Opinião

Opiniao 12 03 2016 2144

É dos loteamentos que nascem as cidades – Erasmo Sabino*

Por muito tempo vi o loteamento Cidade Satélite como meu mais ousado empreendimento, pois tive a coragem de atravessar o igarapé Caranã e plantar as raízes, em pleno lavrado, daquele que é hoje um dos mais importantes bairros de Boa Vista. No início até me chamaram de louco por estar fazendo o que fiz, vendendo lotes longe de tudo, a quilômetros do centro urbano. Cisma que não durou mais que alguns meses. À medida que as pessoas perceberam que ele era um bom investimento, não precisou muito para o loteamento virar um bairro.

Os que me chamaram de louco, muitos deles mais tarde compradores de terrenos do loteamento, em princípio tinham lá suas razões. Os primeiros moradores tinham que atravessar um bom pedaço de chão para chegar a supermercado, farmácia ou padaria. Hoje não precisam sair do bairro, que é um dos mais populosos da capital e que, por essa razão, atraiu empresários de todos os ramos de atividade.

O Cidade Satélite é praticamente uma cidade com vida própria. Mesmo porque é hoje uma espécie de região semimetropolitana, com novos loteamentos ao seu redor e que acabarão por aumentar a densidade populacional desse espaço urbano e abrir caminho para outros tantos empreendimentos.

Mas não é só o Cidade Satélite que me enche de orgulho ao vê-lo tão desenvolvido, crescendo mais e mais, agregando novos valores com os empreendimentos imobiliários que aportaram e aportam naquela área. Vejo no Said Salomão o mesmo destino, com passado idêntico e futuro igualmente promissor. Não passarão muitos anos para que esse loteamento, que homenageia o homem que se transformou numa lenda como empresário e figura humana, seja igualmente um bairro completo, acompanhado de tantos outros loteamentos que a ele se seguirão.

A história do Said Salomão, cuja visão me provoca emoções fortes, é a mesma do Cidade Satélite: com eles tenho cumprido minha missão, que vem já há mais de três décadas, que é a de ajudar a transformar e manter Boa Vista numa das mais modernas e mais dinâmicas cidades da Amazônia, quiçá do Brasil. Essa satisfação me traz na memória outros importantes empreendimentos da minha lavra, como Park Caçari, Centenário, Cinturão Verde, Monte Cristo, Santa Cecília, Satélite City e tantos mais.

Pois foi assim, com loteamentos que hoje representam mais de 40% dos bairros da Capital, que sempre fiz questão de seguir à risca minha filosofia de trabalho: é dos loteamentos que nascem as cidades. Cidade Satélite e Said Salomão são testemunhas da verdade contida nessa metáfora.

*Empresário

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Energia com transparência – Jaime Brasil Filho*

Passamos apertado durante esta semana. Foram dois dias de longos apagões, muito calor e escuridão, sem falar nos pequenos apagões diários.

Para além do desconforto de cada um, não temos ainda calculados os certamente existentes prejuízos econômicos e danos de toda ordem causados às pessoas.

A energia de Guri foi trazida à opinião pública no princípio dos anos 2000 como sendo a solução para o problema energético de Roraima. Em sua implantação não foram poucas as denúncias de verbas desviadas e de obras malfeitas. Tudo para enriquecer alguns empreiteiros e políticos comensais.

A oligarquia local dizia que o problema de Roraima era falta de estrada e de energia. Que resolvido isso nós nos desenvolveríamos. Bom, é verdade que para a lógica capitalista de desenvolvimento a falta de infraestruturas como estradas e energia impede a geração de riquezas, mas, por outro lado, não é verdade que boas estradas e energia em abundância garantam que haja desenvolvimento. Citando um amigo que me enviou uma mensagem: “Se isso fosse verdade, o Paraguai seria um país desenvolvidíssimo, porque lá está sobrando energia elétrica. O Paraguai vende ao Brasil 60% da energia elétrica a que tem direito na hidrelétrica de Itaipu”.

Claro que nessa hora todo há todo tipo de aproveitadores da situação. Os anacrônicos racistas dizem que a culpa é dos índios que não deixam o linhão de Tucuruí chegar à Boa Vista, e se esquecem que há normas que devem ser respeitadas e, pior, parecem não lembrar o que foi feito a esses mesmos Waimiri Atroari quando da abertura da BR-174, nos anos 1970.

Outros, com mais apetite por dinheiro insistem em matar o Rio Branco, interrompendo-o ao meio com uma execrável hidrelétrica, quando sabemos, que se essa abominável obra saísse do papel o custo\benefício somente na perspectiva econômica seria extremamente negativo, isso tomando-se em conta o custo da obra e a pequena quantidade de energia que seria produzida diante do pequeno declive do Rio Branco e do baixo volume de água, como podemos observar durante 6 meses por ano, no mínimo. Nem precisamos falar do imensurável prejuízo ambiental e humano.

Há ainda os que querem posar de oráculos da sabedoria. Pessoas que ocupam o poder, e, fora desviar dinheiro público, fazem discursos e quase nunca encaminham nada de concreto, e, quando efetivam seus planos já é com a perspectiva de roubar mais dinheiro público, direcionar licitações, enriquecer e se perpetuar no poder.

Já disse e vou repetir: o que impede o desenvolvimento econômico de Roraima são os seus políticos, os desvios de verbas públicas para enriquecimento pessoal, a ausência de políticas públicas que atendam as peculiaridades, particularidades e especificidades do nosso povo e da nossa terra. O que não nos deixa desenvolver é esse sistema descaradamente clientelista de se fazer política, onde aos políticos é útil e necessário que o povo não tenha autonomia econômica para sempre depender dos cofres do Estado e dos seus favores.

Há algumas “curiosidades” nas declarações emitidas pela Eletrobrás em Boa Vista sempre que esses apagões ocorrem. A primeira coisa que eles fazem é colocar a culpa na Venezuela, até aí nada de novo. Mas, a segunda coisa que eles sempre dizem me deixa intrigado. Eles sempre dizem que o parque termelétrico disponível em Boa Vista é suficiente para atender a nossa demanda. Acontece que isso não ocorre. Sempre há alguma desculpa técnica para dizer que o parque atende, só que não atende. É aquela velha frase do bom vendedor de antigamente: “tem, mas acabou”. Há algo de muito errado ao se afirmar que uma coisa funciona, mas não funciona; que tem, mas não tem…

Não estamos falando de algo à toa. Trata-se de um Estado da Federação que é submetido à escuridão e aos inúmeros prejuízos e transtornos, porque há uma empresa que simplesmente não consegue realizar aquilo a que se propôs.

Tomando-se em conta a manchete da própria Folha de Boa Vista, desta vez e Eletrobrás em Roraima passou dos limites ao dizer que as termelétricas careciam de combustível. Em tese essa falta de combustível, segundo a matéria, deveu-se às decisões judiciais que impediram o reajuste das tarifas que já nos pesam em demasia no bolso. Atenção! Não se pode culpar o Judiciário pela falta de energia. Uma empresa pública como a Eletrobrás deve, mais do que outras, respeitar as decisões judiciais e dar cumprimento a elas, sem para isso apontá-las como causadoras dos nossos problemas. O funcionamento do Estado Democrático de Direito não pode ser desculpa para que as coisas não funcionem.

O que nós precisamos da Eletrobrás em Roraima é transparência.

Há uma Portaria do Ministério das Minas e Energia, assinada pelo então Ministro Edson Lobão, de 05 de maio de 2013. Nela em seu art. 3º e parágrafos, foi autorizada a contratação de geração de energia, via Chamada Pública, em caráter emergencial, até quando formos interligados ao Sistema Interligado Nacional, ou sejam, a Eletrobrás em Roraima pode contratar a geração de energia em Roraima, até a chegada do linhão de Tucuruí.

Pergunta-se: houve contratação? Em caso afirmativo, existem pessoas jurídicas de direito privado contratadas? Quais e quem são seus proprietários? Quais os termos dos hipotéticos contratos? Caso existam, há a exigência de que toda a nossa demanda seja atendida?

Se não houve contratações, por que elas não ocorreram para que a demanda toda fosse atendida, já que existe autorização legal para que ocorra?

Essas e outras perguntas merecem e devem ser respondidas. Não podemos nos valer de frases incoerentes ou desconexas que nada esclarecem sobre o que está acontecendo.

Os órgãos estatais de fiscalização podem e devem agir, e a população não deve se calar.

Chega de precariedade, de prejuízos, de sofrimento e de desculpas sem fundamentos sólidos.

Queremos transparência quanto à gestão dos serviços públicos em todas as suas dimensões e esferas.

*Defensor Público

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Mente aberta – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A mente humana é como um paraquedas: só funciona quando aberta”.

Sinceramente, gostaria, e muito, de bater um papo bem ameno neste fim de semana. Chega de nojeiras. Mas, caí na tolice de abrir o primeiro caderno do jornal Folha de São Paulo, ontem pela manhã. E não há como ficar tranqüilo lendo um estardalhaço de irregularidades vindas dos nossos políticos e administradores públicos. Saí, com a dona Salete, descemos a Rua Andiara, fomos até a feirinha e compramos duas bananas para o almoço.

Aí começou a chover o que a dona Salete chama de chuvisco. Voltamos para casa e enquanto ela fritava as bananas sentei-me aqui para esse papo vazio. Mas sei que você vai suportá-lo.

Sob o chuvisco e com a cara amarrada, comecei a pensar como nossos políticos são tolos. Por que eles não vão pra Roraima? Foi o que pensei e fiquei triste, porque você vai pensar que estou ridicularizando meu Estado.

Nada disso. Apenas isso me ocorreu porque me lembrei do quanto a justiça continua esperneando sem resultado, com os casos absurdos, apelidados de Gafanhotos. De repente a justiça manda prender um acusado famoso. Mas quando a polícia chega ele some. E procura, e procura e nada de achar. Então deixa pra lá. Fica para a próxima vez. Mas não pode ficar assim. Então prende aquelas três mulheres. Mas não pode mencionar os nomes delas, ta? A notícia pode correr o mundo todo, mas sem os nomes tá?

Finalmente as bananas estão fritinhas da silva. Vamos almoçar tranquilos e sem pensar em corrupção, para não corromper nossas almas. Prefiro pensar nos recados que devo deixar para meus netos e bisnetos, sobre o que devemos fazer para mudar esse cenário nauseante. Aí me lembrei da frase do Victor Hugo, que é a frase favorita do Rodrigo Baraúna: “devemos ser o que não somos, mas sem deixar de ser o que somos”. Fazer do Brasil nosso berço inspirador. Porque, queiramos ou não, somos nós os responsáveis pelo desmando na nossa administração. Estamos mais preocupados com o aprimoramento da língua inglesa na nossa cultura do que com a língua portuguesa. Já reparou nisso? Adorei a frase do cronista da Folha de São Paulo, Antônio Prata, sobre o percussionista Naná Vasconcelos: “Se o Naná fosse americano, o Brasil estaria de luto”. Já pensou nisso? Se você conhecia o Naná, você é uma pessoa privilegiada. Porque o brasileiro está ficando alienado quanto à nossa cultura. E não há cultura sem educação. E ainda não aprendemos que: “A educação é como a plaina: aperfeiçoa a obra, mas não melhora a madeira”. Então vamos cuidar de nos aprimorar para que sejamos realmente cidadãos. Pense nisso.

*Articulista – [email protected] – 99121-1460 

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ESPAÇO DO LEITOR

NOTA Em relação ao programa Nota Fiscal Roraimense, do governo estadual, o leitor Luiz Carlos Guimarães de Almeida escreveu: “Quero chamar a atenção da Sefaz para o programa CPF na Nota, já que os supermercados não estão facilitando que o cliente tenha acesso ao cadastro do CPF. No bairro Pintolândia tem um estabelecimento que possui cinco caixas, mas só um funciona cadastrando o documento. Em outro do bairro União, dos nove caixas, apenas dois funcionam. Isso não está restrito apenas a supermercados. No Centro, uma loja de franquia nacional está limitando em R$ 40,00 para que o cliente posa acrescentar o CPF. Um absurdo que precisa ser fiscalizado”.

GARISobre a agressão sofrida por um gari, na tarde de quinta-feira, por um grupo de estudantes de uma escola estadual, a leitora Sonia Freitas Silva, comentou: “É inacreditável isso, um trabalhador lutando pelo pão de cada dia com certeza sofreu preconceito por ser gari e revidou. Esse estudante não tem o mínimo de educação. Que ridículo. Vocês deveriam estar em sala de aula em vez de estar atrapalhando e agredindo quem está trabalhando dignamente e garantindo o sustento de sua família”.

EXAMEA internauta Antonia Cleide Alves Pereira opinou sobre a proposta do Detran/RR em buscar na Justiça a anulação do exame toxicológico para obtenção da CNH: “Discordo com a medida em suspender a exigência do exame toxicológico. O que tem que ser feito é ampliar a exigência para outras categorias, e assim reduzir estes altos índices de acidentes com vítimas fatais. É bem sabido que muitas situações acontecem devido à imprudência e ao uso de bebida e drogas pelos condutores”.

ENERGIA“O que existe é muita conversa e nada de solução para esta crise energética. Faltam uma ação política e um consenso para destravar esta limitação, já que, antes de interesses indígenas, como entende o Ministério Público Federal, temos o Estado de Roraima e sua população que não podem ficar a mercê de um abastecimento de outro país que está em extrema falência. Será que é difícil entender isso?”, indagou Yuri Fernando Alonso Lima.