui atender o infeliz que no caso já tinha ido embora, mas deixou uma caixa de sapato com um filhote de vira-lata mais feio que bater na mãe por causa de mistura.

Nisso a mulher chegou, viu aquele trem e se apaixonou. Adotamos o feinho que foi batizado de Totó. Eu tô pra ver bicho mais fiel que vira-lata, toda vez que eu saia ele ia atrás, ia me seguindo de longe, quando eu olhava pra atrás ele se escondia, eu ralhava com ele, mas não adiantava.

Na época eu tinha um quebra-galho, pé de cabra, uma amante, ela morava a mais ou menos um quilômetro da minha casa e sempre que eu comparecia o Totó me seguia, sempre do mesmo jeito, se escondendo atrás de poste, saco de lixo ou caçamba, quando eu terminava o serviço ele estava lá me esperando abanando o rabo, meio distante, mas estava lá.

Porém, uma tarde ele não me seguiu, eu andava um pouco e olhava rápido pra pegar ele de surpresa, nada, dessa vez ele não me seguiu mesmo.

Cheguei no portão olhei de novo e nada, entrei em casa, fiz o que tinha que fazer e sai.

Quem estava lá na frente me esperando? O Totó e ao seu lado de braços cruzados,… dona encrenca.

A esperta prendeu o cachorro antes do meu horário de sair, pouco tempo depois ela o soltou, então foi só seguir o bicho.

O resto da história não é preciso que se diga. A patroa foi pra casa da mãe, a amante ficou com vergonha do barraco e mudou da cidade, o Totó a carrocinha pegou e eu fiquei só chupando o dedo.

Mas eu aprendi uma lição que jamais vou esquecer, nunca mais coloco o nome de Totó num cachorro meu.

*[email protected]

————————————————— Em que mundo vivemos – Afonso Rodrigues de Oliveira* “O mundo do comportamento humano é uma das poucas áreas que continua a operar com teorias e informações fora de moda”. (Anthony Robbins) Não sei se é isso que causa a lentidão na nossa evolução ou se é a lentidão na evolução que nos causa o arrasta-pé. A verdade é que não progredimos na nossa evolução social. A quase totalidade da população humana ainda vive os pensamentos e atitudes de séculos passados. Ainda vivemos sob dogmas e orientações que não têm mais validade dentro da racionalidade. E é difícil pra dedéu o ser humano entender isso. Ainda vivemos baseados no que viveram nossos ancestrais. Mesmo sem tê-los conhecido. Vamos peneirar isso. Ainda não aprendemos a pensar. Ainda não liberamos nossos pensamentos para que possamos viver uma vida livre. Ainda temos medo dos pecados, praticando-os diariamente.

Todos os resultados que obtemos na vida é fruto dos nossos pensamentos. Ainda não acreditamos que somos o que pensamos. Que é nos nossos pensamentos que está a força de que necessitamos para vencer os obstáculos da vida. Ainda rimos do escoteiro Raimundinho. Quando na verdade ele nos deu uma lição de como devemos ultrapassar o obstáculo no caminho. E isso de uma maneira maravilhosamente simples. Porque a vida deve ser vivida com simplicidade. Séculos antes do nascimento de Cristo os astrólogos já nos diziam coisas que nossos astrólogos estão “descobrindo” hoje. Durante séculos vivemos ignorando os ensinamentos deles porque não podíamos, nem devíamos, desobedecer aos dogmas que nos foram impostos. E fica comum repetir que ainda continuamos vivendo, sob os dogmas, como verdadeiros elefantes de circo em treinamento.

Ainda há quem ria quando falamos da importância do nosso espelho interior. E isso porque ainda não nos ensinaram a nos mirar nele. E só conseguiremos nos ver no nosso espelho interior quando acreditarmos em nós mesmos. Quando soubermos o quanto somos capazes de corrigir nossos próprios erros. É só reconhecê-los. E só quando formos capazes de medir e analisar nosso potencial como ser de origem racional seremos capazes de ser racionais. Acho que estou peneirando isso numa urupema, mas não faz mal. O importante é que você reflita sobre você mesmo e comece a acreditar em você; no seu potencial que depende do valor que você se dá. Quando você se considerar um vencedor não será derrotado. Porque ninguém consegue se tornar rico pensando em pobreza; assim como não conseguirá continuar pobre pensando e agindo como rico. Ame-se como você é e procure ser o que não é. Não podemos viver o presente presos ao passado. Pense nisso. *[email protected]

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Menos diagnóstico e mais proposta – Gilberto Alvarez*

Nunca se produziu tantos estudos e estatísticas sobre o desempenho da educação brasileira. Mas, ao contrário dos discursos e das pesquisas elaboradas, as relações entre escolas, educadores e alunos continuam as mesmas: sem um projeto consistente para retirar a educação brasileira do atraso.

Os diagnósticos pululam em progressão geométrica, financiadas por instituições públicas e privadas, mas nem mesmo o governo federal, por meio do Ministério da Educação e Cultura (MEC), tem uma proposta clara sobre o modelo de educação que pretende colocar em prática em cada etapa de ensino.

A educação vive um dilema que é quase uma escolha de Sofia, decidir de que forma pretende investir os amplos recursos à disposição, onde concentrar mais verba e por que e como gerir e administrar esse dinheiro. O livro trata de um dilema moral, enquanto na educação brasileira o caso envolve problemas de gestão e de falta de um plano nacional para o setor.

No livro de William Styron, uma prisioneira polonesa em Auschwitz recebe um “presente” dos nazistas: ela pode escolher, entre o filho e a filha, qual será executado e qual deverá ser poupado. Escolhe salvar o menino, que é mais forte e tem mais chances na vida, mas nunca mais tem notícias dele. Atormentada com a decisão, Sofia acaba se matando anos depois.

No caso brasileiro, a meta do PNE (Plano Nacional de Educação) é investir 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação até 2024. Nenhum outro país coloca tanto dinheiro na área. Mas o Brasil tem a educação típica de um país que tem metade da renda per capita brasileira. Está 25 anos atrás do Chile e tem apenas metade dos jovens cursando o ensino médio na idade certa. São problemas graves.

Então, se pedirem 10% do PIB para mexer na educação, acredito que a sociedade brasileira está de acordo. No entanto ela exige mais. Ela pretende que recursos sejam oferecidos com instrumentos vigorosos de controle e sob a condição de garantir que a situação mudará, com um plano sério, bem explicado e com metas anuais a serem atingidas.

Como afirmei no início do texto, temos que sair da etapa do mero diagnóstico e partir para a ação. A falta de proposta é o cerne da questão. É preciso estudar modelos que deram certos em outros países e até em escolas brasileiras. Ter nossa opinião para o Ensino Fundamental, para o Ensino Médio e para o Ensino Superior.

Hoje a pauta é sempre reativa, ninguém tem sido propositivo em educação. O que chama a atenção é a falta de criatividade de educadores e especialistas para apresentar propostas concretas no universo dos estudos de educação.

*Diretor do Cursinho da Poli e presidente da fundação PoliSabe

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ESPAÇO DO LEITOR

ASFALTOUm leitor, que pediu anonimato, pediu que a Prefeitura de Boa Vista faça o recapeamento da rua Joca Farias, no bairro Caranã. “A prefeita Teresa Surita anunciou, meses atrás, durante reunião do Braços Abertos, o recapeamento da rua Joca Farias. Mas a obra nunca foi feita. Será que não irão fazer o serviço?”, perguntou.

ENQUADRAMENTO 1Sobre o parecer da Advocacia-Geral da União (AGU), que retirou a possibilidade de centenas de pessoas serem enquadradas na União, o internauta Santos comentou: “Não sou jurista, nem expert em legislação inerente ao serviço público, mas creio que a AGU agiu corretamente vedando o direito ao enquadramento como servidor público federal às pessoas que tinham ligação com o serviço público do ex-território federal de Roraima na condição de ocupantes de cargos comissionados”.

ENQUADRAMENTO 2“Todos sabem que os cargos comissionados não estabelecem vínculo empregatício com o governo, seja de que instância for, sendo demissíveis, gerando como benefícios únicos a percepção aos salários e contagem do tempo para efeito de aposentadoria. Já exerci cargo comissionado e sei exatamente do que estou falando. Com todo respeito a quem se escudou nessa esperança, acabou-se mais uma tentativa de trem da alegria”, concluiu Santos.

HGRTambém em anonimato, um leitor denunciou que a população continua sofrendo no Hospital Geral de Roraima (HGR), sendo medicados em cadeiras quebradas ou em macas espalhadas pelos corredores. “No HGR, há gente sofrendo em todo canto com a precariedade de infraestrutura. Aqueles que saquearam o Estado estão tomando para si os recursos públicos e construindo seu patrimônio. Mas esperamos que um dia isto possa mudar para que o povo viva com a dignidade que precisa e merece”, desabafou.