Um novo símbolo
Os países mais desenvolvidos há algum tempo vêm redescobrindo a bicicleta, um veículo barato, ecologicamente correto, que não ocupa muito espaço, desafoga o trânsito e ainda põe o corpo das pessoas em forma. Sim, países desenvolvidos. Porque em países atrasados, como o Brasil, esse veículo é satanizado e execrado, como se trânsito fosse lugar apenas para máquinas.
Mas é isso o que pensam as pessoas do Terceiro Mundo, que ruas e avenidas são lugares apenas para máquinas, em prejuízo a pedestres, ciclistas e veículos que não sejam de quatro rodas. E quanto maiores e mais potentes, mais “direito” e mais “razão” essas máquinas têm no trânsito. E assim começa a guerrilha no trânsito, como se fosse uma divisão de classes.
Em Roraima, a Prefeitura de Boa Vista começou a implantar as ciclofaixas e as ciclovias, as quais começaram a ser questionadas de alguma forma. Sem entrar nesse mérito, pois alguns questionamentos têm cunho explicitamente partidário, é preciso que a sociedade roraimense passe a ver a bicicleta como uma saída para humanizar o trânsito.
Antes mesmo da construção de ciclovias, quem vai tirar Carteira Nacional de Trânsito (CNH) aprende na autoescola que o bom condutor é aquele que dirige sempre protegendo os mais fracos no trânsito, mesmo que o pedestre não esteja na faixa e ainda que o ciclista esteja errado. É a chamada direção defensiva.
Esse é o espírito do trânsito civilizado. Só quem aprende isso, de verdade, e não apenas para tirar a CNH, consegue conceber a existência de ciclovias e ciclofaixas como um ponto altamente positivo para o trânsito. Mas o nosso trânsito anda tão caótico e esculhambado que, em vez de discutir como será o nosso trânsito com as bicicletas, passaram a combatê-las antes mesmo da nova realidade.
Só para se ter uma ideia de como pensam alguns boa-vistenses, nas redes sociais houve quem dissesse que “somente agora passou a valer a velocidade máxima de 60Km por hora”. Muitos não sabem que, desde que foi instituído o Código de Trânsito Brasileiro que isto é lei, inclusive as principais avenidas têm placas indicando a velocidade máxima permitida. E onde não existem placas, a validade da lei é a mesma.
Mas, enfim, o desafio é grande para reordenar o trânsito, não apenas porque há uma lentidão política para isso, mas porque o próprio cidadão também não tem interesse e nem está preparado. Porém, o que não pode ocorrer é que as ciclovias sejam tratadas como “questão partidária” e que não seja preciso morrer ciclista para que este assunto seja levado sem viés que não seja a vida no trânsito.
Assim como a faixa de pedestre tornou-se símbolo de humanização no trânsito de Boa Vista, fato elogiado por quem vem de fora, a bicicleta também deve ser incluída nessa lista de civilidade no trânsito. E as ciclovias precisam ser esse novo símbolo.
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