Jessé Souza

Jesse Souza 04 03 2016 2115

Maluf e filtro vintage

De repetente, mas não tão de repente assim, a França fez o que o Brasil nunca conseguiu fazer: prender o maior símbolo de corrupção deste país, Paulo Salim Maluf. E os franceses decretaram logo a prisão de toda a família, de toda a quadrilha que vinha assaltando o país de longas datas, mas que nunca foi punida pela Justiça brasileira.

Para quem não sabe, Maluf foi o criador da lendária frase “rouba, mas faz”, lema de muitos políticos ladrões. Ele é a lembrança mais viva do Brasil da impunidade, da corrupção no poder público, exemplo de como se dar bem na política. De corrupto, passou a ser personagem de sátira e de máximas da política brasileira.

A condenação francesa termina por revelar o que muitos querem renegar: a corrupção desde muito tempo quando a impunidade tornou Maluf uma figura quase mítica, pois muitas vezes debochou da imprensa, da Justiça, dos órgãos fiscalizadores e principalmente do eleitor brasileiro.

É vergonhoso saber que a França consegue condenar um político brasileiro por lavagem de um dinheiro que foi roubado do povo brasileiro. Mais vergonhoso é saber que, por aqui, ele continua impune e tratado como um mito na política brasileira por sempre conseguir sair ileso das acusações, tornando-se um personagem de anedota.

Maluf nos faz lembrar como o nosso país foi tão condescendente com a corrupção, de longas datas, fazendo com que a impunidade fosse uma marca registrada em verde e amarelo e, mais que isso, deteriorando a estrutura de um país que se vê mergulhado numa crise sem precedentes.

Paulo Maluf é a cara do Brasil. A imagem dele parece ter ficado meio desbotada em tempos de Lava Jato. Mas não é bem assim. Ele é a imagem “vintage” (quem conhece filtro de Instagram sabe do que estou falando) da corrupção brasileira. Apenas ficou com uma coloração retrô de condescendência e impunidade com as quais as autoridades sempre tiveram com os corruptos do mais alto escalão.

O cenário brasileiro está cheio de corruptos se passando por boa gente, comandando as altas esferas ou atuando nos bastidores como se fossem pessoas dignas e íntegras. Todos remanescentes de um passado bem recente de vistas grossas e benevolência.

Quem sabe, a partir da França, a Justiça brasileira comece a alcançar os bandidos do passado que se travestem de “imagem vitange”, fazendo parecer que a corrupção de um tempo não muito distante era tão somente algo acanhado, quase inocente, pintada como se fosse uma imagem desbotada.

Paulo Maluf precisa sair do anedotário político direto para um vergonhoso caso de impunidade e de deboche com o sistema Judiciário brasileiro. E que seja preso, assim como outros corruptos à solta, como sinal de que o Brasil quer ser mesmo outro, de verdade.

*JornalistaAcesse: www.roraimadefato.com/main