O mundo dos ídolos – Jessé Souza*
As redes sociais acabaram por privilegiar a superficialidade que é exigida pela velocidade das postagens. Não há mais tempo para reflexão e estudo de um tema. Todos querendo impor de forma rápida e contundente seu ponto de vista muitas vezes na base da imposição, do grito, digamos assim, tornando o que seria um debate em algo beirando ao histerismo.
Como faltam argumentos e muitas vezes conhecimento mais profundo, apelam para a questão moral, buscando na religião o enquadramento do outro. E não é à toa que pastores televisivos conquistam mentes e corações para aumentar seus patrimônios terrenos, tudo na base da exploração do discurso com base na moral.
Quando a religião se mete nos debates, começam a surgir os ídolos eleitos por aqueles que defendem uma ideia ou um pensamento. Então, a Bíblia passa a ser usada para apontar quem é “bom” e quem é “mau”, quem vai para o “céu” e quem vai para o “inferno”, quem está “certo” e quem está “errado”.
Nesse bolo, existem decididamente os que são preconceituosos, os racistas, os homofóbicos, fascistas, neonazistas… Então, o discurso baseado na moral cristã acaba servindo para alimentar esses comportamentos reprováveis do ser humano, alimentando ídolos de todos os tipos.
É assim que está o Brasil, com ídolos eleitos como solução para tudo, na religião, na política, na mídia e no entretenimento. Então começam as divisões, pois os ídolos passam a ser seguidos de forma cega, apontados como a “salvação” para todos os problemas, assim como ocorre na religião.
O perigo é quando esses ídolos absorvem esses ares cegos de seus seguidores e passam a se achar semideuses, como já ocorreu ao longo da História da Humanidade – e Hitler, na Alemanhã, é apenas um deles, para citar um dos mais famosos.
Na política brasileira está ocorrendo exatamente isso: a criação e culto de ídolos. É como se o cidadão deixasse de ser o detentor do poder de contribuinte e de eleitor para entregar o controle de tudo nas mãos de seu ídolo, o que vai “salvar o Brasil”, o que vai “limpar a corrupção”, o que vai “comandar a política”, o que “vai liderar o bem contra o mau”.
Estamos em um limiar perigoso, pois a idolatria, assim como na religião, produzem monstros e falsos deuses. E a História está cheia de deuses que levaram o mundo para um lado obscuro. No Brasil, já existem ídolos que se comportam acima de tudo e de todos, inclusive acima da Constituição. E isso vale tanto para Lula quanto para o Moro. É necessário cair na realidade, pois corremos sérios riscos…
*Jornalista – Acesse: www.roraimadefato.com/main